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Apesar da popularidade, as críticas ao presidente mexicano López Obrador não cessaram

Desde antes de assumir o poder o presidente López Obrador tem sido sujeito de críticas diversas, e em sua maior parte irresponsáveis
Enrique Calderón Alzati
La Jornada
Cidade do México

Tradução:

Apesar de sua grande popularidade e simpatia mostrada nas eleições, às quais pode ganhar com uma maioria histórica, desde antes de assumir o poder o presidente López Obrador tem sido sujeito de críticas diversas, e em sua maior parte irresponsáveis, que é possível dividir em três grupos essencialmente diferentes:

O primeiro grupo, provenientes do sistema dominante, constituído pelos ex-presidentes, seus colaboradores e os grupos empresariais mais importante da República, identificados todos com o modelo neoliberal, da mesma forma que os meios de comunicação financiados pelas anteriores administrações, e principalmente por aqueles que têm seus interesses afetados pelas políticas e medidas adotadas pelo atual governo.

O segundo grupo é constituído por articulistas associados a alguns meios de comunicação, cujo ofício consiste em criticar os governos e os grupos políticos independentemente dos interesses, valores éticos e ideias que eles representem, pensando seguramente que se não o fizerem deixarão de cumprir uma função que é parte fundamental da democracia.

O terceiro, é hoje o dos grupos e personagens de esquerda que queriam que as mudanças se dessem desde o momento em que assumisse um presidente da oposição e de alguma maneira identificado com a esquerda, como é o caso atual; ele deveria resolver de imediato os variados problemas que existem em nosso país, depois de tantos anos em que os princípios e os ideais da Revolução Mexicana foram deixados de lado.

Desde antes de assumir o poder o presidente López Obrador tem sido sujeito de críticas diversas, e em sua maior parte irresponsáveis

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O presidente mexicano López Obrador

Em relação com o primeiro grupo, empenhado em criticar todas as decisões e ações, quer se trate do combate ao huachicoleo, do fechamento de creches que não cumprem com requisitos de segurança para as crianças, da construção do Trem Maia, ou de convidar os chefes do estado espanhol a se desculparem ante os povos indígenas pelo tratamento que deram aos povos originários desde a conquista e durante os três séculos da Colônia, me parece claro que qualquer discussão da minha parte seria uma perda de tempo. Com relação ao segundo, embora não esteja de acordo com parte de suas críticas e de suas razões para fazê-las públicas, considero que estão em seu direito de dissentir e inclusive de apontar as decisões do Presidente que consideram incorretas, inadequadas ou suspeitas quanto a suas motivações. 

Mas existe um terceiro grupo de personagens que considero progressistas ou revolucionários cujas críticas a López Obrador me parecem difíceis de validar em virtude de sua experiência majoritariamente acadêmica. Tal é o caso de Ilán Semo, que em um artigo publicado na semana passado com o título Pensamiento Criollo nas páginas de La Jornada escreveu: Tem algum sentido demandar uma desculpa por um acontecimento, como a Conquista do Anáhuac, que sucedeu há mais de cinco séculos? Parece que não. Pelo menos à primeira vista. Sem negar que se trata de uma crítica séria, considero que neste caso, esse articulista que admiro e respeito tem no seu artigo uma resposta à sua própria pergunta, pois uma das finalidade do Presidente foi conseguir que este tema, fundamental para a sociedade mexicana, seja discutido por seus membros em busca de uma resposta, adquirindo de passagem conhecimentos fundamentais que a maior parte dos mexicanos não temos, e isso seguramente é o que fez Ilán Semo com seu artigo ao discutir o tema e dar seu ponto de vista; se a mesma coisa fosse realizada por outros mestres seria muito o que estaríamos aprendendo, nós que conformamos a sociedade mexicana. Domingo passado, La Jornada publicou também um artigo magistral do doutor Pablo González Casanova, um dos grandes pensadores de nosso tempo, no qual faz uma crítica muito séria ao Presidente, afirmando que ele se equivocou em seu diagnóstico sobre a corrupção, já que ela é só uma consequência natural do neoliberalismo, que constituiu o elemento central e gerador desta lacra social. Em minha opinião, o que está propondo o ex-reitor da UNAM é a necessidade de enfocar os esforços atuais, não para combater a corrupção, mas sim o neoliberalismo.

Pessoalmente discordo desta opinião, pois a corrupção da mesma forma que a impunidade têm existido em nossa sociedade não só no período de governos neoliberais, os quais surgiram a partir do mandato de Miguel de la Madrid; no entanto, muitos dos fatos ocorridos em tempos de Plutarco Elías Calles, de Miguel Alemán Valdez, ou de José López Portillo, foram indubitavelmente atos de corrupção alheios ao neoliberalismo. Estando totalmente de acordo com dom Pablo na necessidade de combater o neoliberalismo, considero necessário dizer que uma luta frontal contra esta corrente política é bastante mais complexa e difícil na medida em que envolve outros fatores econômicos mais complexos e politicamente mais poderosos. 

Em resumo, minha humilde opinião é de que a luta contra a corrupção constitui uma ação que busca terminar com uma prática perversa que há danificado profundamente a nação, e que está nas mãos do Presidente corrigir com nossa ajuda e apoio, enquanto que a luta contra o neoliberalismo requer esforços internacionais que ultrapassam por agora a capacidade do Presidente e talvez do país inteiro; por ora Andrés Manuel López Obrador tem dado suficientes mostras de estar conseguindo mudanças da maior importância e significado em várias frentes. Seguramente, desde a ótica acadêmica há muitos que pensam que isso não é suficiente; no entanto, na realidade os problemas costumam ser algo mais complexos e nesse entorno mais vale o passo que dure…

Tradução: Beatriz Cannabrava


As opiniões expressas neste artigo não refletem, necessariamente, a opinião da Diálogos do Sul.
Enrique Calderón Alzati

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