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Presidente de El Salvador toma posse e diz que país precisará de "remédios amargos"

Para opositores, o discurso de Nayib Bukele usa uma linguagem neoliberal que anuncia retrocessos nas políticas sociais
Redação Brasil de Fato
Brasil de Fato
São Paulo (SP)

Tradução:

Nayib Bukele tomou posse nesse sábado (01) como presidente da República de El Salvador. Eleito em fevereiro deste ano, o empresário direitista assume a presidência em um contexto de graves problemas sociais e econômicos.

Em seu discurso de posse, realizado no Palácio Nacional (sede do governo), Bukele adotou um discurso menos exaltado do que em suas intervenções anteriores, mas manteve a imprecisão que marcou sua campanha política, sem apresentar medidas concretas. O presidente recém-empossado anunciou apenas que o país passará por “momentos difíceis”.

“Nosso país é como uma criança doente, agora cabe a todos nós cuidar dela, tomar alguns remédios amargos, sofrer, sentir um pouco de dor para fazer crescer esta criança que é o nosso país, El Salvador. Teremos momentos difíceis, mas espero que vocês me acompanhem para tomar essas decisões com valentia”, declarou.

Ao final da posse, a Frente Farabundo Martí para a Libertação Nacional (FMLN), partido do qual Bukele foi expulso e seu principal opositor atualmente, respondeu ao discurso do presidente questionando o que ele quis dizer com “remédios amargos”.

Na nota enviada ao governo, a FMLN afirma que “esta linguagem neoliberal costuma estar associada a medidas como aumento de impostos, demissões massivas, retrocessos nos programas e conquistas sociais e diminuição da qualidade de vida da população”.

Embora as expectativas para a revelação da composição de sua equipe ministerial fossem alta, a nomeação dos ministros foi realizada em uma cerimônia privada e os meios de comunicação nacionais e internacionais cadastrados para a cobertura da posse não puderam participar.

Para opositores, o discurso de Nayib Bukele usa uma linguagem neoliberal que anuncia retrocessos nas políticas sociais

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Nayib Bukele tomou posse nesse sábado

Relações Exteriores

Entre os líderes regionais que assistiram à posse do novo presidente salvadorenho nesse sábado (01) estão os presidentes Evo Morales, da Bolívia, Juan Carlos Varela, do Panamá, Ivan Duque, da Colômbia, Danilo Medina, da República Dominicana, Jimmy Morales, da Guatemala, e Carlos Alvarado, da Costa Rica.

Através de sua conta no Twitter, o presidente estadunidense, Donald Trump, parabenizou Bukele pela posse. “Os Estados Unidos estão preparados para trabalhar com Nayib Bukele para promover a prosperidade em El Salvador e no hemisfério”, declarou o direitista.

As projeções para as relações exteriores no governo de Bukele indicam que, possivelmente, a política exterior do novo governo estará mais alinhada aos EUA, já que durante a campanha o presidente eleito se reuniu com a embaixadora do país e atualmente mantém um diálogo próximo com John Bolton, assessor de Segurança Nacional da Casa Branca.

Nos últimos anos, El Salvador restabeleceu relações com Cuba e China e reconheceu o Estado palestino, algo que era considerado uma dívida histórica, já que o país centro-americano é um dos que têm maior descendência palestina na região.

O pai de Nayib Bukele, Armando Bukele Kattán, foi um dos expoentes da causa palestina no país, e seu irmão, Yamil Bukele, herdou a causa do pai.

Analistas consideram que, diante das origens de Bukele e de sua aproximação com EUA, não é possível definir qual será sua posição diante da pressão do país norte-americano de exigir que os alinhados mudem suas embaixadas de Tel Aviv para Jerusalém.

Em relação à Venezuela, Bukele já expressou, mais de uma vez, que não reconhece o governo do presidente eleito, Nicolás Maduro, e é provável que seu alinhamento a Washington se desdobre no apoio a sanções políticas e econômicas impostas ao país sul-americano e no reconhecimento do autoproclamado presidente Juan Guaidó como seu representante.

Perfil

Com apenas 37 anos, o futuro presidente salvadorenho será o mais jovem mandatário do país centro-americano. Pelo seu perfil jovem, pertencente a uma família enriquecida e hiperconectado, é considerado um “millenial de direita”, características encontradas em outras figuras da política na América Latina como, por exemplo, Juan Sartori, um empresário multimilionário de 38 anos e pré-candidato à presidência do Uruguai.

Bukele foi eleito no dia 4 de de fevereiro com 53,78% dos votos, vencendo Carlos Callejja, da Aliança Republicana Nacionalista (Arena), que obteve 31,62%, e Hugo Martínez, representante de seu ex-partido, o governista Frente Farabundo Martí para a Libertação Nacional (FMLN), que obteve 13,77% dos votos.

O presidente eleito, que assume o cargo oficialmente em 1º de junho, concorreu pela Grande Aliança pela Unidade Nacional (GANA), partido de direita com apenas nove anos de existência. A vitória colocou fim aos 30 anos de alternância presidencial entre o Arena (1989-2009) e a FMLN (2009-2019).

A eleição do publicitário de 37 anos guarda algumas semelhanças com a que ocorreu no Brasil em 2018. Além de se lançar como uma suposta alternativa ao bipartidarismo histórico de El Salvador, entoando um discurso antipolítica, o então candidato se recusou a participar dos debates e contou com uma campanha pautada no combate à corrupção, quase inteiramente feita por meio de redes sociais.

Embora tenha concorrido à presidência como um candidato não tradicional, a carreira de Bukele despontou a partir do interior da FMLN. Em 2012, o agora presidente eleito se tornou prefeito de Nuevo Cucatlán, ao vencer as eleições contra Álvaro Rodríguez, do Arena, que concorria à reeleição. No pleito, o então candidato financiou a própria campanha. Em 2015, ano em que ganhou maior projeção, foi eleito prefeito da capital de El Salvador, San Salvador, também pela FMLN.

Dois anos depois, Bukele foi acusado de agredir física e verbalmente Xochitl Marchelli, a líder de uma comuna de San Salvador e integrante da FMLN. Além de pesar sobre ele a acusação de agredir uma mulher, Bukele também dirigiu ofensas ao atual mandatário de El Salvador, Salvador Sánchez Cerén.

Na ocasião, o partido justificou a expulsão de Bukele por ter realizado “atos difamatórios, caluniosos e injuriosos que danificam a imagem e a honra de uma pessoa membro ou militante do partido”.

*Com informações do Nodal e da HispanTV.

Edição: Luiza Mançano

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As opiniões expressas neste artigo não refletem, necessariamente, a opinião da Diálogos do Sul.
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