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Crescimento da intenção de voto em líder indígena assusta elite na Guatemala

Ambiente eleitoral "esquenta" por causa da inédita efervescência em torno da candidata Thelma Cabrera que, além de ser mulher, é indígena
Carolina Vásquez Araya
Diálogos do Sul
Cidade da Guatemala

Tradução:

A lista de candidaturas para presidente, para deputados e prefeitos no processo eleitoral desenvolvido na Guatemala é uma amostra irrefutável da falta de participação da cidadania na depuração de suas instituições, incluindo nelas uma das mais importantes na hora de eleger representantes, como são os partidos políticos.

Criados e organizados em sua maioria por personagens poderosos, mas de duvidosas intenções, os partidos possuem o monopólio do poder político graças a uma lei mediante a qual se obstaculiza a participação de líderes populares independentes e impõem listas elaboradas de acordo com a conveniência de seus dirigentes. 

No entanto, o ambiente eleitoral começa a se esquentar por causa da inédita efervescência em torno de uma candidata que, além de ser mulher, pertence à historicamente marginalizada população indígena da Guatemala.

Não é de estranhar, portanto, o estupor de certa sociedade capitalista, urbana, ladina e profundamente racista, cujos parâmetros para medir “o correto e aceitável” não permitem admitir os direitos de uma importante parte da população a dirigir os destinos do país ao qual pertence.

Ou seja, os marginalizados não apenas deveriam continuar nesse estado, mas além do mais aceitar em silencio e sem protestar as normas impostas por um punhado de poderosos empresários e políticos cuja incidência em assuntos de Estado tem sido catastrófica para todos, exceto para eles.

Ambiente eleitoral "esquenta" por causa da inédita efervescência em torno da candidata Thelma Cabrera que, além de ser mulher, é indígena

Prensa Latina
Thelma Cabrera e Neftalí López Miranda formam a chapa do MLP

É lógico supor o temor que desperta em certo setor da sociedade a perspectiva de uma mudança tão rotunda no cenário político. A história do país tem sido repleta de abusos e regida por um sistema cujos resultados estão à vista: saque de fundos públicos; roubo de território ancestral das comunidades indígenas; exclusão de quase metade da população; exploração laboral em níveis de escravidão; desnutrição aguda e crônica da infância indígena e rural; morte materna e uma perseguição constante contra a organização comunitária, ao extremo do assassinato de seus dirigentes e o cárcere pela defesa do território e dos recursos naturais. 

Há muito tempo os analistas mais lúcidos estão pregando a necessidade imperiosa de realizar mudanças profundas no modo de governar a Guatemala.

Hoje, com um crescimento inesperado da intenção de voto por uma candidata indígena cuja personalidade e programa de governo têm conquistado um espaço importante no cenário eleitoral, fica demonstrado o fato de que o abuso de poder tem um limite, por mais obstáculos que se oponham à reação popular. Nesta ocasião, o rechaço às obscenas manobras dos corruptos para impedir a livre expressão da vontade do povo começa a marcar as jornadas prévias ao evento.

A incógnita é de que forma vão se desenvolver os pactos e acordos entre aqueles que representam a corrente “anticorrupção” e quantos candidatos terão que renunciar às suas pretensões presidenciais para engrossar o apoio a apenas um e dar um rumo à situação de extrema fragilidade na qual se encontra a democracia na Guatemala.

Por agora, alguns se pronunciaram em tal sentido, mas falta muito pouco para abrir as urnas e votar. Por isso, não será suficiente concertar um pacto; para alcançar o êxito será imprescindível chegar ao coração da cidadania com uma mensagem de unidade capaz de despertá-la da letargia em que se encontra.

Uma tarefa titânica sem um concurso dos meios massivos de comunicação, cuja maioria (sobretudo a televisão aberta) se encontra dedicada a mentir e proteger os abusos do Pacto de Corruptos.

Necessita-se uma cidadania consciente e alerta para seguir a rota correta e vencer.

*Colaboradora de Diálogos do Sul da Cidade da Guatemala

Tradução: Beatriz Cannabrava

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As opiniões expressas neste artigo não refletem, necessariamente, a opinião da Diálogos do Sul.
Carolina Vásquez Araya Jornalista e editora com mais de 30 anos de experiência. Tem como temas centrais de suas reflexões cultura e educação, direitos humanos, justiça, meio ambiente, mulheres e infância

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