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Educação e muita leitura são os melhores antídotos contra a opressão das elites

O hábito da leitura é uma arma poderosa contra a opressão, um povo que lê é capaz de analisar, refletir e depois decidir com inteligência
Carolina Vásquez Araya
Diálogos do Sul
Cidade da Guatemala

Tradução:

O hábito da leitura é uma arma poderosa contra a opressão. Isso explica por que em muitos países latino-americanos se levantam, a partir dos centro de poder política e econômico, obstáculos à educação de seus povos com o objetivo de manter a população submetida a regimes de exploração e carente das ferramentas cognitivas que poderiam proporcionar os espaços críticos e de reflexão próprio de uma cidadania ativa. Os exemplos abundam, sobretudo em nações como a Guatemala, o Brasil e o Chile, com governos conservadores aliados de um sistema neoliberal desenhado na medida dos interesses de suas cúpulas de poder econômico. Neles, o recorte de programas de ensino e a falta de investimento em educação respondem à agenda daqueles que definem essas políticas a partir da classe empresarial. 

Algo predominante no discurso governamental da maioria de nossos países é a explicação do fenômeno da pobreza a partir de variáveis sociais e econômicas. Ou seja, de acordo com sua elaboração da realidade, as pessoas pobres são pobres porque assim está estratificada a sociedade.  Em nenhum caso entre em discussão o tema fundamental: o acesso ao aprendizado através de políticas públicas orientadas a fortalecer o acesso à educação desde os setores mais necessitados com infraestrutura adequada, redes de bibliotecas e programas educativos atualizados e eficazes, complementados com atividades de promoção da leitura com o propósito de criar o hábito desde a infância, um dos exercícios fundamentais para o desenvolvimento da mente e das capacidades intelectuais. 

O hábito da leitura é uma arma poderosa contra a opressão, um povo que lê é capaz de analisar, refletir e depois decidir com inteligência

Mediun
O hábito da leitura é uma arma poderosa contra a opressão

Em um ambiente de privação de recursos educativos e de lazer, portanto, uma atividade como a Feira Internacional do Livro da Guatemala (Filgua) é um sopro de oxigênio para uma atmosfera contaminada. Este ano, declarado pelo ONU como o ano Internacional das Línguas Indígenas, a Feira está dedicada ao grande poeta k’iche’ Humberto Ak´abal (1952-2019) e conta com a presença do México como país convidado. Em seu amplo programa de atividades, Filgua 2019 oferecerá ao público no próximo mês de julho – especialmente para a infância e juventude da Guatemala – a oportunidade de viver uma série de experiências de enriquecimento intelectual e de explorar o amplo universo literário oferecido por este evento que cumpre sua XVI edição. 

Filgua é uma das escassíssimas iniciativas de caráter popular para a promoção da leitura na sociedade guatemalteca, à qual têm acesso milhares de estudantes de todos os níveis. Seus salões oferecem uma enorme variedade de atividades de interesse para distintos grupos e foi se consolidando através dos anos como um centro de encontro para leitores, escritores, acadêmicos e artistas. Como um dos países da América Latina com o mais pobre investimento estatal em cultura, esta iniciativa da Gremial de Editores representa uma janela importante para o mundo do conhecimento e das letras. 

A infância e a juventude da Guatemala merecem muito mais e a cidadania tem a obrigação de exigir às suas autoridades o pagamento de uma dívida histórica em educação e apoio às artes como uma das colunas sobre as quais se erige uma nação livre e democrática, uma nação cujos habitantes sejam parte do projeto. Um povo sem cultura, privado do acesso ao conhecimento e sem as capacidades intelectuais básicas para incidir em seu futuro será incapaz de superar as dificuldades e ultrapassar com segurança os limites que lhes foram impostos tão injustamente. 

*Colaboradora de Diálogos dos Sul da Cidade da Guatemala

Tradução: Beatriz Cannabrava

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As opiniões expressas neste artigo não refletem, necessariamente, a opinião da Diálogos do Sul.
Carolina Vásquez Araya Jornalista e editora com mais de 30 anos de experiência. Tem como temas centrais de suas reflexões cultura e educação, direitos humanos, justiça, meio ambiente, mulheres e infância

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