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Bolsonaro, Trump e Netanyahu: quando a palavra é a principal arma de guerra

Confrontação hoje é infinitamente potencializada com o uso de inteligência artificial e as redes de computadores a serviço da internacional fascista
Paulo Cannabrava Filho
Diálogos do Sul
São Paulo (SP)

Tradução:

Por que tanta bobagem circulando nos meios de comunicação tradicionais e nas redes sociais na web? Tem sentido tanta polêmica em torno de absurdos como igualar nazismo e comunismo e dizer que nazismo é de esquerda? 

Aprenderam isso onde? Esse tipo de argumento já foi desmentido até pelos sionistas amigos desses que agora ocupam o Palácio do Planalto. O Museu do Holocausto reafirmou que o nazismo é de ultradireita. E nós podemos acrescentar, além disso, que foi derrotado pelos comunistas da União Soviética e pelos movimentos de resistência em cada país ocupado pelo nazismo.

Ocorre que estamos diante de uma guerra cultural e psicológica, cuja principal arma é a palavra, hoje infinitamente potencializada com o uso de inteligência artificial e as redes de computadores.

Àqueles que qualificam o governo Bolsonaro de fascista, a militância virtual reage dizendo que são acusações falsas produzidas pelos esquerdistas, alegando que estes seriam o mesmo que nazistas.

Essa estratégia foi bem estudada e estruturada pela empresa britânica Cambridge Analytica. Com a polêmica aberta em torno de bobagens como essas, eles estão cometendo todo tipo de maldades. 

O foco, no lugar de ser as mentiras com que sustentam a reforma da Previdência, fica sobre coisas irrelevantes. O que importa para um público analfabeto funcional: a política macroeconômica, os royalties do pré-sal ou a escola que supostamente ensina sexo para as criancinhas? 

São técnicas de reversão de expectativas desenvolvidas há mais de 50 anos de expansionismo territorial, econômico e cultural dos Estados Unidos.

Essa técnica foi utilizada, no Brasil, para transformar o PT no demônio da vez. Fizeram isso com João Goulart e, depois da Constituição Cidadã de 1988, o alvo  foi Leonel Brizola. Bem antes, na Indonésia, essa tática de reversão de expectativa custou a vida de dois milhões de militantes ou simpatizantes do partido comunista.

Veja a linguagem dos mais radicais entre os bolsomilitaristas e olavetes (seguidores do astrólogo Olavo de Carvalho). Dizem abertamente que deveriam matar a todos os esquerdistas. Há elementos de sobra contra esse governo de ocupação. Só falta uma Frente de Salvação Nacional para acabar com isso.

Confrontação hoje é infinitamente potencializada com o uso de inteligência artificial e as redes de computadores a serviço da internacional fascista

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Bolsonaro, Trump e Netanyahu

Estado sionista

Intelectuais judeus me ensinaram a não misturar o povo com a cúpula sionista — brancos de origem europeia que transformaram o sionismo numa continuidade do nazismo. Ou não é nazismo o nacionalismo xenófobo, o supremacismo (em um Estado feito só judeus), a militarização do Estado e o expansionismo agregando território pela força?

O sionismo voltar seu ódio contra povo palestino é algo incompreensível, sendo judeus e palestinos povos semitas descendentes de um mesmo avô. Essa realidade deixa claro outra. O Estado sionista funciona como uma cabeça de praia, um posto avançado do imperialismo numa área estratégica, seja como produtora de petróleo, seja como rota para o petróleo e o comércio mundial.

Thomas Friedman, do New York Times, corrobora nosso raciocínio. Em matéria intitulada Bibi Trump e Donald Netanyahu, coloca os dois no mesmo plano de perpetuação no poder a serviço de uma causa global da fascistização ou nazificação dos Estados.

Donald Trump e o premiê Benjamin Netanyahu são essencialmente a mesma pessoa. Ambos são homens totalmente desprovidos de vergonha, apoiados por partidos sem dignidade e protegidos por nichos da grande mídia totalmente sem integridade. Ambos são bancados por um magnata dos cassinos de Las Vegas, Sheldon Adelson. Ambos apoiam uma causa republicana em Israel. Podem atirar num inocente em plena luz do sol na Quinta Avenida e seus apoiadores dirão que são vítimas.

É por isso que acredito que mais quatro anos para Netanyahu e mais seis para Trump, uma possibilidade real, levará ao surgimento de um Estados Unidos e uma Israel que, no que diz respeito à civilidade, democracia, judiciário e mídia independente, não serão mais exemplos a serem seguidos. 

O nacionalismo populista e xenófobo de Trump e Netanyahu corresponde a uma certa lógica. E, atenção! A internacional fascista se articula para as eleições europeias que transcorrerão em maio próximo. 

As ideias são as seguintes:

–      os estrangeiros são os inimigos que vêm tirar nosso emprego e são contra a existência do nosso país (no caso de Israel);

–      querem liquidar nossa soberania (Victor Orban, na União Europeia);

–      Brexit (saída do Reino Unido da União Europeia); 

–      America First (fazer os EUA grande de novo, de Trump).

O bolsomilitarismo brasileiro é às avessas. O inimigo é interno e o salvador são os Estados Unidos. Coisa de louco, porque se considerarmos a verdade histórica, veremos que os EUA são o pior inimigo.

Terá o Exército nacional se transformado em tropa pretoriana, tropa de ocupação a serviço do império? Como é possível que o Exército seja conivente com a destruição do parque industrial e a entrega das riquezas naturais, inclusive das áreas mais delicadas para a segurança nacional para os Estados Unidos?

 *Paulo Cannabrava Filho é editor da Diálogos do Sul


As opiniões expressas neste artigo não refletem, necessariamente, a opinião da Diálogos do Sul.
Paulo Cannabrava Filho Iniciou a carreira como repórter no jornal O Tempo, em 1967. Quatro anos depois, integrou a primeira equipe de correspondentes da Agência Prensa Latina. Hoje dirige a revista eletrônica Diálogos do Sul, inspirada no projeto Cadernos do Terceiro Mundo.

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