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Qual o pacto possível em uma economia neoliberal que prega a destruição do Estado?

A juventude, historicamente estopim de revoltas e manifestações, ocupou as ruas para exigir educação e protestar contra a destruição da previdência pública
Paulo Cannabrava Filho
Diálogos do Sul
São Paulo (SP)

Tradução:

É preciso estabelecer um pacto pela governabilidade. Temos que escolher: melhor um pacto para salvar o sistema neoliberal ou um novo pacto em torno de um projeto nacional de desenvolvimento e recuperação da soberania?

Diante da governabilidade impossível, o sistema já fala em Pacto. Mas que sistema é esse?

É o sistema da ditadura do capital financeiro imposta a partir de 1980, radicalizada com a tomada do poder em outubro de 2018, pelas Forças Armadas em um processo disfarçado de eleição.

Essa democracia de fancaria é ingovernável desde que foi implantada a República em 1889. Provamos isso no livro A Governabilidade Impossível, editado pela Alameda antes das eleições, exatamente para mostrar que estávamos diante de uma eleição fraudulenta que derivaria na ingovernabilidade.

Entramos no sexto mês de um governo que só governa por decreto, não se entende com o resto das instituições do Estado. Agora, com a economia do país paralisada pela incompetência e a incúria desse governo de ocupação e de um Congresso dominado pelo lumpesinato do Centrão e do baixo clero, falam em Pacto para sair da imobilidade.

É o próprio sistema que está propondo o pacto.

Diante disso, esquerda e direita assistem, pasmas, como que perdidas no limbo, ambas sem projeto, sem ambição por mudança, sem imaginação. Ficam a ver navios das janelas dos edifícios — não é sequer do cais do porto. Um distanciamento total da realidade.

Não foram capazes (ou não quiseram?) de detectar que a eleição foi uma operação de inteligência das forças armadas para captura do poder, portanto fraude.

Veja também:

Não foram capazes de denunciar (ou não quiseram?) o abuso de poder econômico com práticas abusivas como a de forçar empregados a votar num candidato para manter o emprego. Ilicitude que comprova fraude. Nada fizeram para denunciar a participação de estrangeiros na manipulação eleitoral, crime que comprova fraude.

Perderam a oportunidade de pleitear na Justiça Eleitoral a anulação da eleição por fraude, manipulação das consciências, abuso do poder econômico e presença de estrangeiros no desvio da finalidade eleitoral..

A juventude, historicamente estopim de revoltas e manifestações, ocupou as ruas para exigir educação e protestar contra a destruição da previdência pública

Foto: Marcos Corrêa/PR
É o próprio sistema que está propondo o pacto.

Não foram capazes (ou não quiseram?) de entender que a miríades de partidos na disputa eleitoral faz parte do jogo para continuidade do sistema e não fizeram a frente necessária para disputar a eleição. Continuam incapazes de entender a situação atual, de suma gravidade, ou, se entendem, se fazem indiferentes, retardando a formação de uma Frente de Salvação Nacional contra a ditadura do capital financeiro, em torno de um projeto de reconstrução nacional cultural e economicamente

Essa incapacidade de identificar o inimigo principal, essa indiferença, essa pasmaceira é que vai garantir a continuidade desse sistema e dos que capturaram o poder pela fraude. 

É esse sistema, que só se sustenta pela força ou pela ausência de alternativas, é que está levando o país para o abismo da depressão. O Pacto entre os três poderes que estão propondo é para assegurar a permanência desse sistema. É um Pacto em torno de “pautas salvadoras” … como a reforma da Previdência, fim da educação e da saúde pública que exigem muito dinheiro, venda dos ativos e das riquezas minerais e florestais para fazer dinheiro e obter mais dinheiro no cassino global.

A inteligência que falta a eles para mudar de rumo é compensada pela ausência de unidade e projeto das forças democráticas e nacionalistas.

Quanto mais demorar para mudar as regras do jogo, derrotar a ditadura do capital financeiro e por a máquina produtiva para funcionar no lugar do capitalismo volátil do lucro fácil, mais difícil ficará retomar o desenvolvimento.

Desenvolvimento entendido como integral, sustentável, priorizando o ser humano e a natureza, o que implica em inclusão social, só possível com pleno emprego, educação e saúde públicas de qualidade.

A UNE e a UBES, que reúnem a juventude estudantil, historicamente o estopim das resistências e das rebeliões, já se manifestaram no dia 15 e de novo ocuparam as ruas no dia 30 de maio. A juventude exige Educação e protesta contra a destruição da Previdência pública.

Aí está o caminho. Defender a Educação pública de qualidade é defender um dos direitos inalienáveis da cidadania. Porém, essa Educação necessária, maiúscula, não será alcançada mantendo-se o atual sistema, mantendo-se a ditadura do capital financeiro, entreguista e antinatureza. 

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*Paulo Cannabrava é editor da Diálogos do Sul


As opiniões expressas neste artigo não refletem, necessariamente, a opinião da Diálogos do Sul.
Paulo Cannabrava Filho Iniciou a carreira como repórter no jornal O Tempo, em 1967. Quatro anos depois, integrou a primeira equipe de correspondentes da Agência Prensa Latina. Hoje dirige a revista eletrônica Diálogos do Sul, inspirada no projeto Cadernos do Terceiro Mundo.

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