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O que seria um governo Bolsonaro?

Um governo com esse perfil não apenas continuaria, mas radicalizaria a agenda adotada pelo atual governo, comandado por Michel Temer
João Marcio

Tradução:

O deputado Bolsonaro já se comprometeu com o “mercado” a entregar toda as decisões da área econômica ao grandes agentes privados, sob a hegemonia do capital financeiro (personificado no tal Paulo Guedes).

Pelas declarações do candidato, seria um governo comandado diretamente por homens de negócio comprometidos com a redução do “custo Brasil”, ou seja, com o aumento do lucro privado.

Um governo com esse perfil não apenas continuaria, mas radicalizaria a agenda adotada pelo atual governo, comandado por Michel Temer

Foto: Wilton Júnior / Agência Brasil
Pelas declarações do candidato, seria um governo comandado diretamente por homens de negócio comprometidos com o aumento do lucro privado.

Um governo com esse perfil não apenas continuaria, mas radicalizaria a agenda Temer, a fim de implantar:

1) A redução brutal dos custos de remuneração da força de trabalho (isto é, a redução do salário mínimo e o fim de diversos direitos trabalhistas combinadas com a deterioração das condições de trabalho, por meio da generalização do trabalho intermitente, da terceirização e do sucateamento da justiça do trabalho);

2) O fim das restrições legais à máxima exploração econômica dos recursos naturais, passando por cima de populações tradicionais e preocupações ambientais;

3) O sucateamento e a privatização da educação pública (mediante o desfinanciamento crônico de escolas e universidades, a implantação em massa do ensino à distância via empresas privadas, a substituição de concursos públicos para técnicos e professores pela contratação via terceirização, a redução drástica das bolsas de estudo, pesquisa e apoio à permanência nas universidades, a imposição de reitores pelo MEC contra a escolha democrática de comunidade acadêmica e a perseguição ideológica à liberdade de ensino e pesquisa);

4) O sucateamento e a privatização da saúde pública (mediante o desfinanciamento do SUS, a regulação fraca das empresas privadas de saúde, a generalização das parcerias público-privadas como modelo de gestão e a substituição de concursos públicos pela contratação temporária via terceirização);

5) O favorecimento à indústria armamentista (nacional e estrangeira), mediante a liberação do porte de armas e a prioridade orçamentária às demandas das polícias e das forças armadas;

6) Um modelo de segurança pública ainda mais belicoso, menos responsável perante a sociedade e menos responsabilizável juridicamente;

7) O alinhamento externo do Brasil aos EUA e a Israel, colocando o país numa agenda militarista que contraria a sua tradição diplomática e põe em risco a paz na região.

Além disso tudo, ainda teríamos uma reforma da previdência (que cortaria direitos para os de baixo, mas manteria privilégios para a elite estatal e os militares), uma reforma tributária que reforçaria a concentração de renda e riqueza, a privatização de empresas e bancos públicos e a fragilização das instituições de controle e investigação contra a corrupção.

Para implantar uma agenda desse tipo (os capitalistas de cima vão ampliar a “lei do cão” para os debaixo), só com intimidação, perseguição e violência.   Aquilo que a história registrou como  métodos fascistas.

Sobre o personagem que os capitalistas precisam.

Antes de tudo o Bolsonaro é uma azêmola, que nunca foi levado a sério, nem nas forças armadas. Ele só é confiável para o “mercado” (a burguesia, como se dizia não tão antigamente assim) se terceirizar todas as decisões estratégicas do seu eventual governo, ficando apenas com pautas secundárias para despejar as suas bravatas e lançar factóides à opinião pública.

Essa é a leitura dos agentes econômicos relevantes que estão pagando a conta da campanha dele. O problema (para eles) é que o Bolsonaro é despreparado até pra entender isso, o que coloca um horizonte de imprevisibilidade e incerteza para os “investidores” (os capitalistas). Ademais, o sujeito não tem base política sólida (o tal do PSL é um fenômeno de ocasião, sem consistência programática).

Por outro lado, o Bolsonaro carrega um ranço autoritário que é constitutivo da sua figura pública, do qual ele não pode abrir mão sem negar a si próprio. E é esse ranço que gera uma reação contrária a ele que é socialmente plural e internacionalmente consensual até agora.

Em suma, o sujeito só convence de fato os fanáticos que o seguem. Os capitalistas o estão utilizando agora, mas já o precificaram, estabelecendo como prazo de validade a execução das reformas neoliberais (o pacote de maldades contra o povo e contra o patrimônio nacional, ao estilo terapia de choque – um ou dois anos, no máximo). Depois disso, o sujeito será dispensável.

A incerteza (para todos) consiste em que, depois de aberta a caixa de Pandora, os demônios não voltam a ela facilmente e, como diz a lei de Murphy, nada é tão ruim que não possa piorar mais.

*João Márcio Mendes Pereira é professor na UFRRJ

Rio de janeiro, 12 de outubro de 2018


As opiniões expressas neste artigo não refletem, necessariamente, a opinião da Diálogos do Sul.
João Marcio

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