Após cinco anos de cooperação no Brasil, os médicos cubanos começaram a deixar o país em novembro. A decisão do governo cubano foi uma resposta às declarações do presidente eleito, Jair Bolsonaro, consideradas ofensivas por Havana.
Maria Do Socorro Gomes, presidenta do Conselho Mundial pela Paz, em conversa com o jornal Juventud Rebelde, salientou que a participação dos médicos no Brasil foi fundamental para que o “Mais Médicos” virasse um programa revolucionário. “Cuba é muito experiente na colaboração médica e tem ajudado mais de 60 países de forma desinteressada; por isso é respeitada e querida”.
Com o programa, exemplo de humanismo, mais de 700 municípios passaram a ter, pela primeira vez na história, um médico pela primeira vez. Por essa razão, o preparo e o humanismo dos profissionais da ilha continua sendo motivo de agradecimento para milhões de pessoas no país.
Karina Zambrana /ASCOM/MS
Programa "Mais Médicos", criado por Dilma Rousseff, enfrenta crise após saída de cubanos
Socorro Gomes afirmou que o povo brasileiro está vivendo uma tragédia, em especial aqueles que moram nas comunidades mais pobres e indígenas que ficaram sem apoio no que diz respeito à saúde, sem atendimentos e sem companhia; mas “seria muito difícil que os médicos cubanos continuassem aqui com tantas ofensas e ataques do presidente eleito, Jair Bolsonaro, pondo em dúvida sua preparação e exigindo o revalida”.
“Aos médicos cubanos, ao povo e ao governo de Cuba, dizemos que não temos dúvida de sua preparação, porque são muito talentosos e extremamente humanistas e não podem deixar-se levar por um presidente estúpido e sem a mínima preocupação pelas necessidades do povo brasileiro”, disse a líder do Congresso Mundial pela Paz, movimento que promove a existência pacífica entre as nações e o desarme nuclear.
Segundo dados publicados no site do Ministério da Saúde do Brasil, com a exceção de uma vaga no Piauí, todas as 115 vagas disponíveis no programa “Mais Médicos” encontram-se na zona Norte do Brasil, em distritos indígenas e cidades da região amazônica. Nenhum profissional manifestou interesse no concurso lançado em 19 de novembro para substituir grande parte dos médicos da Ilha que estavam nessas zonas.
Também é notícia que 200 médicos inscritos no Programa desistiram de trabalhar e entregaram as vagas, que tiveram que ser reabertas. Sobre isso, Socorro Gomes ressaltou que os médicos cubanos foram os únicos que aceitaram trabalhar nas cidades mais recônditas, isoladas ou pobres do país, já que os brasileiros preferem buscar trabalho nas grandes cidades.
Por outro lado, ela disse que a saúde não será o único retrocesso que o Brasil terá com Bolsonaro. Para Socorro, se aproxima um forte aumento do desemprego e da insegurança, maior discriminação e maior desalento com as políticas neoliberais.
Além disso, completa: “o mandatário eleito é uma ameaça para a paz de nosso continente, porque acusou países como Cuba, Venezuela e Nicarágua de serem ditaduras”.
“Hoje, ainda mais, a paz é uma necessidade imperiosa para a humanidade e temos que conquistar uma unidade maior para enfrentar os desafios que a região vive; temos que conseguir novas alianças e continuar defendendo a proclamação da América Latina e o Caribe como zona de paz, como foi assinado em Havana, na cúpula da Celac”, advertiu.