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Participação cidadã: a importância de compromissos para as mudanças políticas

A ação política não é má em si mesma, mas sim o resultado do uso ou abuso desse poder.
Carolina Vásquez Araya
Cidade da Guatemala

Tradução:

“A política é suja, a política é corrupta, não devemos nos meter em política…” Essas são as mensagens destinadas a salvaguardar a ética e a segurança pessoal à custa de abandonar os assuntos públicos nas mãos de outros. Mensagens ruins, sobretudo para as novas gerações cujos integrantes cresceram e se desenvolveram em um ambiente de desconfiança e apatia gerado por um exercício opaco, mal-intencionado, corrupto e isento de valores na maioria dos países do mundo. 

No entanto, o compromisso político se converte na única ferramenta possível para transformar os marcos dentro dos quais se exerce o poder. Não existe possibilidade de avançar na consolidação democrática das instituições sobre as quais descansam a justiça e os direitos cidadãos, se a cidadania não participar organizadamente para garantir sua representatividade nas mais altas instâncias de uma nação. As estratégias mediante as quais se conseguiu provocar esse abandono das obrigações cívicas por parte da população foram criadas precisamente para concentrar o poder quase absoluto nas mãos de grupos interessados em monopolizá-lo e se aproveitar dele. 

Esta indiferença política induzida pela conduta indesejável daqueles que se encarregam dos assuntos públicos, resulta especialmente prejudicial na maioria dos países latino-americanos cujos sistemas se decantaram pelo abuso de privilégios, impunidade para seus delitos, monopolização dos quadros de direção das organizações políticas e uma legislação com cadeados, desenhada para jamais perder esse monopólio. Este cenário é especialmente dissuasivo ante uma juventude privada de educação de qualidade e, sobretudo da informação indispensável para gerar espaços de discussão, análise e participação.

A ação política não é má em si mesma, mas sim o resultado do uso ou abuso desse poder.

Wikimedia Commons
o compromisso político se converte na única ferramenta possível para transformar os marcos dentro dos quais se exerce o poder.

A substituição de gerações é indispensável, mas também o é a criação de quadros políticos capazes de romper esses muros construídos pelas gerações anteriores, a maioria delas condicionadas pelos resquícios de uma Guerra Fria cujas mensagens foram elaboradas a partir da necessidade dos Estados Unidos de dividir os povos. Estas estratégias, cujo objetivo era dominá-los com maior eficácia apoiadas por títeres repressivos e câmaras legislativas de acordo com seus projetos de dominação, foram se consolidando graças à infiltração de grupos religiosos, grandes monopólios e uma repressão sanguinária contra todo pensamento político oposto. 

A participação política, hoje sequestrada por grupos de poder, interesses econômicos e altos níveis de corrupção, constitui um direito cidadão inalienável em qualquer país democrático ou cujo marco jurídico permita essa classificação. Não o fazer é um abandono dos direitos, mas também das responsabilidades cidadãs, toda vez que se delega a outros – em geral de duvidosas intenções – o futuro das maiorias.  Em nossos países se pode ver o resultado desse abandono nos horríveis indicadores de desenvolvimento social, mas também e sobretudo no escandaloso enriquecimento das castas econômicas e políticas que nos governam. 

É importante reconhecer que a política não tem cor. A cor será dada por quem a exerça de acordo com sua estatura ética e seus valores. Por isso é importante resgatá-la e realizar o árduo trabalho de tirar essa pátina que hoje a recobre. Ninguém tem o direito de impedir a participação cidadã, mas será essa cidadania a única e principal responsável por abrir os cadeados que hoje a marginalizam. 

*Colaboradora de Diálogos do Sul, desde a cidade da Guatemala

www.carolinavasquezaraya.com

elquintopatio@gmail.com

Tradução: Beatriz Cannabrava


As opiniões expressas neste artigo não refletem, necessariamente, a opinião da Diálogos do Sul.
Carolina Vásquez Araya Jornalista e editora com mais de 30 anos de experiência. Tem como temas centrais de suas reflexões cultura e educação, direitos humanos, justiça, meio ambiente, mulheres e infância

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