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Gigante chinesa, Huawei ameaça poder estadunidense de espionagem, diz pesquisador

Avanços da empresa chinesa no desenvolvimento do 5G e outras estruturas de comunicação põem em xeque poderio dos EUA
Redação Brasil de Fato
Brasil de Fato
São Paulo (SP)

Tradução:

O que faz a empresa chinesa Huawei, e por que ela virou alvo dos Estados Unidos?

A empresa estadunidense de tecnologia Google, cujo sistema operacional Android está instalado em grande parte dos smartphones do mundo, anunciou em 20 de maio que cortaria relações com a Huawei, gigante chinesa das telecomunicações. 

A medida foi tomada após o presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, declarar emergência nacional com o suposto objetivo de proteger as redes do país. A medida, que afeta principalmente a China, proíbe que companhias dos Estados Unidos utilizem equipamentos de telecomunicações de “adversários estrangeiros”. 

Logo de início, ficou claro, no entanto, que o novo capítulo da guerra comercial com o país asiático ia muito além da habitual troca de hostilidades tarifárias, em voga desde que Trump sucedeu Barack Obama na Casa Branca. Desta vez, a diligência tinha como alvo a Huawei, empresa que lidera os avanços da tecnologia 5G. 

Avanços da empresa chinesa no desenvolvimento do 5G e outras estruturas de comunicação põem em xeque poderio dos EUA

Sapo
O que faz a empresa chinesa Huawei, e por que ela virou alvo dos Estados Unidos?

Entenda:

O que é a Huawei?

A Huawei é a segunda maior companhia do mundo no setor de telefonia móvel, ficando na frente da estadunidense Apple, e atrás somente da sul-coreana Samsung.

Embora seja mais conhecida pelos telefones celulares, a empresa é responsável por produzir uma série de outros equipamentos de comunicação e por fornecer tecnologia para que outras fabricantes façam seus próprios aparelhos e redes wi-fi.

A Huawei está negociando o fornecimento da quinta geração (5G) de internet móvel com vários países do mundo. A tecnologia, que pode ter uma velocidade até 20 vezes maior que o 4G, poderá gerar uma série de novos avanços, que vão desde a implementação de novos sistemas de carros autônomos, até cirurgias feitas à distância. 

Por que os EUA adotaram medidas contra a Huawei?

Há mais de um ano, em fevereiro de 2018, FBI, CIA, NSA e outras três agências de segurança dos Estados Unidos pediram que os cidadãos estadunidenses não usassem smartphones da Huawei. A razão dada é a de que os celulares poderiam ser usados como dispositivos de espionagem. 

Embora não existam acusações formais desta prática contra a empresa chinesa, a retórica antiespionagem ganhou força, desembocando na declaração de emergência nacional de Trump. 

Parte das desconfianças contra a Huawei se deve ao fato de seu fundador, Ren Zhengfei, ter sido engenheiro do Exército de Libertação do Povo Chinês no início dos anos 1980. A empresa nega reiteradamente que queira espionar os EUA ou que tenha qualquer vínculo com o governo chinês. Entretanto, críticos afirmam que as leis da China impedem que empresas se recusem a ajudar o governo caso ele ordene uma coleta de informações.

Segundo o advogado Rodrigo do Val Ferreira, pesquisador e consultor internacional que vive na China desde 2005, o que está em questão para os estadunidenses não é a possibilidade de a China os espionar, mas justamente o contrário: a expansão da tecnologia 5G faria Washington perder o seu próprio poder de espionagem sobre os outros.

“O problema é perder a capacidade de espionagem que [os EUA] haviam criado por meio de empresas que fomentavam seus serviços de inteligência – e, por consequência, sua economia – com informações roubadas […] É o medo de perder essa hegemonia, que sabemos bem a que classe no mundo favorece, o que está, em nível mais avançado, por trás da perseguição à Huawei”, diz. 

Para ele, “o avanço da Huawei na construção de uma nova geração de infraestrutura de comunicação, sobretudo a plataforma 5G, mas não apenas ela, é sem dúvida alguma a principal motivação dessa nova escala protecionista estadunidense, sob o pretexto da segurança nacional”.  

Como as medidas tomadas pelos EUA impactam a Huawei? 

Apenas o fim da relação entre o Google e a Huawei já deverá causar uma série de problemas aos proprietários de celulares da marca chinesa. Isso porque o sistema Android não irá receber mais atualizações, afetando uma série de aplicativos, como o Gmail, Google Maps, Youtube, Play Store etc. 

Para Ferreira, é difícil dizer o resultado das sanções dos EUA.

“O mais provável é que o consumidor, de uma maneira geral, e a privacidade de todos, seja a maior vítima em curto prazo. A empresa, como tem anunciado já faz tempo, vem se preparando para este risco, desde a ascensão da parcela mais elitista da direita estadunidense à Casa Branca”. 

Nos últimos anos, a companhia chinesa registrou um grande crescimento no mercado global e a tendência é que siga crescendo. Especialmente na África e na Ásia, onde se concentra boa parte de suas vendas, o preço dos produtos da Huawei torna a marca muito mais acessível que sua concorrente estadunidense mais próxima, a Apple. 

Além de contratos na China, a Huawei assinou uma série de outras parcerias comerciais, entre elas, 25 na Europa e 10 no Oriente Médio. As sanções dos EUA poderiam afetar o cumprimento dos acordos de implementação de novas tecnologias nos países, uma vez que impactam no fornecimento de peças.

O cerco, porém, pode não surtir efeito. Segundo Ferreira, a Huawei estocou quantidades suficientes de itens importados, para que não haja uma ruptura à sua cadeia de fornecimento, e avançou na codificação de um sistema operacional próprio.

“A China ainda tem seus gargalos na manufatura de equipamentos domésticos para a impressão de chips, mas já domina o processo de manufatura de chips de computação há muitos anos”. 

As sanções dos EUA podem ter inclusive um efeito inverso, segundo o pesquisador. Para ele, “as privações pelas quais [a China] vem passando apenas aceleram, ainda mais, a sua autossuficiência e vanguardismo no setor” de telecomunicações.

Edição: Daniel Giovanaz

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As opiniões expressas neste artigo não refletem, necessariamente, a opinião da Diálogos do Sul.
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