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Gustavo Petro, presidente da Colômbia (Foto: Presidência da Colômbia / Flickr)

2 anos de Petro na Colômbia: direitos aos trabalhadores, paz total e luta por apoio popular

Gustavo Petro, aclamado pelos setores mais populares da Colômbia, chega ao meio mandato enquanto já se inicia a corrida para as eleições de 2026
Jorge Enrique Botero
La Jornada
Bogotá

Tradução:

Beatriz Cannabrava

Entre luzes e sombras, nesta quarta-feira (7) chegou à metade de seu mandato o primeiro presidente de esquerda na Colômbia, Gustavo Petro, que tomou posse em 7 de agosto de 2022, assegurando que a sua gestão seria o governo da mudança.

Percorremos ruas centrais desta capital para perguntar ao cidadão comum se sentia mudanças reais nesses dois anos, e encontramos que as opiniões estão divididas entre 50 e 50%. “Esse cara não foi deixado governar porque toca nos interesses dos poderosos, mas mesmo assim conseguiu a aposentadoria para milhões de idosos que viviam na indigência”, diz Ramón, um homem que se dedica à venda de artesanatos na histórica praça do Rosário. Na mesma praça funciona uma das universidades mais antigas e elitistas do país, onde só ouvimos epítetos e adjetivos desqualificativos. “Petro foi um grande parlamentar e um hábil político, mas a Casa de Nariño ficou grande demais para ele”, diz Gloria, estudante de Direito.

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O panorama não é tão preto e branco nas salas de redação econômicas dos meios de comunicação, onde há consenso de que a economia colombiana desacelerou entre 2022 e 2024, mas nem todos concordam que o país estava “flertando com uma recessão”.

Em 2023, um giro inesperado reverteu a tendência macroeconômica negativa quando o governo, atendendo a um clamor generalizado de banqueiros e investidores, decidiu influenciar o Banco da República para que as taxas de juros caíssem de 25 pontos para 13.

Críticas da oligarquia

A Federação de Comerciantes (FENALCO), crítica ferrenha do governo, opinou que o país não poderá seguir por um caminho positivo em termos econômicos “com a constante saída e chegada de ministros e vice-ministros, o que fez com que o governo não tivesse uma equipe estável para conduzir as finanças”.

Apesar de ter conseguido a aprovação de reformas que beneficiaram milhões de trabalhadores, o governo Petro ainda não conseguiu apoio popular e sindical para levar adiante suas iniciativas.

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A única força que o respalda sem dúvida é o movimento agrário, com longa tradição de resistência e luta desde que foi traído pelos partidos tradicionais no início dos anos 1960.

Embora esse beligerante campesinato nunca falhe às convocações do presidente para ocupar ruas e estradas, analistas locais consideram que isso não será suficiente caso a confrontação se torne mais aguda. Jaime Leyva, que acompanha o movimento agrário há quase 50 anos, disse ao jornal La Jornada que o presidente Petro “é o encarregado de pagar a dívida histórica do país com o campo”.

Vem guerra na América

Após os resultados eleitorais do passado 28 de julho na Venezuela, que proclamaram a vitória de Nicolás Maduro, deixando uma esteira de dúvidas na comunidade internacional (incluindo Washington), Petro tem boas razões para assegurar que “se não se alcançar um acordo na Venezuela, vem uma guerra na América”.

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Quatro exércitos insurgentes que dominam uma boa porção do território colombiano e que contam com dezenas de anos de experiência na selva; um exército contra insurgente de pelo menos treze mil homens que ocupa as principais áreas dedicadas ao cultivo e processamento da coca, assim como à mineração ilegal; além de dezenas de pequenas bandas armadas urbanas em várias cidades do país, a Colômbia é vista como o principal campo de batalha da guerra americana que Petro adverte.

O sol às costas

Já é um costume na Colômbia que a metade do mandato dos governantes se converta em partida para a corrida à Casa de Nariño.

Embora as pesquisas não preocupem Petro, pois em suas visitas às regiões e bairros populares é fácil detectar um fervor intacto pelo candidato de 2022, já são muitos os ativistas e militantes da esquerda que consideram que a única forma de conter um discurso ultradireitista, tipo Milei, Bolsonaro ou Trump, será encontrar uma figura que – sem radicalizar tanto quanto Petro – consiga manter no poder as forças menos retrógradas do velho establishment.

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Sobre as eleições já gravitam os penosos fatos de corrupção ocorridos nesses dois anos, que levam o cidadão menos politizado à ideia de que – em termos de desonestidade – são todos iguais.

Segundo Leyva, as pessoas mais próximas a Petro estariam cozinhando em fogo lento uma candidatura ao redor do experiente político tradicional Roy Barreras, hoje embaixador da Colômbia em Londres e que foi peça fundamental na eleição de Petro em 2022.

Petro abre conversações de paz com paramilitares e ordena atacar ELN

Nesta segunda-feira (5), o governo do presidente Gustavo Petro anunciou de surpresa que iniciará diálogos com o denominado Clã do Golfo, a mais poderosa estrutura paramilitar derivada das antigas Autodefesas Unidas da Colômbia (AUC).

Através de uma resolução publicada no diário oficial, o executivo divulgou a lista de seis representantes que farão parte do processo, encabeçados por Jiobanis de Jesús Ávila, conhecido no mundo paramilitar como Chiquito Malo.

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Fontes do escritório de paz disseram que na aproximação com o Clã do Golfo participarão, da parte do governo, Álvaro Jiménez, considerado a mão direita do Comissário Otty Patiño, assim como María Gaitán, diretora do Centro Nacional de Memória Histórica e neta do assassinado líder liberal Jorge Eliécer Gaitán.

Analistas locais que acompanham o tema da paz expressaram seu ceticismo, mesmo antes de os diálogos começarem, pois o governo considera que estes devem ocorrer em um “espaço de conversa sociojurídica”, enquanto que os paramilitares manifestaram seu interesse em que o processo seja uma negociação de paz, o que implicaria conceder-lhes status político.

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Números revelados recentemente pelas forças militares colocam o Clã do Golfo como o maior grupo armado irregular do país, não só pelo número de homens armados – cerca de 13 mil – mas por ser a organização com maior presença territorial e por suas amplas possibilidades de expansão à sombra das economias ilegais, especialmente os cultivos de coca e a mineração.

Integrado em sua maioria por ex-paramilitares e membros aposentados da força pública, assim como por ex-guerrilheiros que ficaram no limbo após a entrega de armas por parte das FARC em 2016, o Clã do Golfo percorre veredas de diversas regiões do país apresentando-se como uma organização contra insurgente que defende as pessoas do agro de uma suposta ameaça comunista.

Ofensiva militar contra o ELN

Enquanto se definem os detalhes das negociações com os paramilitares, o ministro da Defesa, Iván Velásquez, disse que as forças militares reativaram suas operações contra as estruturas do Exército de Libertação Nacional (ELN) depois que no último sábado fracassou a última tentativa de prorrogar o cessar-fogo que havia sido pactuado há mais de um ano entre as partes.

“Com o ELN, o governo fecha as portas, mas ao mesmo tempo as abre com os paramilitares”, comentou ao La Jornada um veterano ex-comandante das extintas FARC que pediu anonimato.

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Após o anúncio do ministro da Defesa, a pergunta que agora flutua no ar é se a ruptura do cessar-fogo bilateral significará também o fim da mesa de negociações entre o governo e o grupo guerrilheiro ELN, instalada em novembro de 2022.


As opiniões expressas neste artigo não refletem, necessariamente, a opinião da Diálogos do Sul do Global.

Jorge Enrique Botero Jornalista, escritor, documentarista e correspondente do La Jornada na Colômbia, trabalha há 40 anos em mídia escrita, rádio e televisão. Também foi repórter da Prensa Latina e fundador do Canal Telesur, em 2005. Publicou cinco livros: “Espérame en el cielo, capitán”, “Últimas Noticias de la Guerra”, “Hostage Nation”, “La vida no es fácil, papi” y “Simón Trinidad, el hombre de hierro”. Obteve, entre outros, os prêmios Rei da Espanha (1997); Nuevo Periodismo-Cemex (2003) e Melhor Livro Colombiano, concedido pela fundação Libros y Letras (2005).

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