No dia 3 de maio de cada ano, o mundo celebra o Dia Mundial da Liberdade de Imprensa, erguendo o lema da proteção aos jornalistas, da defesa da liberdade de expressão e do direito dos povos ao acesso à informação. No entanto, falar em liberdade de imprensa perde todo o sentido quando a caneta está sob a mira dos bombardeios, a câmera sob fogo cruzado, e o jornalista cercado por todos os lados. Em Gaza, essa não é uma questão teórica, mas uma realidade diária gravada em sangue.
Desde o início da última agressão israelense à Faixa de Gaza, os jornalistas palestinos têm pagado um preço altíssimo, impossível de descrever. Foram martirizados 210 jornalistas e membros de suas famílias, mais de 400 jornalistas ficaram feridos e cerca de 55 permanecem detidos, de um total de 177 que foram presos desde 7 de outubro de 2023 — com dois deles ainda desaparecidos de forma forçada. Foram também destruídas 143 instituições de mídia, entre elas: 12 jornais impressos, 23 portais eletrônicos, 11 emissoras de rádio e 4 canais de televisão, além das sedes de 12 emissoras árabes e internacionais.
Em Gaza, o jornalista não dispõe do luxo da “neutralidade”, pois vive no centro da tragédia e está na linha de fogo. Ele é transmissor da verdade, testemunha ocular — e, com frequência, vítima. Apesar disso, continua a cumprir sua missão com uma coragem rara: escreve sob bombardeio, filma entre os escombros e transmite ao mundo a tragédia de seu povo em meio a um silêncio internacional perturbador.

A liberdade de imprensa em Gaza não se exerce conforme constituições ou leis abstratas — ela é arrancada dos escombros e dos corpos dos colegas, e forjada nas imagens dos massacres captadas pelas lentes e preservadas pela memória coletiva.
O Dia Mundial da Liberdade de Imprensa deixou de ser uma data de celebração para se tornar um momento de denúncia das violações sistemáticas cometidas pela ocupação contra a imprensa palestina — e de exposição das restrições internas que agravam ainda mais o sofrimento dos jornalistas.
Não se pode dissociar a liberdade de imprensa em Gaza da luta do povo palestino por liberdade e dignidade. Não há imprensa livre sob ocupação, nem liberdade de opinião sob cerco. Defender o jornalista palestino é defender o direito de um povo inteiro de contar sua própria história.
Não pedimos solidariedade simbólica nem declarações passageiras, mas sim proteção real aos jornalistas palestinos e responsabilização da ocupação por seus crimes. O jornalista palestino deve ser tratado como um ícone de resistência — não como mais um número em um relatório de direitos humanos.
Inclinamo-nos com reverência diante das almas dos jornalistas mártires e apertamos as mãos daqueles que ainda carregam a câmera e a caneta diante da máquina de matar. A liberdade de imprensa em Gaza não é um slogan, mas uma epopeia escrita todos os dias — com sangue, coragem e fé na justiça.
Edição de Texto: Alexandre Rocha