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Protesto pró-imigrantes em março de 2006 em Chicago, nos EUA (Foto: Michael L. Dorn / Flickr)

400 mil mexicanos por ano: como México pode ser impactado por deportações de Trump

Se colocado em prática, plano de Trump vai obrigar o retorno de mexicanos que há anos residem nos EUA: "Será muito difícil reintegrar essa pessoa", afirma o especialista Adam Isacson
Jim Cason, David Brooks
La Jornada
Nova York

Tradução:

Beatriz Cannabrava

O México terá que se preparar não apenas para o possível retorno de seus cidadãos que residiram nos Estados Unidos por muito tempo, mas também para lidar com um número crescente de migrantes que estão do lado mexicano, aguardando para entrar nos Estados Unidos, alertam especialistas em migração entrevistados pelo La Jornada.

Os defensores da política migratória de Donald Trump garantem que as mudanças serão imediatas. “No momento em que o presidente Trump colocar sua mão sobre aquela Bíblia e fizer o juramento de posse, acaba a ocupação”, afirmou à Fox News na última quarta-feira (20) Stephen Miller — arquiteto da política migratória e principal assessor de Trump —, referindo-se à cerimônia de posse do presidente, em 20 de janeiro.

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“De imediato, ele assinará ordens executivas selando a fronteira, iniciando a maior deportação na história dos Estados Unidos, encontrando as gangues criminosas, estupradores, narcotraficantes e monstros que assassinaram nossos cidadãos, e os enviando de volta para casa [seus países de origem]”.

As medidas em consideração para fechar a fronteira a migrantes incluem ordens executivas que ampliam, de forma efetiva, a anulação do direito ao asilo implementada pelo presidente Joe Biden, reinstalar o programa Fique no México – embora isso exija permissão do governo mexicano – e reativar a declaração de emergência do Título 42, que permite aos oficiais de imigração negar a entrada de imigrantes indocumentados sem nenhum processo de avaliação. Os representantes do presidente eleito ainda não informaram se já estão solicitando ao México a renovação do programa Fique no México.

Espera-se que os cruzamentos diminuam inicialmente

Espera-se que os cruzamentos de imigrantes do México para os Estados Unidos diminuam substancialmente por alguns meses após a chegada de Trump à Casa Branca, comenta o especialista Adam Isacson, do Escritório de Washington para Assuntos Latino-Americanos (WOLA). Em entrevista, ele explicou que, no mesmo dia em que Trump assumiu a presidência pela primeira vez, em janeiro de 2017, “os cruzamentos praticamente pararam”. Ele acrescentou que os cruzamentos despencaram nos primeiros meses daquele ano e, em abril de 2017, atingiram seu ponto mais baixo no século até agora. Porém, no ano seguinte, o número de indocumentados interceptados ao entrar no país disparou.

O governo do México, por sua vez, enfrentará novos desafios em como lidar com migrantes de outros países que aguardam para entrar nos Estados Unidos, acrescentou o especialista. “Entre janeiro e agosto deste ano, o México registrou 925.085 encontros com migrantes, quase o triplo do total registrado em todo o ano de 2022, que já havia estabelecido um recorde”, disse Isacson, citando dados oficiais da Unidade de Política Migratória do governo mexicano.

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Ele observou que o México não deteve nem deportou grande parte desses migrantes, mas os transferiu para o sul do país, onde aguardam consultas para solicitar asilo nos Estados Unidos. Se os Estados Unidos efetivamente anularem as solicitações de asilo e, como sugeriram alguns assessores de Trump, abandonarem o aplicativo CBP One, por meio do qual essas solicitações são feitas, Isacson questiona: “O que acontecerá com todas essas pessoas que estão esperando no México?”

Outro problema para o México, comenta Isacson, é que, embora as deportações na fronteira possam cair, se Trump cumprir sua promessa de deportações massivas no interior dos Estados Unidos, haverá um influxo de mexicanos que residiram nos Estados Unidos por anos, e sua reintegração ao México não será fácil.

“Estamos falando de alguém que viveu nos Estados Unidos por muito tempo, que tinha um emprego, filhos na escola… é de classe média baixa e, de repente, se encontra sem teto em Ciudad Juárez. Será muito difícil reintegrar essa pessoa”, explicou Isacson.

As dimensões do problema são enormes. “Se eles realmente tentarem alcançar [a deportação] de até um milhão de migrantes sem documentos por ano, e se as projeções indicarem que 40% da população indocumentada nos Estados Unidos é mexicana, isso poderia implicar o retorno de 400 mil mexicanos por ano – e pode ser ainda maior, já que são os mais fáceis de deportar”, adverte Isacson.

Desacordo sobre o uso do exército

Se o próximo governo de Trump conseguir rapidamente implementar suas deportações massivas, ainda não se sabe como isso será feito. Na última quarta-feira (20), o senador republicano Rand Paul afirmou que se opõe às propostas de Trump e outros para usar forças militares na captura e deportação de migrantes indocumentados. “Não é para isso que usamos nossos militares, nunca fizemos isso, e realmente foi ilegal por mais de 100 anos trazer militares para nossas cidades”, declarou o senador por Kentucky à rede de televisão conservadora Newsmax.

“O exército e nossas forças armadas são treinados para disparar contra o inimigo… as pessoas que expulsam imigrantes de nosso país precisam ser de uma agência policial, não militares”. E concluiu: “Apoio o presidente Trump, apoio a remoção daqueles que estão aqui de forma irregular… mas não apoio o exército marchando de cima a baixo nas nossas ruas”.

Trump e vários de seus assessores afirmaram que iniciarão as deportações por migrantes acusados ou condenados por algum crime. Na quarta-feira, após a condenação de um migrante venezuelano na Geórgia, José Antonio Ibarra, à prisão perpétua pelo assassinato de uma universitária, os republicanos continuam a acusar imigrantes indocumentados de serem criminosos – embora as próprias estatísticas oficiais mostrem que migrantes cometem menos crimes que cidadãos estadunidenses.

O presidente da Câmara dos Representantes, o republicano Mike Johnson, alega que há entre 3 e 4 milhões de estrangeiros criminosos nos Estados Unidos que Trump buscará deportar. No entanto, em junho, a Agência de Imigração e Alfândega (ICE) informou ter registro de apenas 662.566 não cidadãos com histórico criminal, segundo o Washington Post.

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Outro problema é que alguns desses indivíduos vieram de países com os quais Washington não tem acordos de deportação, como Rússia, China e Paquistão.

Por ora, o principal objetivo do próximo governo de Trump é demonstrar que está agindo sobre o problema que, durante a campanha, foi apontado como a origem de todos os males do país. Por isso, é provável, sugerem analistas, que o governo de Trump inicie com operações ostensivas, como batidas de estilo militar em alguns locais do país que rendam imagens para a televisão. Embora ainda não se saiba o que acontecerá depois, com a chegada do republicano à Casa Branca, a única certeza é que a vida para os imigrantes indocumentados será, de imediato, muito mais difícil.

La Jornada, especial para Diálogos do Sul Global – Direitos reservados.


As opiniões expressas neste artigo não refletem, necessariamente, a opinião da Diálogos do Sul do Global.

Jim Cason Correspondente do La Jornada e membro do Friends Committee On National Legislation nos EUA, trabalhou por mais de 30 anos pela mudança social como ativista e jornalista. Foi ainda editor sênior da AllAfrica.com, o maior distribuidor de notícias e informações sobre a África no mundo.
David Brooks Correspondente do La Jornada nos EUA desde 1992, é autor de vários trabalhos acadêmicos e em 1988 fundou o Programa Diálogos México-EUA, que promoveu um intercâmbio bilateral entre setores sociais nacionais desses países sobre integração econômica. Foi também pesquisador sênior e membro fundador do Centro Latino-americano de Estudos Estratégicos (CLEE), na Cidade do México.

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