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Fotos: Gage Skidmore / Phil Parsons / Thomas Hawk

5 milhões de carros elétricos: entenda interesse de Trump e Musk no Panamá

Donald Trump já deixou evidente seu desejo de controlar o Canal do Panamá, mas existe uma riqueza no país centro-americano essencial para as ambições de Musk
Observatório em Comunicação e Democracia, Fundação para a Integração Latino-americana (FILA)
Sur y Sur
Cidade do Panamá

Tradução:

Ana Corbisier

As frases tonitruantes de Donald Trump já não surpreendem. Seu estilo provocador e agressivo foi conhecido durante seu primeiro mandato. Agora ele repete. De qualquer forma, a história ensina que nunca se deve levar na brincadeira as palavras de um presidente da primeira potência mundial.

Canal do Panamá (Imagem: Reprodução)

Em um discurso em 22 de dezembro, diante de seguidores no Arizona, entre muitos outros temas, ele se referiu à importância estratégica do canal do Panamá.

Lá, ele disse que o canal era fundamental para o rápido deslocamento da marinha estadunidense entre o Atlântico e o Pacífico, que Jimmy Carter o presenteou por um dólar, sugeriu que está controlado pela China, e que os Estados Unidos poderiam recuperá-lo rapidamente. Também se queixou dos altos preços que os navios devem pagar ao cruzá-lo.

A ninguém escapa que o canal tem um valor econômico e estratégico de primeira linha. Por isso os Estados Unidos o construíram e controlaram durante 99 anos. O partido republicano não concordou com sua cessão, e Ronald Reagan, em 1976, assegurava que a zona do Canal do Panamá era território soberano dos Estados Unidos, assim como o Texas. Trump pensa o mesmo.

Panamá, o Canal e o Cobre

O Panamá é mundialmente conhecido por seu canal, mas é menos conhecido por sua produção de cobre, um dos minerais mais cobiçados do planeta e que tem os Estados Unidos como segundo consumidor do mundo, atrás da China.

O cobre é necessário para a chamada “transição energética”, as tecnologias de ponta, a eletrônica, os painéis solares, os automóveis, e agora para as aplicações da inteligência artificial. Negócios, todos, em que está envolvida a Tesla, a gigante de Elon Musk, hoje um sócio privilegiado de Trump.

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O complexo minerário Cobre Panamá é propriedade da First Quantum, uma mineradora canadense com investimentos em vários países. Calcula-se que o Cobre Panamá tem cerca de três bilhões de toneladas de reservas comprovadas e prováveis de cobre. E é uma das maiores minas abertas na última década. Não é fácil abrir uma mina.

A especialista Gracelin Baskaran, diretora do Programa de Segurança de Minerais Críticos do Centro de Estudos Estratégicos e Internacionais (CSIS) de Washington, assegura que a construção de uma nova mina nos Estados Unidos leva uma média de 29 anos porque há numerosas regulamentações locais e federais que entorpecem o processo. A do Panamá já existe, só que está fechada desde novembro de 2023 por controvérsias fiscais e ambientais, e mantê-la custa à First Quantum cerca de 12 milhões de dólares mensais.

Tesla e a First Quantum

Cobre Panamá (Imagem: Reprodução)

A Cobre Panamá pode produzir 350 mil toneladas de cobre por ano, o suficiente para construir cerca de 5 milhões de carros elétricos. Em 2022, a Tesla fabricou 1,37 milhão de carros, e Musk já anunciou que quer chegar a 20 milhões anuais.

Segundo o site canadense mining.com, os carros elétricos usam muito mais minerais que os convencionais. Em comparação, cada carro elétrico usa 53,2 kg de cobre, 39,9 de níquel e 8,9 de lítio, enquanto os convencionais usam 22,3 kg de cobre, e nada de lítio ou níquel.

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Um dia antes do discurso de Trump no Arizona, o diário “La Estrella de Panamá” assegurou que Tristan Pascall, o CEO da First Quantum, pediu apoio a Trump para a reabertura da mina. Um dia antes. Coincidência?

Nem lento, nem preguiçoso, ele disse que “a mina Cobre Panamá poderia ser vital para as empresas dos Estados Unidos, mas primeiro deve reabrir”, e que Trump poderia “negociar um pacto sobre o cobre que se alinhe com os interesses estratégicos dos Estados Unidos e do Panamá”.

Donald Trump e Elon Musk hoje são sócios. Ambos têm muitos interesses em comum. Estratégicos e de negócios. É possível que o Panamá seja um deles.


As opiniões expressas neste artigo não refletem, necessariamente, a opinião da Diálogos do Sul Global.

Observatório em Comunicação e Democracia
Fundação para a Integração Latino-americana (FILA)

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