A morte em Gaza já não é mais notícia – tornou-se um cotidiano sangrento que se repete sob bombardeios, privações e fome, enquanto o mundo se limita a assistir em silêncio.
600 dias se passaram desde o início da guerra de extermínio conduzida pela ocupação israelense contra a Faixa de Gaza. 600 dias de assassinatos e destruição sistemática, de cerco e fome, de erradicação da vida e apagamento de seus traços. Mais de um ano e meio de crime contínuo, documentado pelas telas e arquivado pelas lentes, mas o mundo segue omisso à punição dos criminosos.
As forças de ocupação cometeram incontáveis massacres contra civis, elevando o número de mártires para mais de 54 mil, e o de feridos para mais de 123 mil, a maioria mulheres e crianças. Milhares seguem desaparecidos sob os escombros, e casas, hospitais e escolas foram reduzidos a ruínas – cenas que evocam as piores catástrofes humanitárias da história moderna.
Nesta guerra meticulosamente orquestrada, nem a imprensa escapou da máquina de matar: mais de 215 jornalistas foram assassinados, centenas ficaram feridos, e instituições jornalísticas e residências de profissionais da mídia foram completamente destruídas. Jornalistas estrangeiros foram impedidos de entrar em Gaza – uma tentativa clara da ocupação em ocultar a verdade e apagar os vestígios de seus crimes.
Diante desse cenário sangrento, o Tribunal Penal Internacional emitiu mandados de prisão contra o primeiro-ministro da ocupação, Benjamin Netanyahu, e seu ministro da guerra, Yoav Gallant, acusando-os de crimes de guerra e crimes contra a humanidade. Um passo histórico, mas ainda simbólico, sem repercussão concreta, enquanto o cerco se intensifica, a agressão continua, a ajuda humanitária é barrada e a população é forçada ao deslocamento.
Diante disso, cresce a exigência de que o Tribunal Penal Internacional cumpra integralmente seu papel, emitindo também mandados contra os demais membros do governo extremista israelense – em especial Bezalel Smotrich e Itamar Ben-Gvir, diretamente implicados na incitação ao genocídio e à limpeza étnica contra o povo palestino.
A Corte Internacional de Justiça, por sua vez, emitiu em maio de 2024 uma série de medidas cautelares obrigatórias, afirmando explicitamente que os acontecimentos em Gaza podem configurar crime de genocídio. Determinou a cessação imediata das operações militares e o acesso seguro e urgente da ajuda humanitária. Como de costume, Israel ignorou as decisões internacionais, desprezando por completo os parâmetros éticos e legais.
Diante desse quadro, uma verdade escancarada se impõe: a justiça internacional continua seletiva, aplicada onde convém e bloqueada onde colide com os interesses das grandes potências. Teriam os direitos humanos se tornado apenas slogans? Onde está a consciência global diante de crianças sendo massacradas em Rafah, Khan Yunis, Deir al-Balah, no norte e na cidade de Gaza?
É chegada a hora de transformar as decisões judiciais em ações reais de dissuasão, que obriguem o Estado ocupante a cessar sua agressão e garantam ao povo palestino seu direito elementar à vida, à segurança e à dignidade. Cada dia que passa sob o fogo da guerra é um novo crime, uma nova mancha na testa da humanidade, um teste flagrante das pretensões do sistema internacional de justiça e direitos humanos.
Gaza não precisa de lamentos ou condenações protocolares. Gaza espera uma ação internacional urgente, uma justiça verdadeira, e a responsabilização dos criminosos.
Como disse Nelson Mandela: “A liberdade não se concede – se conquista.”
Edição de texto: Alexandre Rocha