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8M na Guatemala: há 6 anos, 56 meninas eram queimadas vivas em abrigo, por ação do Estado

41 meninas morreram calcinadas e apenas 15 sobreviveram, condenadas à viver cobertas de queimaduras e com graves consequências físicas e psicológicas
Carolina Vásquez Araya
Diálogos do Sul Global
Cidade da Guatemala

Tradução:

Para mim, o 8 de março não é de um dia de saudações e parabéns. É um dia para registrar uma das tragédias mais cruéis e impactantes ocorridas em nosso continente: a condenação à morte de 56 meninas no Lar Seguro Virgem da Assunção, na Guatemala, perpetrada pelo Estado guatemalteco sob a presidência de Jimmy Morales, quem deu diretamente a ordem de mantê-las encerradas e desse modo as condenou a uma morte atroz, queimadas vivas, em 2017.

Nesse dia o Congresso permaneceu em silêncio. Também a Corte Suprema de Justiça, a Polícia e o Ministério Público. Todos cúmplices de um ato inqualificável. As telas de televisão mostraram tudo em detalhe, mas, até hoje, os culpados escaparam à ação da justiça, começando pelo ex-mandatário. 

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Durante os dias subsequentes, os comentários se dividiam entre aqueles que experimentavam o horror pela tragédia e aqueles, fazendo eco dos preconceitos atávicos de uma sociedade dividida, culparam as vítimas por seu próprio holocausto.

Essas meninas, como havia denunciado a jornalista Mariela Castañón em detalhadas reportagens no diário La Hora, eram vítimas de abusos em uma instituição administrada pela Secretaria de Bem-estar Social da Presidência da Guatemala, cuja missão é proteger crianças e adolescentes de maus tratos e abandono.

Em denúncias posteriores, se comprovou que as meninas eram violadas e sofriam castigos extremos, além de privação de alimentos e atendimento em saúde e educação. Também se denunciou que esse centro se havia transformado em um local de tráfico sexual, onde as internas eram submetidas à prostituição e ao silêncio. 

Isto sucedeu em um 8 de março e não podemos esquecê-lo. Nesse dia, 41 meninas morreram calcinadas e apenas 15 sobreviveram, se é que se pode chamar sobrevivência à condenação de viver cobertas de queimaduras e com graves consequência físicas e psicológicas. Como consequência do abuso sofrido, receberam ameaças para impedir que falem sobre os verdadeiros fatos que as levaram a protestar. 

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O 8 de março não é um dia de felicitações nem mensagens doces. É uma data para recordar quanto caminho falta para alcançar a igualdade de direitos, para deter o abuso contra mulheres, adolescentes e meninas em um marco de sociedades patriarcais indiferente à sua situação de iniquidade. O 8 de março é um dia para envergonhar-nos por nossa submissão ante um sistema patriarcal retrógrado e perverso.

É hora de assumir nossa responsabilidade neste cenário de injustiça e lutar contra a falta de sensibilidade humana daqueles que, desde o poder, permitem tragédias como esta. 

Carolina Vásquez Araya | Colaboradora da Diálogos do Sul da Cidade da Guatemala.
Tradução: Beatriz Cannabrava.


As opiniões expressas nesse artigo não refletem, necessariamente, a opinião da Diálogos do Sul

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Carolina Vásquez Araya Jornalista e editora com mais de 30 anos de experiência. Tem como temas centrais de suas reflexões cultura e educação, direitos humanos, justiça, meio ambiente, mulheres e infância

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