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Ex-presidentes dos EUA George H. W. Bush, Barack Obama, George W. Bush, Bill Clinton e Jimmy Carter - 7 de janeiro de 2009 (Foto: Joyce N. Boghosian / Casa Branca)

9 de agosto: Dia Internacional dos Crimes Estadunidenses Contra a Humanidade

Hoje existe uma crescente consciência internacional sobre o papel dos Estados Unidos como símbolo de uma civilização que, já se sabe, caminha à autoextinção
Alejo Brignole
Correo del Alba

Tradução:

A breve história dos Estados Unidos está cheia até transbordar de atos tão execráveis quanto os de 9 de agosto. Há suficientes pesquisadores que tentaram quantificar as vítimas causadas pela multitude de guerras geradas pelos Estados Unidos. Não são cálculos fáceis, porque os critérios são difíceis de padronizar. Um deles destaca que, somente após a Segunda Guerra Mundial, o número de mortes provocadas pelos EUA supera os 20 milhões em 37 nações atacadas. Outro estudo realizado pela Universidade de Brown (EUA), sobre as mortes causadas no Oriente Médio e na Ásia após o 11 de Setembro, menciona 800 mil vítimas diretas (sem contar doenças e fomes provocadas pela destruição) e 21 milhões de deslocados, com impacto em cerca de 80 países. Cálculos diferentes, também americanos, estimam em seis milhões o número de mortes e seis países devastados desde 2001 (Líbia, Síria, Somália, Iémen, Iraque e Afeganistão).

Diante de sua própria crise sistêmica interna e seu progressivo enfraquecimento como primeira potência belicista, hoje existe uma crescente consciência internacional sobre o papel dos Estados Unidos como símbolo de uma civilização que, já se sabe, caminha pela beira da autoextinção. Abismo terrível que se forma ano após ano com cada nova guerra e cada genocídio silenciado pela imprensa corporativa. Também com cada nova opressão dos países fortes sobre os economicamente mais fracos e menos militarizados.

Esse abismo, cuja estrutura tem profundas fissuras históricas, se ampliou de maneira dramática a partir da irrupção dos Estados Unidos no cenário civilizatório, há já dois séculos e meio. Influência sinistra que se expandiu como um mar vermelho de sangue desde a primeira metade do século XX.

Desde então, os mais delirantes horrores, as injustiças mais surrealistas e as opressões mais obscenas foram sistematizados de múltiplas maneiras, cada vez de forma mais científica, com metodologias renovadas e com um espantoso corpus doutrinário concebido contra o ser humano e as nações.

Essa trama tenebrosa que não cessou –mas antes se aperfeiçoou em seus alcances– teve nos sucessivos governos americanos sua melhor vanguarda, pois todos eles deployaram recursos infinitos, suas dialéticas de morte, suas máquinas de guerra e seus pensadores mais agudos para moldar as arquiteturas imperiais que já conhecemos em todos os continentes, mas sobretudo na África e na América Latina. Construtos que permitiram às elites norte-americanas ampliar sua hegemonia e garantir um fluxo constante de bem-estar a essa mesma plutocracia demencial, sempre sedenta de uma acumulação sem escrúpulos. Nenhum.

Nosso mundo está já configurado segundo esses esquemas e, como tal, encontra-se às portas de seu próprio colapso. Já não existem acordos coletivos que não tenham sido violados com todo tipo de fórmulas infames –ou simplesmente pela força bruta– enquanto fomos imersos em uma deriva militarista que vai muito além de nossa imaginação e genuína compreensão.

Por essas razões, é de enorme significação simbólica –mas também concreta– que ativistas, intelectuais, comunicadores e artistas de diferentes países façam ouvir sua voz contra essa herança necrófila que uma única nação –por enquanto, a mais poderosa– impõe ao conjunto humano.

Após o dantesco genocídio palestino a mãos do sionismo israelense, toda a melhor humanidade grita e vibra com o anseio insatisfeito de viver em um mundo sem donos nem opressores. Sem ladrões da dignidade, nem vexadores das esperanças. Essa humanidade interpela a civilização e nossas consciências sobre o direito e o imperativo moral de construir algo diferente, distante dos paradigmas de morte e saqueio que os Estados Unidos impuseram ao nosso tempo e à nossa casa comum, a Terra.

Estou convencido de que uma forma dessa construção, talvez pequena –mas nada desprezível– é comemorar a cada ano o 9 de agosto, Dia Internacional dos Crimes Americanos Contra a Humanidade. Fazer isso em nossos ambientes naturais, por mais humildes que possam parecer: em nossas fábricas, escolas e bairros. Em escritórios e claustros universitários. Nos grandes estádios e festivais multitudinários, mas também no íntimo seio de nossas famílias. Façamos isso com nossos telefones e redes sociais. Com nossos cânticos e poesias. Com gestos de fúria ou com mãos amorosas. Devemos comemorar, recordar, condenar e tornar visível para quem quiser nos ouvir, que existe um dia em que os horrores mais abjetos de um Estado imperialista –e portanto criminoso– emergem novamente à luz, como um morto redivivo que nos mostra com seu rosto corrompido a barbárie de uns poucos.

Levemos, pois, essa luz feita de verdades terríveis a este mundo adormecido que avança como cego em direção àquele abismo negro. Tão negro que suas trevas são ominosas. No entanto, jamais percamos de vista que nossa história coletiva como civilização e como espécie pode –e deve– seguir de outra maneira.

Sejamos participantes ativos dessa possibilidade.


As opiniões expressas neste artigo não refletem, necessariamente, a opinião da Diálogos do Sul do Global.

Alejo Brignole Argentino, analista internacional, escritor e membro da Rede de Intelectuais e Artistas em Defesa da Humanidade (REDH).

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