Pesquisar
Pesquisar

Na Espanha, selo postal com símbolo do Partido Comunista faz sucesso e direita se revolta

Uma associação de “advogados cristãos” apresentou uma denúncia na qual solicitou, como “medida cautelar”, a retirada dos itens do mercado
Armando G. Tejeda
La Jornada
Madri

Tradução:

A tentativa de censura provou justamente o contrário do que pretendiam. A empresa pública espanhola de correios emitiu um selo com o símbolo do Partido Comunista Espanhol (PCE) em homenagem aos cem anos de sua fundação. A reação dos partidos políticos, meios de comunicação e líderes de opinião da direita espanhola foi furibunda: pediram que se retirassem os selos e demandaram perante tribunais para evitar sua distribuição. Mas o resultado foi justamente o contrário e a empresa pública anunciou que dado o êxito decidiu aumentar a tiragem, de 135 mil a 435 mil unidades.

Uma associação de “advogados cristãos” apresentou uma denúncia na qual solicitou, como “medida cautelar”, a retirada dos selos do mercado. A juíza assim o decretou, pelo menos durante uns dias, mas depois de uma semana se levantaram essas medidas e se qualificou a denúncia por improcedente. O argumento dos “advogados cristãos” era de que se utilizam as administrações públicas para “promover uma ideologia”. 

Uma vez que foi levantada a proibição e se deu via livre à comercialização, os Correios informaram que em menos de duas semanas esgotou-se a série dos 135 mil selos com a foice e o martelo, e que, portanto, e dado o êxito, aumentaram a tiragem a 435 mil. 

Ao justificar sua decisão, os Correios explicaram que a emissão deste selo comemorativo estava justificada pela própria história do PCE. Em 15 de abril de 1920 foi criado o Partido Comunista Espanhol, conhecido como o das cem crianças por sua origem nas Juventudes Socialistas. Um ano mais tarde surgiu um segundo destacamento, o Partido Comunista Obrero Espanhol, após a intervenção da Internacional Comunista da Espanha em 14 de novembro de 1921. Em março de 1922, celebrou seu primeiro congresso. “Uma história com muitos rostos de mulheres e homens que decidiram comprometer-se para mudar a realidade de um país injusto e desigual”, justificou a instituição.

Destacou-se sobretudo que “durante o regime franquista, apesar das duras condições de clandestinidade, o PCE converteu-se no motor das forças que lutaram pela democracia. Foram milhares, mulheres e homens, que promoveram um novo socialismo a partir da base, apegado a cada centro de trabalho, sociopolítico na reivindicação de direitos trabalhistas e liberdades políticas, duas caras de uma mesma moeda que era impossível separar, As Comissões Operárias. Ao mesmo tempo, surgiu um poderoso movimento de bairro, universitário, feminista e inclusive no seio da igreja católica, que contribuiu para reconstruir uma sociedade civil democrática”. 

O PCE foi legalizado na semana santa de 1977. Após a instauração da democracia em 1978, o PCE participou na elaboração da Constituição espanhola e no desempenho do sistema de partidos. Desde 1986, compõe o seio da Esquerda Unida (EU), um partido hoje fundido com o Unidas Podemos (UP).

A reação da direita em reconhecer a história de resistência do PCE foi furibunda, desde a extrema direita do Vox até o Partido Popular, que declarou. “A história do PCE é de violência, checas, passeios, ódio e totalitarismo contra todos os espanhóis, inclusive os da esquerda”, disseram a partir de Vox, que instou a “que os jovens conheçam seu passado criminoso e genocida sem manipulações”. Cidadãos também criticaram os selos ao afirmar que “é comemorar o ódio, o crime e a miséria. Contraria, além disso, a resolução europeia de 2019 sobre o comunismo e o nazismo. Mancha a imagem da Espanha e é uma vergonha”. 

Enrique Santiago, secretário general do PCE, respondeu alegando que as críticas da direita são a prova de que “não são democratas e que não suportam a democracia, nem que o PCE tenha estado na primeira linha para defendê-la cada vez que as oligarquias e os reacionários tentaram acabar com ela”.

Armando G. Tejeda | Correspondente do La Jornada em Madri.


As opiniões expressas nesse artigo não refletem, necessariamente, a opinião da Diálogos do Sul

Assista na TV Diálogos do Sul


Se você chegou até aqui é porque valoriza o conteúdo jornalístico e de qualidade.

A Diálogos do Sul é herdeira virtual da Revista Cadernos do Terceiro Mundo. Como defensores deste legado, todos os nossos conteúdos se pautam pela mesma ética e qualidade de produção jornalística.

Você pode apoiar a revista Diálogos do Sul de diversas formas. Veja como:


As opiniões expressas neste artigo não refletem, necessariamente, a opinião da Diálogos do Sul do Global.

Armando G. Tejeda Mestre em Jornalismo pela Jornalismo na Universidade Autónoma de Madrid, foi colaborador do jornal El País, na seção Economia e Sociedade. Atualmente é correspondente do La Jornada na Espanha e membro do conselho editorial da revista Babab.

LEIA tAMBÉM

26009193562_179216de77_b
Trump sugere usar militares contra “inimigos internos” e historiadora afirma: “é um ensaio”
38 anos de prisão e multa de US$ 2 mi - conheça detalhes do julgamento de García Luna nos EUA
38 anos de prisão e multa de US$ 2 mi: conheça detalhes do julgamento de García Luna nos EUA
Amianto liberado por ataques de Israel pode gerar câncer durante décadas em Gaza
Amianto liberado por ataques de Israel pode gerar câncer durante décadas em Gaza
Sri Lanka - os desafios do presidente marxista Anura Kumara Dissanayake
Sri Lanka: os desafios do presidente marxista Anura Kumara Dissanayake