Dezenas de organizações populares criaram um abaixo assinado condenando a recente decisão do Conselho de Segurança da Organização das Nações Unidas (ONU) de enviar forças militares ao Haiti.
As entidades destacam que a operação será liderada pelos EUA com a participação do exército de diferentes países, e denunciam “o carácter imperialista, racista e genocida desta ‘autorização’ ilegal para invadir um país soberano para controlar o seu povo”.
O texto também aponta a ação da MINUSTAH, que “tem sido responsável por massacres, fraude eleitoral, pilhagem de recursos, abuso sexual e abandono de crianças, introdução da epidemia de cólera e outros acontecimentos de gravidade semelhante”. Apesar dos crimes , “nem a ONU nem nenhum dos países participantes assumiram qualquer reparação pelas mais de 30 mil mortes ou outros danos e vítimas”, afirmam.
As organizações populares reforçam ainda que o povo haitiano já se expressou claramente “contra qualquer ocupação e contra quaisquer eleições controladas sob ocupação”.
Confira a seguir o texto completo e, a seguir, o link para assinar o manifesto.
Solidariedade ao Haiti: Rejeitamos a nova invasão
Os Comitês de Solidariedade ao Haiti e outras organizações populares abaixo assinadas, de toda a América Latina e do Caribe, rechaçam indignados a decisão do Conselho de Segurança da Nações Unidas – ONU de autorizar o envio de uma força de invasão armada multinacional ao Haiti, supostamente para apoiar o governo ditatorial daquele país no combate às gangues paramilitares e organizar eleições. Não será uma missão oficial da ONU, mas sim uma missão organizada diretamente pelos EUA, que, juntamente com o Equador, apresentaram a resolução aprovada hoje no primeiro dia da presidência do Brasil no Conselho, com 13 votos a favor e a abstenção da Rússia e China.
Alarmados, perguntamos: no que se tornou a ONU? Denunciamos o carácter imperialista, racista e genocida desta “autorização” ilegal para invadir um país soberano para controlar o seu povo, e repudiamos a retórica de “solidariedade” e “apoio ao povo do Haiti” com a qual procura camuflar intenções macabras.
Não é a “solidariedade” com o povo do Haiti responder ao pedido inconstitucional formulado por um governo ditatorial, colocado no seu lugar e mantido pela mesma “comunidade internacional” que agora redobra o seu apoio contrariamente às reivindicações legítimas de uma vasta gama dos direitos sociais, políticos e humanitários do Haiti, ignorando mais uma vez a soberania e a autodeterminação do povo haitiano com as suas exigências e propostas para resolver esta crise gerada pela mesma intervenção estrangeira de longa data.
Não é “apoio” continuar ignorando o povo do Haiti, ignorando as suas queixas que vinculam Ariel Henry, o atual governo de fato e os seus “protectores internacionais” liderados pelos Estados Unidos, à proliferação dos bandos armados que aqueles mesmos atores procuram controlar através desta nova invasão. As gangues paramilitares foram criadas pelos governos de Michel Martelli, Jovenel Moïse e Ariel Henry, pela oligarquia haitiana e pelos Estados Unidos, de onde vêm as armas e munições. Estão politicamente instrumentalizados para controlar o grande movimento popular que se desenvolveu nos últimos anos no Haiti – um movimento nacionalista, anti-oligárquico, anti-imperialista, anti-ocupação, que luta para viver em liberdade, pela recuperação da sua soberania e pelo respeito de todos os seus direitos.
Denunciamos os EUA e a ONU, que se tornaram um instrumento direto de agressão e dominação por parte dos EUA e da União Europeia. Por meio da ONU, os EUA impõem a sua agenda. O Haiti está sob ocupação da ONU desde 2004, ocupado militarmente pela MINUSTAH durante 13 anos, depois pelas forças policiais -MINUJUSTH-, hoje por uma missão política chamada BINUH, que juntamente com o chamado “Core Group” (Grupo Central) dá apoio às diretivas políticas e econômicas no Haiti. Este grupo inclui os EUA, França, Espanha, Brasil, Alemanha, Canadá, União Europeia, bem como representantes da ONU e da Organização dos Estados Americanos – OEA.
Foto: Marcello Casal Jr/ABr
O povo haitiano, através das suas organizações sociais, políticas e humanitárias, expressou-se claramente contra qualquer ocupação
Além da própria invasão, a MINUSTAH tem sido responsável por massacres, fraude eleitoral, pilhagem de recursos, abuso sexual e abandono de crianças, introdução da epidemia de cólera e outros acontecimentos de gravidade semelhante. Nem a ONU nem nenhum dos países participantes assumiram qualquer reparação pelas mais de 30.000 mortes ou outros danos e vítimas.
Repudiamos esses crimes e o fato de que, em vez de sancionar os responsáveis e garantir a reparação dos crimes cometidos sob o seu comando, a ONU entrega diretamente a organização e o controle desta nova invasão aos Estados Unidos, que procura impor, após eleições controladas, um novo governo de seus asseclas. A agenda prevê então a reforma da Constituição e a consolidação do poder autocrático para continuar a pilhagem do Haiti e a subjugação do seu povo.
O povo haitiano, através das suas organizações sociais, políticas e humanitárias, expressou-se claramente contra qualquer ocupação e contra quaisquer eleições controladas sob ocupação. Reiteramos a nossa solidariedade e apelamos um amplo apoio às suas exigências de formação de uma Comissão internacional independente para avaliar o impacto das intervenções anteriores, bem como o respeito pelos acordos de Montana e outras exigências do povo haitiano.
BASTA DO GENOCÍDIO SILENCIOSO CONTRA O POVO REBELDE DO HAITI!
FORA A OCUPAÇÃO DA ONU E DOS EUA através do QUÊNIA!
NENHUMA INVASÃO ARMADA!
SOBERANIA PARA O GOVERNO DE TRANSIÇÃO HAITIANO EXIGIDO PELAS ORGANIZAÇÕES POPULARES HAITIANAS
América Latina e Caribe, 2 de outubro de 2023.
Assine o apoio da sua organização aqui: https://bit.ly/RechazamosInvasionHaiti
Para conferir o texto original e consultar a lista completa de organizações populares que já assinaram o manifesto, visite o portal Haití Libre y Soberana.
Redação | Haití Libre y Soberana
Tradução: Jubileu Sul Brasil
As opiniões expressas nesse artigo não refletem, necessariamente, a opinião da Diálogos do Sul
Assista na TV Diálogos do Sul