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ToggleA influenciadora de direita Karol Eller, 36 anos, morreu na noite de 12 de outubro após uma queda do prédio onde residia. O episódio chocou as redes sociais e revisitou preocupações sobre os riscos e os impactos devastadores que as terapias de reorientação sexual, conhecidas como “cura gay”, podem ter na vida de indivíduos LGBTQIA+.
Prima de terceiro grau da cantora Cassia Eller, ela havia iniciado um processo de renúncia à sua orientação sexual após retornar de um retiro religioso. Pouco antes de sua morte, Karol compartilhou mensagens em suas redes sociais, incluindo afirmações como “perdi a guerra” e “lutei pela pátria”. Ela também havia publicado um post no Instagram falando sobre suicídio, que depois excluiu.
A criação e a queda do projeto da “cura gay”
O método da “cura gay,” também conhecido como Terapia de Reorientação Sexual, Terapia de Conversão ou Terapia Reparativa, envolve um conjunto de técnicas destinadas a suprimir a homossexualidade em um indivíduo. Essas técnicas abrangem métodos psicanalíticos, cognitivos, comportamentais, tratamentos clínicos e abordagens religiosas. A principal controvérsia é que a prática enxerga a orientação sexual como uma doença, pois o termo “cura” implica a eliminação de algo considerado prejudicial.
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Foto: Reprodução/Redes sociais
É fundamental que a sociedade promova aceitação e apoio a todas as pessoas, independentemente de sua orientação sexual
No entanto, a Organização Mundial da Saúde (OMS) já há décadas rejeitou a ideia de que a orientação sexual seja uma doença, definindo a homossexualidade como uma variação natural da sexualidade humana. No Brasil, em 1999, o Conselho Federal de Psicologia proibiu seus profissionais de participarem de qualquer terapia destinada a alterar a orientação sexual de qualquer pessoa. Já o Conselho Federal de Medicina há mais de 30 anos deixou claro que a homoafetividade não é considerada uma condição patológica pela classe médica.
Não obstante a manifestação dos órgãos de saúde nacionais e internacionais, em 2011 o deputado federal João Campos, do PSDB de Goías, apresentou um Projeto de Decreto Legislativo (PDC) com o objetivo de suspender a resolução do Conselho Federal de Psicologia.
Após anos de tentativas infrutíferas de votação e ampla oposição pública, o projeto foi aprovado em 18 de junho de 2013 pela Comissão de Direitos Humanos e Minorias da Câmara dos Deputados. 15 dias depois, no entanto, o próprio autor do texto, João Campos, solicitou o cancelamento da tramitação em resposta à manifestação contrária do seu partido, o PSDB.
A maioria dos partidos aprovou o arquivamento, com exceção do PSOL, que não apenas buscava o arquivamento da proposta, mas também a proibição de que fosse reapresentada.
Já em 4 de julho, apenas dois dias após o requerimento de João Campos para cancelar o PDC, acontece uma nova ofensiva: um novo projeto é apresentado na Câmara, desta vez com visando não apenas suspender, mas extinguir a determinação do Conselho Federal de Psicologia que proibia a “cura gay”. Desta vez, o pedido foi indeferido imediatamente.
Vale ressaltar que o indeferimento de projetos como esse tem limitações temporais, de acordo com o Regimento Interno da Câmara, o que impede a reapresentação de uma proposta de conteúdo semelhante no mesmo ano em que a primeira foi arquivada.
Violência que mata
Karol Eller vivia sob intensa pressão de apoiadores de Jair Bolsonaro ligados a instituições religiosas, que acompanhavam suas transmissões ao vivo nas redes sociais e tentavam persuadi-la a formar uma família heterossexual. Um exemplo é o senador Magno Malta (PL-ES), que em um vídeo publicado nas redes sociais após a morte de Eller admitiu que tentava moldar a sexualidade da influenciadora:
“Na última live eu falei com ela: ‘Deus está preparando uma família para você, eu quero muito estar no seu batismo… Deus está preparando um varão pra você’”, afirma o bolsonarista na publicação.
Magno Malta sobre o falecimento de Karol Eller: “Deus estava preparando um varão (homem) pra você”.
Imagina a pressão que essa menina passou nas mãos desses falsos cristãos.
Não existe “cura gay”. Isso é CRIME! pic.twitter.com/X8b3605bnt— Lázaro Rosa ?? (@lazarorosa25) October 13, 2023
Em setembro, Karol havia participado de um retiro religioso e logo depois declarou em suas redes ter “renunciado à prática homossexual” e a “vícios e desejos da carne”. Tanto a pressão bolsonarista quanto a decisão de Eller após a participação do retiro refletem a pressão vivida por muitos indivíduos LGBTQIA+ muitas vezes obrigados a vivenciarem terapias de “cura gay”.
Controvérsias e opiniões divergentes
Karol Eller, embora tenha se identificado publicamente como lésbica, expressou opiniões controversas em suas postagens, frequentemente criticando o que ela classificou como “vitimismo” no movimento LGBTQIA+. Em um de seus vídeos, ela chegou a afirmar que “Não é porque um gay morreu assassinado que é homofobia”. As declarações geraram debates e discussões acaloradas.
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Durante as eleições de 2022, a influenciador apoiou o ex-presidente Jair Bolsonaro, defendendo que ele não era homofóbico. Vale mencionar ainda sua participação nos atos golpistas do 8 de janeiro, o que levou à demissão de Karol da Empresa Brasileira de Comunicação (EBC).
Depoimento de um amigo próximo
O jornalista Tiago Pavinatto era amigo de Karol Eller e desabafou em suas redes sociais a morte da ativista bolsonarista, atribuindo a pressão para a reorientação sexual como um fator determinante para o suicídio. Ele afirmou que “as terapias de reorientação sexual são sessões de tortura mental” e destacou que em 90% dos casos elas levam a ideações suicidas e que 100% dos casos agravam quadros de depressão.
Sei que muitos vão me atirar pedras em razão do que vou afirmar. Mas é na condição de homossexual convicto e, ao mesmo tempo, entusiasta do cristianismo e profundo conhecedor do bem que a obra cristã legou à humanidade que devo dizer: o suicídio de Karol Eller decorreu do seu??
— Pavinatto (@Pavinatto) October 13, 2023
A morte de Karol Eller é um lembrete angustiante de que as terapias de reorientação sexual não apenas são ineficazes, mas também potencialmente letais. O sofrimento emocional que muitos indivíduos LGBTQ+ enfrentam ao tentar se conformar com padrões impostos por essas práticas é motivo de grande preocupação. É fundamental que a sociedade promova aceitação e apoio a todas as pessoas, independentemente de sua orientação sexual, a fim de evitar tragédias como a de Karol no futuro.
George Ricardo Guariento | Jornalista e colaborador da Diálogos do Sul.
As opiniões expressas nesse artigo não refletem, necessariamente, a opinião da Diálogos do Sul
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