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Com remessas, imigrantes garantem vida digna a familiares, mas lutam para sobreviver nos EUA

No seu povoado, onde antes havia casas de adobe, começaram a construir moradias de três andares; Clementino, então, decidiu partir em busca do mesmo
Ilka Oliva Corado
Diálogos do Sul Global
Território dos EUA

Tradução:

Conheceu o salmão em Nova York quando o viu cozido em bandejas no supermercado. Doze dólares o pedaço de meia libra. Doze dólares, perguntou-se o que podia fazer com doze dólares em sua terra natal Todos Santos Cuchumatán, Huehuetenango, Guatemala. Sem dúvida, alimentar sua família por pelo menos três dias.  

Em Todos Santos Cuchumatan, Clementino trabalhou desde a adolescência no cemitério, primeiro como ajudante de seu tio, onde aprendeu a fazer bicos por aqui e por lá: dias de coveiro, outros de pedreiro, dias de manutenção e dias de pintor, de brocha grande e de pincel pequeno.

Aprendeu de memória a bandeira dos Estados Unidos quando começaram a chegar os corpos de migrantes que morriam naquele país e que o haviam adotado como sua segunda pátria, gente que estava tão agradecida com o sustento que pediu que em seu túmulo pintassem a bandeira dos Estados Unidos junto com a da Guatemala. Pedidos expressos de paisagens das urbes estadunidenses e das montanhas de Todos Santos Cuchumatan.

Do Norte, chegavam os dólares para construir grandes panteões para famílias completas. A Clementino lhe impressionava o luxo daqueles que se haviam ido com uma mão na frente e outra atrás. Seguro que nos Estados Unidos lhes ia muito bem para desperdiçar assim o dinheiro, pensou. 

Grande parte do povoado havia migrado. Quando Clementino alcançou a maior idade, onde antes havia casas de adobe começaram a construir moradias de blocos de três andares e espaço amplo para estacionar os carros usados que chegavam rodados pela fronteira entre o México e a Guatemala.

No seu povoado, onde antes havia casas de adobe, começaram a construir moradias de três andares; Clementino, então, decidiu partir em busca do mesmo

Eric Parker – Flickr

Em Nova York, Climentino percebeu que, diferente do imaginado, a maioria dos imigrantes viajavam de trem por não ter carro (img ilustrativa)

Os jovens se emocionaram ao ver aquela fortuna e começaram a emigrar em massa. Entre eles, Clementino também foi embora, prometendo à sua família o envio de remessas semanais para a construção da casa de blocos com estacionamento grande para os carros que enviaria. 

Assim foi que se topou em Nova York com aldeias completas, imaginando que as encontraria vivendo na opulência, como demonstravam as remessas para construir os panteões e as casas de três andares. Mas para sua surpresa, estavam amontoados em edifícios localizados nas zonas mais pobres da cidade, com três e quatro famílias alugando um apartamento de um quarto. Encontrou quadrilhas de trabalhadores vivendo nos porões das casas de outros guatemaltecos que lhes alugavam de favor. 

A maioria dos imigrantes viajando de trem porque não tinham carro, que também como ele um dia se perguntaram o que podiam fazer na Guatemala com os doze dólares que valia a meia libra de salmão no deli do supermercado.

Ilka Oliva-Corado | Colaboradora da Diálogos do Sul em território estadunidense.
Tradução: Beatriz Cannabrava.


As opiniões expressas nesse artigo não refletem, necessariamente, a opinião da Diálogos do Sul

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Ilka Oliva Corado Nasceu em Comapa, Jutiapa, Guatemala. É imigrante indocumentada em Chicago com mestrado em discriminação e racismo, é escritora e poetisa

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