Quando já se descartava que o presidente Gustavo Petro (2022-) fosse se pronunciar sobre os recentes acontecimentos políticos da Venezuela, o chefe de Estado colombiano exortou que se levante o bloqueio econômico dos Estados Unidos contra o país vizinho e instou Caracas a desenvolver “eleições livres”.
Após semanas de queixas e reclamações de porta-vozes das forças tradicionais exigindo que Petro falasse sobre a inabilitação de Maria Corina Machado como candidata presidencial, assim como sobre a detenção da ativista Rocío San Miguel, o presidente publicou uma extensa mensagem em sua conta no X referindo-se a esses temas.
“O que causou a migração de milhares de venezuelanos chama-se bloqueio econômico e um governo colombiano ajudou a fazê-lo, o que se converteu em um verdadeiro bumerangue. Bloquearam a venda internacional de petróleo e disso vivia a Venezuela”, comentou Petro em uma análise da história recente do país com o qual a Colômbia compartilha 2.219 quilômetros de fronteira e vários séculos de história.
O chefe de Estado definiu com crueza o drama humanitário da massiva migração venezuelana: “Suas mulheres e jovens foram humilhados em nossos países e agora os migrantes marcham aos milhões para os Estados Unidos. A política profundamente equivocada de Duque e Trump criou um novo ator da violência que hoje explode em todas as sociedades da América”.
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Flickr/Fórum Mundial de Economia/Jakob Polacsek
Com medida do Governo Petro, universidades públicas da Colômbia vão acolher gratuitamente os jovens venezuelanos
Segundo Petro, a Colômbia – com 2,8 milhões migrantes em seu território – é o país mais interessado em que a Venezuela viva em paz, em democracia profunda e volte a ter bem-estar, e para isso “deve-se levantar o bloqueio e haver eleições livres”.
O primeiro pronunciamento do presidente colombiano sobre o panorama eleitoral da Venezuela – hoje sob os refletores da comunidade internacional – foi complementado com o anúncio de que as universidades públicas do país acolherão gratuitamente os jovens venezuelanos, oxalá com ajuda financeira – disse – “do governo dos Estados Unidos”.
Apesar das reclamações de porta-vozes de partidos de oposição pelo silêncio de Petro, frente ao agitado clima político do vizinho, terem ocupado a agenda informativa durante vários dias, o pronunciamento do presidente da Colômbia não gerou comentários nos meios de comunicação nem nas redes sociais.
Jaime Rueda, acadêmico e especialista em temas latino-americanos, contrastou o pronunciamento de Petro com o de outros presidentes e líderes de esquerda da região: “Muitos se apressaram a condenar o governo bolivariano e até chamaram Maduro de ditador, mas o único que deu algo de contexto ao que acontece na Venezuela foi o mandatário colombiano”, comentou ao La Jornada.
Rueda lembrou ainda que, exceto durante os meses da campanha presidencial em que várias vezes tomou distância da revolução bolivariana e de Maduro, Petro tem uma longa história de vínculos com o chavismo, o que se reflete nas fluidas relações bilaterais da atualidade “com uma notória reativação do comércio e da cooperação em numerosas áreas”.
No ano e meio que leva na Casa de Nariño, o presidente da Colômbia se reuniu quatro vezes com seu homólogo venezuelano, e delegações de alto nível de ambos os países vão e vêm entre Caracas e Bogotá, onde as embaixadas foram reabertas há mais de um ano, após permanecerem fechadas em quase todos os quatro anos do governo de Iván Duque.
Jorge Enrique Botero | La Jornada, especial para Diálogos do Sul – Direitos reservados.
Tradução: Beatriz Cannabrava
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