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EUA: primárias apontam disputa Biden/Trump, mas 59% não querem nem um, nem outro

Prévias são realizadas internamente em cada partido para decidir quais candidatos participarão da eleição geral, no fim de 2024
Jim Cason
La Jornada
Nova York

Tradução:

A eleição primária de Nova Hampshire na última terça-feira (23) produziu o resultado que a maioria dos estadunidenses não queria: o ex-presidente Donald Trump e o presidente Joe Biden se enfrentarão na contenda eleitoral que culmina em novembro de 2024.

Com a canção dos Beatles “Revolution” como pano de fundo, Trump festejou sua decisiva vitória de 54% contra 44% contra seu último rival ativo pela candidatura presidencial republicana, a ex-governadora da Carolina do Sul, Nikki Haley, à qual de imediato atacou, apesar de ter sido sua embaixadora junto à Organização das Nações Unidas (ONU).

Embora as pesquisas e a maioria dos analistas acreditem que Haley tem praticamente nenhuma possibilidade de ganhar a indicação de seu partido, ela afirmou que continuará na disputa interna com seu ex-chefe – uma decisão que obrigará Trump a continuar dedicando tempo e dinheiro às próximas primárias em diversos estados, em vez de se focar completamente na batalha política contra Biden na eleição geral. A próxima eleição primária importante – que ocorre em cada estado – está programada para 24 de fevereiro na Carolina do Sul, quando os eleitores do estado de origem de Haley decidirão qual dos dois candidatos republicanos preferem contra o democrata Biden.

Mas o que se revelou nesta última primária é que o problema dos republicanos com a “revolução” de Trump é que, embora continue convencendo a maioria dentro desse partido, o ex-presidente provavelmente terá dificuldade em ganhar o apoio de republicanos moderados, dos quais necessitará na eleição geral contra Biden. Pesquisas de boca de urna em Nova Hampshire sugerem que até 20% dos republicanos que emitiram votos na primária dizem que não votarão em Trump na eleição geral. As mesmas pesquisas registram que até dois terços dos eleitores “independentes” (ou seja, não filiados a nenhum dos dois partidos nacionais) tampouco votarão no magnata populista. Haley, que ganhou 65% dos votos dos independentes, argumenta que, aos 52 anos, ela é a alternativa moderada republicana que pode derrotar o democrata Biden, de 81 anos, e com isso demonstrar a vitalidade de seu partido.

Não obstante, Haley não chegou nem perto de derrotar Trump em Nova Hampshire – onde esperava surpreendê-lo – e, portanto, é muito mais difícil seu caminho para conquistar a coroa de seu partido. Nunca antes um candidato republicano, que não seja um presidente em exercício, ganhou ambos: Iowa (a primeira eleição interna estadual realizada na semana passada) e Nova Hampshire. Nesta quarta-feira, Ronna McDaniel, presidenta do Comitê Nacional Republicano, apelou a todo seu partido para se consolidar atrás do ex-presidente só depois das primeiras duas de mais de 50 primárias programadas.

A campanha de reeleição de Biden já está focada na reeleição geral contra Trump. Pelo menos até hoje, a campanha do democrata se centrou nos perigos que Trump representa para o país se ganhar a presidência. Isso está funcionando. Em Nova Hampshire, o nome de Biden nem estava nas cédulas, porém mais pessoas escreveram à mão seu nome em seus votos do que qualquer de seus dois opositores dentro do Partido Democrata que apareciam impressos nas cédulas. A próxima eleição primária democrata é a da Carolina do Sul, em 4 de fevereiro, de onde se espera um amplo triunfo do presidente.

A campanha de Biden obteve um grande impulso na quarta, quando o sindicato automotivo UAW anunciou seu endosso oficial à candidatura do presidente em seu congresso de inverno. “Não é outra coisa mais que nossa melhor oportunidade para tomar o poder para a classe trabalhadora”, declarou o presidente da UAW, Shawn Fain. “Esta eleição se trata de quem se porá de pé conosco e quem impedirá nosso caminho. Nosso endosso tem que ser ganho e Joe Biden o ganhou”.

Em meio triunfo nas negociações de um novo contrato coletivo com as três grandes empresas automobilísticas do país, uma vitória na qual Biden ajudou quando se tornou o primeiro presidente em exercício a visitar um piquete de greve, a decisão da UAW ajudará a mobilizar não só seus 400 mil membros, mas também a participação de seus 580 mil membros aposentados, o que poderia ter um impacto maior. Nas últimas duas décadas, as cúpulas dos sindicatos nacionais sempre endossaram os candidatos democratas, mas suas bases às vezes votaram em republicanos. Essas decisões poderiam ser determinantes em um estado como Michigan e alguns dos outros estados-chave onde a eleição nacional será definida.

O maior problema aparente para ambos os candidatos ao iniciarem este processo é que uma maioria do eleitorado não deseja outra rodada entre Biden e Trump. Uma pesquisa nacional da Decision Desk HQ/NewsNation emitida na segunda-feira registrou que 59% dos votantes registrados não estão “muito entusiasmados” ou “nada entusiasmados” com uma revanche entre estes dois candidatos.

No Instagram, a repórter do New York Daily News, Molly Crane-Newman, talvez tenha resumido melhor os resultados do dia das primárias em Nova Hampshire na terça-feira, ao reproduzir três alertas de notícias que recebeu nesse dia: a primeira era “ganhou Biden”, a segunda “ganhou Trump” e a terceira foi que os ponteiros do “relógio do juízo final” – criado pelo Boletim dos Cientistas Atômicos em 1947 para alertar “quão perto estamos de destruir nosso mundo” – mudaram para 90 segundos antes da meia-noite, marcando o momento em que o mundo será inabitável.

David Brooks e Jim Cason | La Jornada, especial para Diálogos do Sul – Direitos reservados.
Tradução: Beatriz Cannabrava


As opiniões expressas nesse artigo não refletem, necessariamente, a opinião da Diálogos do Sul

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As opiniões expressas neste artigo não refletem, necessariamente, a opinião da Diálogos do Sul do Global.

Jim Cason Correspondente do La Jornada e membro do Friends Committee On National Legislation nos EUA, trabalhou por mais de 30 anos pela mudança social como ativista e jornalista. Foi ainda editor sênior da AllAfrica.com, o maior distribuidor de notícias e informações sobre a África no mundo.

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