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ToggleNão é possível encontrar um estado nos Estados Unidos onde não surjam protestos contra a guerra de Israel em Gaza, demandando um cessar-fogo imediato e condenando a cumplicidade de Washington no que qualificam como genocídio. Manifestantes interromperam o discurso do presidente Joe Biden na Carolina do Sul, na segunda-feira (8), e depois bloquearam brevemente o acesso ao aeroporto onde ele estava prestes a pousar em Dallas poucas horas depois, apenas algumas das ações incessantes dos últimos três meses em todo o país.
Três pontes e um túnel que conectam Manhattan ao resto do mundo foram bloqueados esta semana por manifestantes contra a guerra de Israel em Gaza, visando fazer com que as pessoas sintam, por algumas horas, algo semelhante à vida sem comunicação e sitiada dos palestinos. Esta é apenas uma das inúmeras ações de protesto nos Estados Unidos nos últimos 90 dias, exigindo um cessar-fogo e condenando a cumplicidade dos EUA nos crimes de guerra contra os palestinos.
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Em universidades públicas e privadas de costa a costa, na frente de sedes de empresas e bancos, em cruzamentos centrais e praças – Wall Street, Times Square e Rockefeller Center, no Lincoln Center – em salões oficiais do Congresso e em frente à Casa Branca, assim como em sedes legislativas estaduais como a da Califórnia, em fóruns acadêmicos ou políticos, nas artérias de trânsito em Los Angeles, nas colinas de São Francisco, no centro de Chicago e até mesmo em cidades e vilarejos menores em estados como Michigan e Flórida, e em estádios esportivos como o estádio dos Yankees, as ações de desobediência civil, marchas, vigílias e manifestações têm sido quase diárias durante os três meses da guerra israelense contra o povo palestino.
Entre as ações locais, houve triunfos, como a aprovação unânime do conselho municipal de Portland, Maine, de uma resolução exigindo um cessar-fogo em Gaza. Em Dearborn e outras cidades, caminhões com telas eletrônicas exibem a mensagem: “Não tem o suficiente para gastos com saúde? Desculpe, mas temos que dar bilhões aos israelenses para lançar bombas contra crianças”.
“Acabe com a ocupação!”, “Cessar-fogo agora” e outros cartazes, juntamente com bandeiras palestinas, decoram os protestos, como os que aconteceram na segunda-feira (8) em Manhattan, onde mais de 325 pessoas foram detidas.
Foto: Reprodução
Embora a cúpula da classe política dos EUA continue apoiando incondicionalmente Israel, há cada vez mais dissidentes no Congresso
Ações “pró-palestinas”
A mídia e alguns organizadores costumam caracterizar essas ações como “pró-palestinas”, e algumas são explicitamente acompanhadas por declarações de apoio à libertação do povo palestino. No entanto, talvez as expressões mais poderosas tenham sido as realizadas por coalizões de grupos muçulmanos e judeus que refutam os argumentos daqueles que classificam essas ações de condenação e crítica de Israel como “antissemitas”. Vozes judaicas pela Paz, Judeus pela Justiça Racial e Econômica, If Not Now, entre outros grupos judeus, convocaram milhares de jovens, juntamente com suas contrapartes muçulmanas e árabe-americanas, bem como grupos anti-guerra e de solidariedade internacional.
Várias universidades suspenderam grupos tanto muçulmanos quanto judeus por liderarem ações de protesto conjuntas, mas isso apenas intensificou e multiplicou os protestos.
EUA e Israel na areia movediça: o fracasso em Gaza e o fim da ordem imperialista mundial
Os responsáveis pela política e o apoio incondicional dos EUA a Israel não conseguiram evitar os protestos de seus cidadãos, como foi o caso de Biden esta semana, ou quando o secretário de Estado Antony Blinken compareceu ao Congresso e teve que aguentar gritos de acusação da cumplicidade dos EUA e de “salvem as crianças de Gaza” enquanto manifestantes eram expulsos.
Vozes extraordinárias
Enquanto isso, as vozes extraordinárias de acadêmicos, jornalistas e artistas reconhecidos que continuam desmascarando as justificativas oficiais e oferecendo o contexto histórico do que está acontecendo não cessam.
O professor Rashid Khalidi, da Universidade de Colúmbia, é uma das vozes proeminentes nos Estados Unidos que continua nutrindo a oposição à posição oficial [https://www.jornada.com.mx/noticia/2023/11/23/mundo/israel-201croba-tierra-mientras-hablamos201d-rashid-khalidi-6582], junto com o professor Jeffrey Sachs, que adverte: “Os Estados Unidos estão completamente isolados globalmente por apoiar Israel neste massacre… É a pior política externa imaginável”.
Para o governo israelense e seus aliados nos Estados Unidos, as vozes dos críticos judeus são as mais perigosas, como é o caso de Noam Chomsky, entre outros, já que rompem o controle da narrativa de que Israel representa todos os judeus.
“Meu desejo hoje é que os guetos judeus de nossos dias – o campo de morte em Gaza e a Cisjordânia ocupada – sejam libertados dos nazistas de nossos dias, o governo israelense, para que todo palestino possa desfrutar da mesma liberdade para seguir seu caminho na vida que felizmente meu pai teve”, escreveu o jornalista americano Aaron Mate ao celebrar o 80º aniversário de seu pai, o doutor Gabor Mate, sobrevivente judeu da ocupação nazista da Hungria, e que hoje é um crítico severo da guerra de Israel contra os palestinos, a qual chama de “o evento mais angustiante que testemunhei em minha vida”.
Contra o sionismo, contra o antissemitismo, pela humanidade
O ritmo e a intensidade dos protestos estão provocando cada vez mais preocupação entre a cúpula política e acadêmica do país. No entanto, algumas pesquisas continuam registrando que uma maioria dos americanos acredita que os Estados Unidos não estão oferecendo apoio suficiente aos palestinos.
Embora a cúpula da classe política dos EUA continue apoiando incondicionalmente Israel, há cada vez mais dissidentes no Congresso, incluindo os senadores Bernie Sanders e Elizabeth Warren e deputados progressistas como Ro Khanna – “apoiar um cessar-fogo é uma questão de consciência” – Rashida Tlaib (palestino-americana), Alexandra Ocasio-Cortez, Barbara Lee e Ilhan Omar, entre outros.
Como medida do impacto dessas vozes, organizações americanas aliadas do governo de Israel – o que alguns chamam de “lobby judeu” – estão contemplando gastar cerca de 100 milhões de dólares nas eleições deste ano para buscar opositores de alguns desses legisladores, relatou o Politico.
Os Estados Unidos, acusam esse mosaico e a oposição, são cúmplices dos crimes de guerra de Israel e proclamam diariamente, mais uma vez, “não em nosso nome”.
David Brooks e Jim Cason | La Jornada, especial para Diálogos do Sul – Direitos reservados.
Tradução: Beatriz Cannabrava
As opiniões expressas nesse artigo não refletem, necessariamente, a opinião da Diálogos do Sul
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