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Foto: Presidência do Peru / X

Ameaça dupla: regime Boluarte apoia desmatamento e privatização da água no Peru

Governo dá duros golpes ao ecossistema, prejudicando sobretudo às populações originárias e seu modelo de vida em prol de grandes empresas
Gustavo Espinoza M.
Diálogos do Sul Global
Lima

Tradução:

Beatriz Cannabrava

Há dois grandes e graves problemas que angustiam o cenário atual no Peru: a lei de Desflorestamento estimulada pelo Governo e a Privatização da Água, programada por iniciativa e pressão do neoliberalismo em curso, docilmente acatado por Dina Boluarte e o empresariado, empenhados em obter novos ingressos a partir da exploração iníqua das necessidades da população

A desflorestamento anunciada mata os bosques, afeta severamente a biodiversidade, significa duros golpes ao ecossistema e prejudica sobretudo às populações originárias e seu modelo de vida. E o faz em proveito de umas quantas empresas empenhadas a sugar a riqueza da terra. E a privatização de água registrou mudanças de primeiro nível porque não se trata só de afetar o líquido que cai pelos canos nos prédios urbanos. A privatização afeta as fontes: as lagunas, os rios, as vertentes originárias da água e os recipientes naturais situados em zonas do alto andina. Também, aliás, tem o mesmo caráter. Orienta-se a converter este requisito humano em uma mercadoria em proveito de grandes consórcios. 

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A estes desafios há que somar os assuntos quase cotidianos que derivam das ações do Poder, inscritas nas decisões do Congresso da República e nas ações dos írritos representantes do Poder Executivo. Por ambas as vias o povo recebe agressões cotidianas que enchem a paciência de milhões. Por isso, bem pode dizer-se agora que a gota contínua desgasta a pedra. Cada vez mais as pessoas gritam conscientemente: Basta já…!

O mais recente foi – no plano legislativo – a foice que cortara cabeças à Junta Nacional de Justiça, em forma ilegal e abusiva. De fato, há críticas fundadas contra organismos desse tipo, mas não se pode convalidar abusos do Poder como o de permitir votar a membros da Comissão Permanente no Plenário, quando não têm permissão, nem sancionar por delitos inexistentes a uns e cobrir as ações dolosas de outros. 

Maria Cordero e Alberto Otárola

A própria inabilitação da Congressista María Cordero se explica somente como uma manobra em favor da Força Popular assegurando-lhe um voto mais para suas tramas. Só assim se explica que de 10 congressistas acusados do mesmo, 9 tenham sido “blindados” pela “maioria” e só ela seja sancionada. 

E pelo lado do Executivo, à “morte súbita” de Alberto Otárola por um assunto de saias, se somou a excentricidade de Dina Boluarte, colecionadora não só de cadáveres, mas também de relógios. No dizer da promotoria, são 15 os acessórios de “alta gama” que guarda a “Dama de Ferro”, que erra uma vez mais. 

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Embora hoje não o pareça, resulta óbvio que em qualquer momento isto vá explodir como um caldeirão. Se não existe uma vanguarda que seja capaz de liderar as inquietudes populares, a situação haverá de derivar na anarquia, mas, em todo caso, não seguirá “tudo como está”. Isso é seguro. 

Os teóricos da política falam de uma “situação revolucionária”. Ela se produz quando “os de cima” não podem seguir governando como antes; e “os de baixo” não aceitam seguir sendo submetidos como sempre. Em outras palavras, “os de cima não podem e os de baixo não querem” seguir como antes. Isso é o que produz uma “crise de Poder”. Mas nem toda crise culmina em uma Revolução. Antonio Gramsci dizia que “quando o velho morre e o novo tarda em aparecer, é quando surgem os monstros”

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Para que se produza uma Revolução é indispensável que confluam dois fatores: os objetivos, e os subjetivos. Os primeiros, tem que ver com a situação real das massas e o nível que alcança nela as contradições de classe. Os segundos, com o grau de preparação que mostrem as forças em estimular e promover a mudança: A vanguarda!

Por isso é indispensável que aqueles que busquem realmente desempenhar um papel protagônico na luta de nosso povo, busque sobretudo chegar à consciência dos trabalhadores e do povo. Mas fazê-lo com uma mensagem política, e não só com um esquema de ordem sindical e reivindicativo.

Mariaátegui e as tarefas do proletariado

José Carlos Mariátegui, em torno da matéria, era bastante claro e direto: “um proletariado sem mais ideal que lutar pelo salário e as condições de trabalho, será sempre incapaz de empreender uma tarefa histórica”. Vale dizer: não basta lutar pelas vantagens. Há que combater contra a sociedade capitalista e burguesa e buscar substitui-la por outra, a sociedade socialista. Pode soar longínquo, mas ela é real, e existe. 

Qualquer mudança que sirva para debilitar a ordem social imperante, constitui um avanço do movimento popular. Ajuda a nutrir a consciência de classe, mas também a organizar e elevar a capacidade de entendimento e compreensão dos trabalhadores. 

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Além disso, a Revolução Social não se decreta, nem se espera. O Poder Popular se constrói na medida que se afirma o papel dos trabalhadores e se consolida a força do povo. Tudo quanto desgaste o inimigo, fortalece nossa trincheira, do mesmo modo como tudo o que nos debilite, serve a nossos adversários. É difícil entendê-lo?


As opiniões expressas neste artigo não refletem, necessariamente, a opinião da Diálogos do Sul do Global.

Gustavo Espinoza M. Jornalista e colaborador da Diálogos de Sul em Lima, Peru, é diretor da edição peruana da Resumen Latinoamericano e professor universitário de língua e literatura. Em sua trajetória de lutas, foi líder da Federação de Estudantes do Peru e da Confederação Geral do Trabalho do Peru. Escreveu “Mariátegui y nuestro tiempo” e “Memorias de un comunista peruano”, entre outras obras. Acompanhou e militou contra o golpe de Estado no Chile e a ditadura de Pinochet.

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