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ToggleA existência de biolaboratórios dos EUA no Peru representa um risco para toda a região. Sob o nome de Namru-6, é conhecida uma unidade militar ligada ao Departamento de Defesa dos Estados Unidos e ao Pentágono, instalada na selva do país amazônico, cujo objetivo, teoricamente, é estudar doenças infecciosas que ameaçam a saúde pública e militar para, em seguida, mitigar possíveis ameaças.
Os biolaboratórios foram estabelecidos em 1983 nas cidades de Lima, Iquitos e Puerto Maldonado. Na capital peruana, o Namru-6 inclui instalações de Biossegurança Nível 3 (BSL-3), enquanto os outros dois laboratórios possuem uma biossegurança nominal de nível 2.
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Os instrumentos de contenção BSL-3 são projetados para trabalhar com microrganismos do grupo de risco 3, que incluem infecções parasitárias como malária e leishmaniose, doenças virais (dengue e outros arbovírus transmitidos por moscas, mosquitos, aracnídeos e carrapatos) e doenças bacterianas como a diarreia do viajante (Escherichia coli, Campylobacter, que causam infecções intestinais de origem zoonótica, Shigella, que causa diarreia, muitas vezes com sangue), entre outros.
Supostamente, a aliança em segurança biológica contribui para o país anfitrião, pois a função desses laboratórios é monitorar possíveis surtos para, em seguida, fornecer uma resposta rápida para conter doenças.
Doenças aumentaram
No entanto, dados do sistema de saúde peruano revelam que, pelo contrário, o número de pacientes com as doenças mencionadas anteriormente aumentou em diferentes períodos, mesmo com a existência dos biolaboratórios americanos.
De acordo com relatórios, o número de casos de malária aumentou de 30.814 em 1989 para 211.561 em 1996; a proporção de casos por Plasmodium falciparum aumentou alarmantemente de 1,6% em 1992 para 28,3% em 1996; e o índice parasitário anual (IPA) aumentou de 2,4 por 1.000 em 1992 para 8,8 por 1.000 em 1996.
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Desde sua instalação, o Namru-6 tem sido questionado porque opera sob sigilo, sob o pretexto de máxima segurança. Também é criticado pelo fato de as Forças Armadas do Peru participarem, mas a instância opera sob comando americano, sendo a única dessa natureza na América Latina.
Em 2020, foi notícia porque, no final de 2019, um membro do Estado Maior da Unidade de Investigação Médica Naval dos Estados Unidos navegou pelo rio Putumayo. O fato causou alarme porque, alguns meses depois, em 2020, eclodiu a pandemia de covid-19 e o Peru foi um dos países da região com mais vítimas fatais, o que levou ao estabelecimento de associações.
Geopolítica e a guerra biológica
Anteriormente, a pesquisadora Olga Pinheiro havia publicado um artigo intitulado “ABC da geopolítica: a guerra biológica“, no qual se refere ao Namru-6, destacando que está na Amazônia peruana, nas proximidades do rio Amazonas — o mais longo e caudaloso do mundo —, chamando a atenção para o grave risco de contaminação, disseminação e proliferação de agentes infecciosos. Alguns sugerem que as capacidades do Namru-6 podem estar sendo usadas para estudar como realizar operações militares em condições de selva latino-americanas hostis.
Se os Estados Unidos têm experiência em realizar experimentos secretos contra sua própria população, como quando na operação secreta Sea-Spray pulverizaram vários vírus na Califórnia para determinar a vulnerabilidade das cidades a um suposto ataque biológico, não há dúvida de que também fariam essas práticas em outros territórios. Por que o exército americano mostrou interesse especial em cólera, malária, febre amarela, baratas e mosquitos portadores de doenças no Peru e não fez nada para conter essas doenças endêmicas?, perguntam alguns.
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Em 2015, o Centro de Estudos Políticos para as Relações Internacionais e Desenvolvimento (Ceprid) denunciou que o Namru-6 está totalmente “fora do controle do governo peruano, pois seus membros, inclusive, gozam do privilégio de imunidade e, portanto, qualquer que seja sua ação, fica no campo da mais absoluta impunidade”. No mesmo ano, o parlamentar Víctor Hugo Neciosup Santa Cruz elaborou um relatório, encomendado pela Área de Serviços de Pesquisa do Congresso da República, intitulado “Uso de tecnologias de informação e comunicação para vigilância de doenças em populações militares no Peru”.
Quatro anos depois, o Congressista Richard Arce, como membro da Comissão de Defesa e Ordem Interna, elaborou um questionário de 10 perguntas sobre o Namru-6 para o ministro da Defesa, José Huerta Torres, que foram respondidas parcialmente algum tempo depois. “Quais medidas são tomadas para evitar que o Namru-6 esteja conduzindo pesquisas e experimentos de guerra biológica em nosso território em benefício dos EUA e que poderiam ser usados em outras partes do mundo?”, foi uma das perguntas. A resposta foi: “O Oficial de Ligação da Direção de Saúde da Marinha participa de reuniões semanais, onde são relatados os avanços dos projetos de pesquisa. Esporadicamente, o diretor de Saúde da Marinha visita suas instalações, a última vez em fevereiro de 2019”.
Dúvidas permanecem
Permanece a dúvida sobre por que o exército americano mostrou interesse especial em cólera, malária, febre amarela, baratas e mosquitos portadores de doenças no Peru e não fez nada para conter essas doenças endêmicas.
Além das formalidades expostas na mídia, surgiram preocupações sobre as verdadeiras intenções das unidades Namru no subcontinente, especialmente no que diz respeito à possível participação na vigilância de atividades políticas, sociais e de segurança em países como Bolívia, Brasil, Colômbia e Peru. Essas preocupações se intensificaram após a autorização concedida pelo Congresso e pelo Poder Executivo do Peru para a entrada de pessoal militar americano com armamento completo em seu território entre 1º de junho e 31 de dezembro de 2023.
À luz desses acontecimentos, surge a questão sobre o verdadeiro objetivo do Namru-6. Embora sua missão declarada se concentre na identificação e mitigação de ameaças de doenças infecciosas, a presença de pessoal militar armado e a falta total de transparência sobre suas atividades geram dúvidas sobre suas verdadeiras intenções.