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Foto: Ministério da Defesa da Rússia

Kremlin manda prender altos funcionários da Defesa por corrupção; entenda o caso

Segundo o porta-voz do Kremlin, Dmitri Peskov, luta contra a corrupção “é um assunto constante e ocorre em todos os ministérios, não apenas no da Defesa”
Juan Pablo Duch
La Jornada
Moscou

Tradução:

Beatriz Cannabrava

Em apenas um mês, até a última quinta-feira (23) – pois se supõe que em breve se conhecerão mais casos –, o Kremlin autorizou a detenção de cinco altos funcionários do Ministério da Defesa sob acusações de corrupção, algo incomum para o exército russo em tão curto espaço de tempo, ainda mais em tempos de operação militar especial.

O porta-voz da presidência russa, Dmitri Peskov, afirma que “não há nenhuma purga” na cúpula militar e defende que a luta contra a corrupção “não é uma campanha, é um assunto constante e ocorre em todos os ministérios, não apenas no da Defesa”. No entanto, os fatos parecem apontar em outra direção. Enquanto Serguei Shoigu – removido para um cargo de menor hierarquia como secretário do Conselho de Segurança russo – estava à frente do Ministério da Defesa, os generais agora destituídos – exceto seu maior protegido, Timur Ivanov, o vice-ministro responsável pela área de construção que caiu em desgraça pouco antes – se consideravam acima de qualquer suspeita.

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Já com o novo titular da pasta, Andrei Belousov, um tecnocrata próximo a Putin cuja missão parece ser colocar ordem nos fluxos milionários destinados à guerra, o Kremlin – na opinião de Nikolai Mitrojin, especialista militar – está aplicando o velho método da época soviética de “não tocar nos amigos (Shoigu) e atacar seus subordinados”, tirando dos arquivos os dossiês de seus excessos acumulados, esperando a luz verde assim que perderem a proteção política. Desse modo, outro colaborador próximo de Shoigu, o diretor-geral de pessoal do Ministério da Defesa, general Yuri Kuznetsov, teve o mesmo destino de Ivanov e acabou em prisão preventiva, acusado de receber “subornos em grande escala” que poderiam lhe render até 15 anos de prisão.

Alguns dias depois, o presidente Putin destituiu o vice-ministro Yuri Sadovenko e nomeou em seu lugar o auditor da controladoria da federação, Oleg Saveliev. Shoigu pôde levar ao conselho de segurança seu incondicional, o primeiro vice-ministro, Ruslan Tsalikov, e ainda não se designou o substituto dos vice-ministros Tatiana Shevtsova, Nikolai Pankov e Aleksei Krivoruchko, que na semana passada apresentaram sua demissão. E na quinta-feira, uma corte militar de Moscou decretou prisão preventiva, ambos por supostos subornos, ao general Vadim Shamarin, diretor-geral de Comunicações do Ministério e subchefe do Estado-Maior do exército, e ao chefe de uma direção-geral do Departamento de encomendas do Estado (principalmente armamentos) no ministério, Vladimir Verteletsky, de quem não se informou o grau militar.

Vingança

No calor dos escândalos de corrupção, a detenção do general Ivan Popov, sob a acusação de roubar 1.700 toneladas de metais destinadas a fortificações na frente em Zaporiyia, é, segundo seus adeptos, uma vingança do general Valeri Gerasimov, chefe do Estado-Maior do exército e responsável máximo pela operação na Ucrânia, criticado duramente por Popov em 2023, destituído por Shoigu no dia seguinte e enviado à Síria. Em contraste, a notícia de que o general Sujrab Ajmedov, protegido de Gerasimov, deixou de ser desde a quinta-feira comandante do exército que combate na região de Lugansk e se encontra em estado de “férias indefinidas”, parece um golpe ao chefe do Estado-Maior.

O futuro de Gerasimov, de acordo com analistas, é incerto. Por um lado, recebeu um respaldo do Kremlin ao ser ratificado após a saída de Shoigu e, por outro, seria catastrófico remover ambos ao mesmo tempo. Mas Belousov, ao terminar sua apresentação no Senado, soltou uma frase que poderia decidir o futuro de muitos militares russos: “A gente pode se equivocar, mas não pode mentir”. E o segundo é o que, para muitos observadores russos, está acontecendo no front. Shoigu costumava relatar “grandes avanços” que nem sempre se confirmavam, o que pode ter esgotado a paciência de Putin para decidir empreender uma reestruturação profunda da cúpula militar.

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Quase todos os dias – na quinta-feira, para não ir muito longe, diz que tomaram a localidade de Andriivka na região de Donetsk – o Ministério russo da Defesa relata a “libertação” de uma localidade ou “avanços” em direção a Chasiv Yar ou Vovchansk, mas ainda não consegue conquistar nenhuma dessas praças: a primeiro, comentam ter sido prometido por Shoigu, tinha que ter caído antes do desfile da Vitória em 9 de maio; a segunda, se encontra a apenas cinco quilômetros da fronteira.

O ataque que iniciaram em 10 de maio, com cerca de 30 mil soldados levados de Moscou e São Petersburgo, ainda continua em Vovchansk, separadas as tropas russas e ucranianas pelo rio Vovcha, mas na última quinta-feira o comandante-chefe do exército ucraniano, Oleksandr Syrskyi, assegurou que essa ofensiva russa “se estagnou completamente” e disse que, ao tentar cercar Vovchansk, “o inimigo também sofre baixas significativas em direção à localidade de Liptsi”. Por outro lado, a Rússia lançou, também na quinta-feira, o segundo ataque aéreo – mísseis e bombas guiadas – mais importante dos dias recentes contra “infraestruturas” da cidade de Kharkiv, causando entre a população civil sete mortos e numerosos feridos, segundo reportou o governo ucraniano.

La Jornada, especial para Diálogos do Sul – Direitos reservados.


As opiniões expressas neste artigo não refletem, necessariamente, a opinião da Diálogos do Sul do Global.

Juan Pablo Duch Correspondente do La Jornada em Moscou.

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