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ToggleAs interrogações que muitos analistas se fazem em torno ao futuro do Irã, depois da morte em um acidente aéreo do presidente deste país, Ebrahim Raisi, são muitas. Desde as próprias circunstâncias de sua morte, em torno da qual formulam-se diversas hipóteses, até determinar quem será seu sucessor e se o país manterá as mesmas linhas de ação política que vinha adotando o governante islâmico.
Claro que haverá mudanças, e em duas direções: uma, será eleito um novo presidente da nação, para o que um concelho de assessores convocou eleições para 28 de junho. Outro, haverá substituição no cargo de chefe espiritual da revolução, que atualmente é ocupado pelo Aiatolá Alí Jamenei, que, com 85 anos de idade, vem apresentando problemas de saúde.
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Quanto ao primeiro aspecto, o fato de que o aparelho em que viajava Raisi tenha sido o único a cair, dos três que compunham a caravana e que enfrentavam as mesmas contingências climáticas, levou não poucos observadores a falar de algum tipo de ataque ou de sabotagem.
A queda do avião de Raisi e as alegações de “fogo amigo”
O eixo Washington-Tel-Aviv, inimigos acérrimos do Irã, e mesmo o governo do Azerbaijão, vizinho do Irã e aliado de Israel, ou o regime francês, aparecem como suspeitos de um atentado criminoso. Meios de comunicação ocidentais, nos dias seguintes à morte de Raisi, chegaram a falar de ‘fogo amigo’, aludindo ao fato provável do disparo de um míssil por algum dos grupos terroristas que operam na nação persa, vinculados a Isis, financiado pelos sionistas.
As mesmas fontes ocidentais sugerem que tal ‘fogo amigo’ poderia ser proveniente de facções políticas menos radicais que o setor representado por Raisi, que aparecia como o mais forte candidato para suceder o Aiatolá Alí Kamenei no cargo de ‘líder supremo’ da Revolução, que, aliás, qualificam como o verdadeiro poder na República islâmica.
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Especulam que, morto Raisi, abre-se caminho para a sucessão de Kamenei por seu filho mais velho, Mojtaba Kamenei, uma das figuras mais influentes do país, apesar de não ter nenhum cargo oficial. Raras vezes aparece em público e vários aspectos de sua vida são um enigma. As fontes ocidentais o vinculam aos poderosos aparatos de inteligência militar do governo persa. Em todo caso, na administração Raisi, tornou-se poderoso entre as sombras.
Irã desmente versões do Ocidente
As autoridades iranianas desmentiram as versões anteriores, que qualificaram de infundadas e mentirosas, ainda que em relação à possibilidade de um atentado contra o presidente, não afirmaram nem desmentiram a versão, assegurando que a investigação sobre as causas reais do acidente da aeronave continua.
Neste contexto, a politóloga e orientalista Yelena Supónina, em declarações à imprensa, assegurou que, morto o presidente, o rumo político do Irã não mudará significativamente. “A importância de Raisi é maior na política interna do Irã; em política exterior pouco vai mudar. Aqui seu rumo coincide plenamente com o que quer e sempre quis o aiatolá Kamenei como chefe de Estado, como líder supremo do Irã. O enfrentamento com o Ocidente não foi uma escolha do próprio Raisi, e sim dos Estados Unidos, que mesmo antes de Raisi começou a aplicar táticas mais duras em relação ao Irã”, assegura a analista.
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Outros observadores concordam em indicar que a política exterior do Irã não vai ser modificada. A integração da Eurásia e o impulso para a multipolaridade estão sendo estimulados hoje por três atores principais: Rússia, China e Irã. No que se refere à nação persa, este é um princípio inarredável.
Construção de um mundo multipolar
As três nações estão interconectadas em blocos econômicos poderosos como os BRICS e a Organização de Cooperação de Shanghai, OCS. Esta aliança foi reforçada com os acordos a que se chegou, há duas semanas, durante a visita do presidente russo Vladimir Putin a seu homólogo chinês Xi Jinping, onde se falou de um mundo multipolar, da luta pela paz mundial e o progresso social das nações. A política internacional do Irã se baseia em uma doutrina de Estado incorporada aos princípios básicos da Revolução islâmica de 1979. Um eixo fundamental desta estratégia é ter adotado uma política anti-imperialista, uma de suas bandeiras principais, ligada à construção nacional do país.
Depois da morte do presidente Raisi, alguns setores de esquerda recomendaram prudência frente a um alinhamento incondicional com a Revolução islâmica, posto que ali existe um Estado teocrático que persegue e encarcera minorias nacionais e setores dissidentes.
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Sem fazer referência a que alguns destes setores ‘dissidentes’ são grupos contrarrevolucionários financiados pela CIA norte-americana, é preciso dizer que o que se resgata aqui é a política internacional do Irã, que tem como posicionamentos fortes a luta pela construção de um mundo multipolar, o apoio aos países em desenvolvimento, destacando-se neste aspecto novas relações com a América Latina, por meio de Cuba, Venezuela e Nicarágua. Mas, antes de tudo, a forte solidariedade com o povo palestino e a luta contra a política genocida de Israel.
Raisi praticou uma política de distanciamento progressivo da dependência do Ocidente, aproximando-se de outros cenários: além da América Latina, do continente africano, onde foram assinados múltiplos acordos de cooperação. É importante destacar neste aspecto, o restabelecimento de relações diplomáticas com a Arábia Saudita, buscando reduzir um cenário de conflito.
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Hoje o Irã é um interlocutor de primeira ordem na atual projeção geopolítica internacional. Não é à toa que assistiram ao funeral de Raisi 50 líderes e chefes de Estado de uma pluralidade de nações. No momento em que se soube da morte do governante persa, em Teerã realizava-se uma feira internacional do livro, com participação de 16 países e sessenta editoras. Venezuela e México representaram a América Latina.