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Foto: Adam Schultz / Flickr

Biden tinha 2 missões em debate: demonstrar aptidão mental e rebater neofacismo de Trump

“Foi o pior desempenho de qualquer debate de uma eleição presidencial na história moderna dos EUA”, afirmou o jornalista político Jeff Greenfield sobre ao Politico
David Brooks, Jim Cason
La Jornada
Nova York

Tradução:

Beatriz Cannabrava

Foi instantânea a reação ao concluir o primeiro debate presidencial: o presidente Joe Biden deve contemplar se retirar da disputa ou os democratas serão derrotados em novembro por um candidato republicano cujas mentiras espetaculares e mensagem xenofóbica dominaram a conversa durante 90 minutos.

Não é que seu opositor Donald Trump tenha se saído tão bem – fez justamente o que se esperava – mas Biden foi muito pior do que o pouco que se esperava dele, a tal ponto que políticos democratas e comentaristas liberais proeminentes concordaram que ele não só falhou em seu objetivo básico de assegurar os eleitores que duvidam de suas capacidades físicas e mentais, mas também acionou o alarme dentro de seu partido com chamados públicos para substituí-lo como candidato o mais rápido possível.

Trump e seus assessores estavam felizes com a noite. Em um espetáculo que foi visto por 48 milhões de pessoas, a mensagem central do ex-presidente foi culpar os migrantes por todos os males dos Estados Unidos, desde o crime até a economia, a crise da seguridade social, o meio ambiente e a segurança nacional. Reiterou essa mensagem em quase todas as oportunidades, em pelo menos 15 ocasiões, e sem importar a pergunta.

“Estão matando nosso povo em Nova York, na Califórnia, em cada estado da união porque já não temos fronteiras”. Acusou que os únicos empregos criados por Biden foram para “imigrantes ilegais” e que os “milhões e milhões” que entram pelas “fronteiras abertas” por Biden estão roubando empregos para latinos e afro-estadunidenses.

Trump, como é de seu costume, rejeitou todas as acusações contra ele, desde seus atos incitando um golpe de Estado em 6 de janeiro de 2021, até seus julgamentos, dormir com uma estrela pornográfica e suas mentiras. Dominou o debate com mentiras e enganos que seguramente esgotou os verificadores de suas declarações na mídia.

Mas ainda mais notável foi que Biden não conseguiu um ataque eficaz contra a xenofobia, as posições ultradireitistas e as mentiras incessantes. Não foi por falta de preparação, nem por não saber como formular as frases:

“Foi o pior desempenho de qualquer debate de uma eleição presidencial na história moderna dos Estados Unidos”, concluiu o veterano jornalista político Jeff Greenfield escrevendo no Politico.

O New York Times, em seu editorial, foi além e recomendou que Biden se retire da contenda. O maior jornal do país encabeçou seu editorial assim: “para servir ao seu país, o presidente Biden deveria deixar a disputa”. O Times argumentou que “se o risco de uma segunda presidência de Trump é tão grande quanto ele diz – e concordamos que o perigo é enorme – então sua dedicação a este país deixa a ele e a seu partido apenas uma opção… Reconhecer que Biden não pode continuar nesta disputa, e criar um processo para selecionar alguém mais capaz de tomar seu lugar para derrotar Trump em novembro”.

“Foi pior do que jamais imaginei – e já esperava que fosse ruim. É hora de Biden considerar o que é melhor para seu partido, o que é melhor para o país… e isso é deixar de buscar ser presidente até ter 86 anos”, comentou o influente analista e especialista em tendências estatísticas em eleições Nate Silver em seu site Silver Bulletin.

“Tem que ser ingênuo para pensar a estas alturas que Biden é, neste momento de sua vida, a melhor pessoa que os democratas podem oferecer contra Donald Trump, um fascista”, escreveu o reconhecido jornalista e analista Mehdi Hasan em seu site Zeteo.

Os principais meios de comunicação do país reportaram sobre o que chamaram de “alarme” ou “pânico” dentro do Partido Democrata e seus aliados. Alguns veículos publicaram notas sobre quem poderia ser um substituto viável de Biden entre os democratas.

Na última sexta-feira (28), em um discurso em um comício eleitoral na Carolina do Norte, Biden tentou reparar o dano ao reconhecer que seu desempenho no debate foi ruim. “Sei que não sou jovem, para dizer o óbvio. Não ando tão facilmente quanto antes. Não falo tão facilmente quanto antes. Não consigo debater tão bem quanto antes. Mas sei o que sei: sei como dizer a verdade, sei a diferença entre o bem e o mal e sei como fazer este trabalho”. E rejeitando de fato os chamados para que se retire e ceda a candidatura a outro democrata, declarou que “quando alguém cai, se levanta”. Buscou retomar a ofensiva, acusando que Trump foi “o único criminoso condenado no palco ontem (na quinta-feira, 27) à noite” e que “estabeleceu um novo recorde pelo número de mentiras em um debate”.

Os democratas fiéis a Biden insistiram que o tema prioritário não é o quão bem ou mal o presidente se saiu no debate, mas a decisão em novembro de 2024 entre Biden e alguém que demonstrou ser uma ameaça à democracia estadunidense, inimigo dos direitos das mulheres, anti-ambientalista e um anti-imigrante extremo. Insistiram que uma só atuação péssima não pode definir tudo.

Mas como comentou o ex-assessor do presidente Barack Obama, Ben Rhodes: “dizer às pessoas que não viram o que viram não é maneira de responder a isso”. Ambos os candidatos, reiteravam observadores, foram péssimos – só que um foi pior que o outro. Alguns expressaram seu assombro de que entre os intercâmbios mais apaixonados entre os dois candidatos, enquanto abordavam temas como guerras, fronteira, meio ambiente, seguridade social e mais, foi sobre quem era o melhor jogador de golfe.

Defensores de migrantes e ativistas ambientalistas, entre outros, expressaram sua preocupação com tudo isso. “Esta noite exibiu plenamente o quão descomposto está nosso sistema político. Nossa geração merece algo melhor”, comentou Stevie O’Hanlon do grupo ambientalista de jovens Sunrise, reportou The Guardian.

“Ambos esses senhores precisam tomar drogas para melhorar o desempenho”, observou o influente comentarista satírico Jon Stewart ao comentar sobre o debate. “Se não há esse tipo de droga para esses candidatos, eu poderia usar agora mesmo drogas para efeitos recreativos, porque isso não pode ser a maldita vida real, somos a América”.

Por agora, o futuro do superpoder está entre um candidato com projeto neofascista e outro que não conseguiu repudiá-lo de maneira efetiva. Nenhum deles ganhou o debate, o povo estadunidense perdeu.

La Jornada, especial para Diálogos do Sul – Direitos reservados.


As opiniões expressas neste artigo não refletem, necessariamente, a opinião da Diálogos do Sul do Global.

David Brooks Correspondente do La Jornada nos EUA desde 1992, é autor de vários trabalhos acadêmicos e em 1988 fundou o Programa Diálogos México-EUA, que promoveu um intercâmbio bilateral entre setores sociais nacionais desses países sobre integração econômica. Foi também pesquisador sênior e membro fundador do Centro Latino-americano de Estudos Estratégicos (CLEE), na Cidade do México.
Jim Cason Correspondente do La Jornada e membro do Friends Committee On National Legislation nos EUA, trabalhou por mais de 30 anos pela mudança social como ativista e jornalista. Foi ainda editor sênior da AllAfrica.com, o maior distribuidor de notícias e informações sobre a África no mundo.

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