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Joe Biden (Foto: Adam Schultz / Casa Branca)

Vai ou fica? Deputados, financiadores e mídia dos EUA pressionam Biden a desistir da eleição

Próximos atos de Joe Biden são acompanhados pelo microscópio, assim como seus impactos nas pesquisas de intenção de voto; Trump, por sua vez, cresce
Jim Cason, David Brooks
La Jornada

Tradução:

Beatriz Cannabrava

Desde seu desastroso desempenho no debate, a questão sobre se Joe Biden permanece ou cede a candidatura presidencial democrata ocupa toda a atenção da classe política deste país a apenas quatro meses das eleições nacionais. Não é um bom sinal que desde então, todos os dias, Biden e sua equipe tenham tido que reiterar que não vai sair diante de um coro cada vez mais amplo de comentaristas, estrategistas eleitorais e meios de comunicação nacionais que têm dito que, pelo bem do país, deveria renunciar à sua candidatura.

Nesta quarta-feira (3), ele e sua vice-presidente, Kamala Harris, realizaram uma chamada coletiva com sua equipe de campanha para assegurar-lhes que não estão contemplando abandonar a contenda. “Ninguém está me expulsando. Não estou saindo. Estou nesta contenda até o final”. A Casa Branca e figuras da cúpula do Partido Democrata – incluindo o ex-presidente Barack Obama e Hillary Clinton – têm repetido o mesmo quase todos os dias desde a semana passada.

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No entanto, Harris, entre outras figuras da cúpula democrata, é mencionada abertamente entre os meios de comunicação e analistas como possível substituta do candidato presidencial danificado. Todos os dias, os meios de comunicação e comentaristas especulam sobre quem seriam os melhores para substituir o presidente como candidato. Entre os frequentemente mencionados, além de Harris, estão o governador da Califórnia, Gavin Newsom; a governadora de Michigan, Gretchen Whitmer; e o senador Sherrod Brown, e claro, continua a promoção da ex-primeira-dama Michelle Obama, que deixou claro que não, mas que, segundo algumas pesquisas, seria quem teria a maior vantagem sobre Trump.

Todos os mencionados foram obrigados a dizer que não estão contemplando uma possível candidatura, já que o mais importante é a unidade democrata para derrotar Trump. Mas às vezes já deixam de mencionar o nome de Biden ao falar da tarefa fundamental de derrotar a ameaça que Trump representa. Também não se podem ocultar as discussões entre diversos líderes democratas e suas fileiras ao avaliar a viabilidade danificada da candidatura de seu presidente. Alguns democratas até apontam que Biden agora poderia frear o potencial do voto anti-Trump se permanecer como o candidato, afetando não apenas as perspectivas presidenciais do partido, mas também para o resto do elenco democrata nas disputas legislativas.

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E de repente há confissões sobre a deterioração física e mental de Biden dos círculos próximos ao presidente que até agora recusavam reconhecer em público essas preocupações. O New York Times publicou como matéria principal um artigo sobre como pessoas que estiveram em privado com o presidente nas últimas semanas, e até meses, notaram momentos em que ele parecia cada vez mais confuso ou um pouco perdido, e que esses episódios “parecem se tornar mais frequentes, mais pronunciados e mais preocupantes”.

Boatos sobre a saúde de Biden

A especulação sobre se Biden fica ou sai também é alimentada por boatos oferecidos por “fontes próximas” ao presidente, algumas obviamente com permissão, outras aparentemente não. O Washington Post relatou que nos últimos dias Biden comentou a “aliados” que reconhece que este é um momento difícil para ele e que em seus próximos atos precisa comprovar aos eleitores que é capaz de continuar como presidente. Mas vale lembrar que foi a equipe de Biden que propôs um debate tão adiantado, inclusive com as regras que foram acordadas, justamente com o objetivo de mostrar a um público cético que sua idade e sua capacidade mental não eram fatores – e foi reprovado por seu próprio exame.

As vozes dentro do partido instando Biden a se afastar se multiplicam. Dezenas de legisladores democratas contemplam assinar uma carta pedindo que seu líder abandone sua candidatura, reportou a Bloomberg – dois legisladores já se expressaram publicamente a favor de uma mudança de candidato. Por outro lado, o famoso estrategista político James Carville também chamou à substituição de Biden, entre outros.

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Tudo indica que os seis dias desde o debate não tranquilizaram um crescente coro de políticos democratas, doadores e analistas que cada vez mais expressam abertamente sua preocupação sobre a viabilidade de Biden como candidato. Mais ainda, como aponta o Post, o mandatário só apareceu em público em três ocasiões desde o debate e só falou por um total de 22 minutos. Todos observarão com microscópio seus próximos atos públicos de campanha. Também estarão observando as pesquisas e os levantamentos internos.

A primeira pesquisa realizada após o debate só ofereceu mais sinais ruins para os democratas. A pesquisa do New York Times/Siena College registrou que a vantagem de Trump sobre Biden se ampliou para 49% contra 43% entre eleitores prováveis, um incremento de três pontos. Substituir o candidato democrata a quatro meses da eleição tem uma série de riscos, incluindo buscar a maneira de evitar divisões dentro do partido. Embora Biden tenha acumulado muitos mais delegados do que os requeridos para conquistar a nomeação formal de seu partido como candidato, isso não acontece formalmente até a Convenção Nacional Democrata, que será realizada em Chicago de 19 a 22 de agosto.

Quase inédito

Seria a primeira ocasião em décadas que um candidato presidencial de um dos dois partidos nacionais abandonaria a disputa; a última vez foi quando Lyndon B. Johnson anunciou em março de 1968 sua retirada poucos meses antes da convenção. Por coincidência, essa reunião, que foi uma das mais tumultuadas da história moderna, também foi realizada em Chicago.

Não há um processo específico para substituir o candidato, mas supõe-se que ele teria que se afastar e liberar seus delegados para votar em outra pessoa no que se chama de “convenção aberta”, onde se negocia o resultado; estes são eventos muito coreografados onde quase nunca acontecem coisas não programadas.

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Claro, tudo isso é por ora um grande presente para a campanha do candidato republicano Trump. As declarações e comunicados têm buscado colocar cada vez mais sal na ferida democrata, e nesta quarta-feira a campanha acusa que democratas, os meios de comunicação massivos e o governo “permanente” “cooperaram entre si para ocultar do público estadunidense (que) Joe Biden é fraco, fracassado, desonesto e não apto para a Casa Branca”.

Relata-se que a equipe de Trump deseja que Biden siga como candidato, mas talvez serão dos poucos que agora preferem isso.

La Jornada, especial para Diálogos do Sul – Direitos reservados.


As opiniões expressas neste artigo não refletem, necessariamente, a opinião da Diálogos do Sul do Global.

Jim Cason Correspondente do La Jornada e membro do Friends Committee On National Legislation nos EUA, trabalhou por mais de 30 anos pela mudança social como ativista e jornalista. Foi ainda editor sênior da AllAfrica.com, o maior distribuidor de notícias e informações sobre a África no mundo.
David Brooks Correspondente do La Jornada nos EUA desde 1992, é autor de vários trabalhos acadêmicos e em 1988 fundou o Programa Diálogos México-EUA, que promoveu um intercâmbio bilateral entre setores sociais nacionais desses países sobre integração econômica. Foi também pesquisador sênior e membro fundador do Centro Latino-americano de Estudos Estratégicos (CLEE), na Cidade do México.

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