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Tensões globais: Otan expande infraestrutura militar em direção a Ucrânia e Rússia e enfurece Kremlin

“É evidente que a Otan — um instrumento de confrontação e não de paz e segurança — tem como um de seus principais objetivos suprimir a Rússia, infringir a ela uma derrota estratégica", disse porta-voz da presidência russa
Juan Pablo Duch
La Jornada
Moscou

Tradução:

Beatriz Cannabrava

As notícias sobre a guerra na Ucrânia que chegaram na madrugada da última quinta-feira (11) desde Washington, onde os principais rivais da Rússia se reuniram na cúpula da Organização do Tratado do Atlântico Norte (Otan), geraram uma mistura de indignação e preocupação no Kremlin.

Estados Unidos e seus aliados tomaram decisões que são “inaceitáveis” para a Rússia, representam uma “ameaça muito grave” à sua segurança nacional e vão requerer uma resposta “dura e adequada” segundo coincidiram em expressar o porta-voz do Kremlin, Dmitri Peskov, a presidenta do Senado, Valentina Matviyenko, e o vice-chanceler Serguei Riabkov, entre outros funcionários russos.

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“É evidente que a aliança norte-atlântica — um instrumento de confrontação e não de paz e segurança — tem como um de seus principais objetivos suprimir a Rússia, infringir a ela uma derrota estratégica, o que representa uma ameaça muito grave para a segurança nacional de nosso país e nos obriga a analisar a fundo as decisões que tomou e o conteúdo de sua Declaração final”, resumiu assim porta-voz da presidência russa, Dmitri Peskov, os resultados da cúpula da Otan. 

Adesão da Ucrânia à Otan é inaceitável

Para o Kremlin, “é inaceitável que a Otan — e vemos que, de fato, sua infraestrutura militar se desloca constante e progressivamente para nossas fronteiras — se estenda ao território da Ucrânia. Sempre dissemos por que é uma ameaça para nós, para nossa existência, para nossa segurança e, no entanto, a Otan aprova um documento que prevê a adesão definitiva da Ucrânia”, a esse bloco, indignou-se Peskov.

Da mesma forma, o porta-voz, após condenar que a Otan queira criar centros logísticos em portos do mar Negro e abrir bases adicionais na Europa, reiterou que a Rússia “está disposta e deseja debater todos os aspectos relacionados com a segurança na Europa, com a segurança de nosso país e com as garantias de segurança para outros países”. 

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Em relação à instalação de armas de longo alcance dos Estados Unidos na Alemanha, a presidenta do Conselho da Federação (Senado), Valentina Matviyenko, advertiu que, caso se leve a cabo, a resposta da Rússia será “dura e adequada”. Segundo Matviyenko, esses planos de Washington “são inaceitáveis” e Berlim “não tem direito” de localizar em seu território esse tipo de armas, conforme os documentos firmados ao término da Segunda Guerra Mundial.

Ampliação de bases da Rússia

O primeiro vice-presidente do Comitê de Assuntos Exteriores da Câmara Alta, Vladimir Dzhabarov, em declarações ao canal de televisão Rossiya-24, sugeriu que “a Rússia deveria instalar mísseis na Coreia do Norte, Cuba, Nicarágua e Venezuela”, sempre e quando o Kremlin possa se pôr de acordo com seus respectivos governos. 

Por sua parte, o vice-ministro de Relações Exteriores, Serguei Riabkov, disse sobre o mesmo tema dos mísseis estadunidenses na Alemanha que “sem nervos nem emoções desenharemos, sobretudo, uma resposta militar a esta nova ameaça”. Agregou o diplomata que “há tempos começaram os trabalhos para preparar contramedidas que serão aplicadas de maneira sistemática”.

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A Rússia já divulgou que está revisando sua doutrina nuclear, que fixa as hipotéticas situações em que esse tipo de arma pode ser usado, e na sexta-feira (12), o Kremlin confirmou que também “está trabalhando na elaboração de outras contramedidas de dissuasão bem pensadas, coordenadas e eficazes”. 

Retomada da fabricação de mísseis

Há pouco, em meio da crescente tensão entre Moscou e Washington e seus aliados, o presidente Vladimir Putin revelou que a Rússia estava considerando começar a fabricar mísseis de curto e médio alcance, similares aos que a União Soviética e Estados Unidos destruíram na Europa como parte do pacto de mísseis, tanto nucleares como convencionais, entre 500 e 5 mil 500 quilômetros de alcance, firmado em 1987.

A cúpula da Otan em Washington deixou vários desafios à segurança da Rússia. Em primeiro lugar, o compromisso assentado na Declaração final de seguir apoiando a Ucrânia “em seu caminho irreversível para sua plena integração euro-atlântica, incluído sua membresia à Otan” 

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Também na iminente chegada aos campos de batalha ucranianos dos primeiro caças estadunidenses F-16 e a concessão este ano de 40 bilhões de dólares adicionais à Ucrânia em armamento que, entre outras modalidades, inclui mais sistemas de defesa aérea Patriot. E se isso fosse pouco, se anunciou a intenção de instalar na Alemanha, a partir de 2026, mísseis estadunidenses SM-6, Tomahawk e hipersônicos que podem alcançar o território da Rússia, assim como Alemanha, França, Itália e Polônia acordaram iniciar a fabricação conjunta de mísseis de mais de 500 quilômetros de alcance e alta precisão.


As opiniões expressas neste artigo não refletem, necessariamente, a opinião da Diálogos do Sul do Global.

Juan Pablo Duch Correspondente do La Jornada em Moscou.

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