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Foto: Dmitriy 92 / Wikimedia Commons

Após ataques a Moscou, Ucrânia segue ofensiva contra usina nuclear de Kursk, afirma Rússia

Diariamente, "sirenes são ativadas entre 10 e 12 vezes devido ao risco de ataque aéreo" à unidade em Kursk, afirma Aleksei Lijachov, diretor-geral da RosAtom
Juan Pablo Duch
La Jornada
Moscou

Tradução:

Beatriz Cannabrava

Na região russa de Kursk, nos distritos cuja população deve ser evacuada, ainda permanecem pouco mais de 19 mil habitantes, informou nesta quinta-feira (22) seu governador, Aleksei Smirnov, ao presidente Vladimir Putin, que convocou – de sua residência oficial em Novo-Ogoriovo, nos arredores de Moscou – uma nova reunião por videoconferência sobre “a situação nas regiões fronteiriças” com a Ucrânia. Precisou Smirnov: “Foi acordado que oito distritos da região de Kursk, com 152,6 mil habitantes, devem ser evacuados. Até hoje (quinta-feira), saíram 133,19 mil pessoas, ainda restam 19,376 mil.”

Desta vez – com ampla cobertura da televisão pública local, a segunda ocasião desde que há soldados estrangeiros em solo russo –, Putin quis que os russos soubessem que está atento às necessidades da população na zona ocupada pelas tropas ucranianas, para o que ouviu os relatórios dos respectivos governadores de Kursk, Belgorod e Briansk, assim como de membros do governo federal, liderados pelo vice-primeiro-ministro, Denis Manturov.

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Diferente do que aconteceu no primeiro encontro dedicado à “situação” na fronteira, como o Kremlin denomina o que ocorre em Kursk e regiões adjacentes, ninguém falou – ao menos na parte que foi ao ar – sobre “localidades ou quilômetros de território ocupados”, e todos afirmaram que “a situação é complicada, mas está sob controle”.

Nesse contexto, Putin acusou a Ucrânia de tentar atacar a central atômica de Kursk, na cidade de Kurchatov. “O inimigo tentou atacar nesta madrugada (quinta-feira) a usina nuclear. Já foi informado ao Organismo Internacional de Energia Atômica (OIEA) e este prometeu enviar seus especialistas a Kursk para avaliar a situação”, disse o mandatário.

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Enquanto isso, Aleksei Lijachov, diretor-geral da RosAtom, corporação pública de energia atômica, comentou que “todas as noites as sirenes são ativadas entre 10 e 12 vezes devido ao risco de ataque aéreo” e, paralelamente, o ministério das Relações Exteriores da Rússia anunciou que Rafael Grossi, diretor-geral do OIEA, viajará na próxima semana à região fronteiriça russa.

O governador de Briansk, Aleksandr Bogomaz, confirmou que na noite de quarta-feira houve combates em sua região com “um grupo de sabotadores e de reconhecimento”, cerca de 200 efetivos, que tiveram que recuar para a Ucrânia.

Ofensiva mútua

Além de lançar mísseis em várias regiões ucranianas, sobretudo em Sumy e Kharkiv, o ministério russo da Defesa reportou nesta quinta-feira a tomada da localidade ucraniana de Mezhove, com cerca de mil habitantes, a 24 km de Pokrovsk, que continua sendo seu alvo principal nesta etapa. A queda de Pokrovsk abriria o caminho para Konstiantinovka e Chasiv Yar, antes de iniciar o assalto aos bastiões ucranianos em Kramatorsk e Sloviansk. A Ucrânia, por sua vez, continua seus ataques com drones em várias regiões da Rússia, enquanto o departamento militar russo afirma ter derrubado nesta quinta-feira 13 artefatos desse tipo na região de Volgogrado, sete em Rostov do Don, quatro em Belgorod, dois em Voronezh e um em Briansk e Kursk.

Na madrugada de quinta-feira, os drones ucranianos atingiram o aeródromo militar de Marinovka, região de Volgogrado, ataque confirmado pelo governador Andrei Bocharov, que disse que “(…) a maioria dos drones foi derrubada, mas fragmentos caídos causaram um incêndio em instalações do ministério da Defesa”. Os vídeos dos moradores do local que circulam nas redes sociais russas sugerem, pelas contínuas explosões que se ouvem, que o fogo fez explodir um depósito de mísseis ou de combustível.

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Outro aeródromo militar, o de Slavasleika, na região de Nizhny Novgorod, foi atacado na noite de quarta-feira com drones, destruindo um caça Mig-31 e dois aviões de transporte Il-76, segundo vários meios de comunicação ucranianos. E na tarde de quinta-feira, a presidência ucraniana confirmou que sua aviação atingiu uma balsa russa com 30 tanques de combustível em Porto Kavkaz, no estreito de Kerch, região de Krasnodar, em frente à Crimeia, que acabou por afundar, de acordo com Fiodor Babenkov, chefe do distrito de Temriuk (Krasnodar), onde estava registrada a embarcação.

Ao falar nesta quinta-feira diante dos participantes de uma conferência de veteranos, o presidente da Ucrânia, Volodymir Zelensky, afirmou: “Todos precisamos entender que, para poder expulsar o ocupante de nossa terra, precisamos criar ao Estado russo a maior quantidade possível de problemas em seu território”, citado pela agência oficial de notícias Ukrinform.

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Em relação ao ataque de 21 de agosto ao aeródromo militar de Oleniya, em Murmansk, a 1.850 km da fronteira, o meio digital independente russo Viorstka publicou um mapa do território da Rússia que eventualmente poderia ser atacado com drones ucranianos: 2,612 milhões de km², área na qual há 10 cidades com mais de um milhão de habitantes cada uma.

Mais informações sobre o ataque a Moscou

A capital da Rússia, Moscou, foi alvo de 11 drones ucranianos, interceptados na madrugada desta quarta-feira (21) pela defesa antiaérea russa na zona metropolitana, a poucos quilômetros dos limites administrativos da cidade, de um total de 45 artefatos aéreos não tripulados lançados pelo exército ucraniano contra Moscou e as regiões de Briansk, Belgorod, Kaluga e Kursk. O ministério da Defesa, através de um comunicado, informou que conseguiu derrubar “11 drones na zona metropolitana de Moscou, assim como 23 em Briansk, seis em Belgorod, três em Kaluga e dois em Kursk”, sem especificar se os fragmentos que caíram causaram vítimas ou danos materiais.

O prefeito de Moscou, Serguei Sobianin, classificou o ocorrido como “uma das maiores tentativas de atacar a capital com drones”, que seguiam uma trajetória de voo em direção aos aeroportos Domodiédovo, Vnúkovo e Zhukovsky, como pôde ser visto em vários vídeos que circularam amplamente nas redes sociais russas. Sobianin reportou o ataque anterior com drones em 11 de julho. O desta quarta-feira, na opinião de observadores, parece ser a resposta simétrica ao recente bombardeio russo na capital ucraniana, Kiev.

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O comando militar da Ucrânia, por sua vez, não comenta o envio de drones ao território da Rússia, mas divulgou que “desferiu um golpe” contra um sistema de mísseis antiaéreos S-300 próximo à localidade de Novoshajtinsk, na região de Rostov, ao mesmo tempo que alguns canais do Telegram mostraram imagens do incêndio que começou, como afirmam, após a queda de fragmentos de um míssil (ucraniano). O governador de Rostov, Vasili Golubev, confirmou a derrubada de um míssil.

E seu colega de Múrmansk, Andrei Chibis, publicou em suas redes sociais que “drones ucranianos atacaram nesta quarta-feira a região”. Blogueiros alinhados ao Kremlin, como Voyenny osvedomitel (Informante militar), informaram que os aparelhos aéreos não tripulados chegaram até o povoado de Vysoky, no norte de Múrmansk, perto do aeródromo de Oleniya, que serve de base para os aviões estratégicos Tu-95MC e Tu-92M3.

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Este ataque ucraniano além do círculo polar, de acordo com especialistas, estabelece um recorde quanto à distância de voo desde que começou o conflito armado, pois desde a fronteira da Ucrânia até Vysoky são 1.850 km. No final de maio, o exército ucraniano conseguiu danificar com drones uma estação de alerta antecipado de ataque nuclear em Orsk, na região de Oremburgo, a 1.800 km de distância.

Os combates continuam tanto em Donetsk (Ucrânia) como em Kursk (Rússia), com informações oficiais contraditórias em que algumas localidades mudam de mão várias vezes ao serem relatadas como capturadas de forma prematura, como é o caso de Nova York, fundada por um grupo de menonitas em Donetsk, que os ucranianos dizem continuar sob seu controle, ou de Zhelannoye, a 20 km de Pokrovsk, que os russos voltaram a “libertar” alguns dias depois. Na noite de quarta-feira, foram conhecidas as primeiras notícias, ainda não confirmadas, de que estão ocorrendo combates em uma nova parte do território russo, na região de Briansk, a cerca de 150 km da zona de confrontos em Kursk, no distrito de Klimov, ponto de confluência de três países: Ucrânia, Rússia e Bielorrússia.

Versões

De acordo com as informações disponíveis de ambos os lados, nos últimos dias tanto os russos, em Donetsk (Ucrânia), quanto os ucranianos, em Kursk (Rússia), reportaram avanços de suas tropas na ordem de um ou dois km diários, sendo o aparente objetivo de uns e de outros dar um golpe de efeito, pois tudo indica que estão tentando cortar as vias de fornecimento de víveres, munições, equipamentos militares e unidades de reforço do inimigo, embora se trate de um setor muito localizado da extensa frente de combates.

Assim interpretam analistas militares que a Rússia, em vez de transferir de Donetsk e Lugansk mais tropas para Kursk e outras regiões russas fronteiriças, o Estado-Maior do exército russo tenha decidido concentrar a maior parte dos ataques em um único lugar ao redor da cidade de Pokrovsk (atualmente com 53 mil habitantes), considerada um importante nó logístico nessa zona de Donetsk sob controle ucraniano.

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Segundo dados compilados pelo ucraniano DeepState, projeto OSINT (sigla em inglês para Inteligência de Fonte Aberta), enquanto a atividade bélica diminuiu em intensidade nas direções Sul, Bakhmut e Svatovo (Lugansk) ou parou em Kharkiv, o exército russo ocupou na semana passada as localidades de Nikolayevka, Zhelannoye, Orlovka, Lisichnoye, Ivanovka, Zalizne e Spiridonovka, totalizando 80 km², dos quais 59 km² se encontram nas proximidades de Pokrovsk.

As tropas russas estão a cerca de 10 km de Pokrovsk, distância que levou o chefe da administração militar de Donetsk (equivalente a governador do território sob controle da Ucrânia), Vadym Filashkin, a dizer na última segunda-feira (19) que a frente (de combates) está demasiadamente próxima e ordenar a evacuação das famílias com filhos menores (cerca de 4 mil crianças), enquanto Sergiy Dobryak, atuando como prefeito de Pokrovsk, advertiu seus habitantes que têm “uma ou duas semanas no máximo” para abandonar a cidade e os instou a fazê-lo enquanto ainda é possível.

Soldados russos cercados

Para chegar à próxima linha de defesa ucraniana, o exército russo precisa primeiro tomar Pokrovsk e Toretsk, para então centrar sua ofensiva em direção a Konstantinovka, já no distrito de Kramatorsk, que junto com Sloviansk são os bastiões ucranianos em Donetsk.

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Do outro lado da fronteira, ao se completarem na terça-feira duas semanas desde que as tropas ucranianas invadiram a região russa de Kursk, cerca de 3 mil soldados da Rússia correm o risco de ficar cercados pelas tropas da Ucrânia no distrito de Glushkovo, sendo atacados por três flancos, sem poder receber suprimentos de qualquer tipo.

Com as três pontes sobre o rio Seim destruídas, presumivelmente por bombas da aviação ucraniana e mísseis do sistema americano Himars, faltam 2,6 km para que as unidades ucranianas fechem essa espécie de armadilha que capturaria as forças russas entre o Seim e a fronteira com a região ucraniana de Sumy, considera o especialista Yan Matveyev, que conclui que a Rússia “carece de instrumentos para reverter a situação ali: ou se retira ou envia mais soldados que, mais cedo ou mais tarde, estarão condenados a morrer ou a cair prisioneiros”.

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Nas palavras do analista militar Yuri Fiodorov, se o cerco se fechar, a única via para a retirada dos soldados russos serão pontões (com base em imagens de satélite, os especialistas falam de duas ou três construções improvisadas desse tipo na zona de Glushkovo, uma das quais foi destruída nessa semana) ou, em último caso, cruzar o rio a nado sob o fogo de drones e artilharia.

O comandante-chefe do exército ucraniano, Oleksandr Syrskyi, ao intervir por videoconferência diante dos delegados do congresso de autoridades regionais e locais, afirmou que seu exército controla 93 localidades russas e uma área de 1.263 km². Syrskyi mostrou pela primeira vez – fragmento amplamente difundido pela televisão e pelas agências de notícias ucranianas – um mapa do território russo ocupado e revelou que a Rússia, desde 6 de agosto, quando as tropas ucranianas cruzaram a fronteira, lança por dia 44.500 projéteis, três vezes mais que a Ucrânia (14.600).

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De acordo com o general, desde fevereiro de 2022, dos quase 10 mil mísseis que a Rússia disparou, a Ucrânia conseguiu interceptar um a cada quatro. E dos 14 mil drones usados como bomba, a defesa antiaérea ucraniana abateu 9 mil.

Rússia e China reafirmam amplitude dos acordos de cooperação

O presidente Vladimir Putin recebeu nesta quarta-feira (21) o primeiro-ministro chinês, Li Qiang, que assinou vários acordos de cooperação com seu homólogo russo, Mijail Mishustin, em sua primeira viagem a outro país desde que assumiu a chefia do Conselho de Estado na China.

“Nossos países têm planos conjuntos de grande escala nos âmbitos econômico e humanitário, confiamos que para muitos anos”, disse Putin ao saudar o visitante chinês, em um encontro protocolar que destaca a importância que Moscou concede à sua relação com Pequim, pois o titular do Kremlin não costuma receber representantes de outros países que não sejam chefes de Estado.

Putin recordou que em 2 de outubro se cumprirão 75 anos de estabelecimento de relações diplomáticas entre Rússia e China e convidou Li a participar do Fórum Econômico Oriental, que vai ser celebrado em setembro em Vladivostok. Também transmitiu seus melhores votos ao presidente da China, Xi Jinping, que se espera participar da cúpula dos BRICS em 22 e 23 de outubro na cidade russa de Kazan.

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Mishustin e Li assinaram um programa de cooperação em matéria de investimentos e memorandos mútuos em áreas prioritárias, como transporte e indústria química. Na cerimônia de assinatura, Mishustin assinalou: “Nós enfrentamos condições externas nada fáceis. É importante concentrar esforços em defender nossos interesses comuns, em construir uma ordem mundial multipolar e em coordenar-se no âmbito internacional”.

Por sua vez, Li destacou: “A amizade sino-russa resistiu às turbulências internacionais e tem uma longa história. Nossa amizade é sólida e inabalável, é nossa valiosa conquista comum”. E ofereceu, “em meio à situação internacional em mudança”, avançar junto à Rússia de “modo mais firme” na linha marcada pelos mandatários de ambos os países para “benefício de seus povos”.

La Jornada, especial para Diálogos do Sul – Direitos reservados.


As opiniões expressas neste artigo não refletem, necessariamente, a opinião da Diálogos do Sul do Global.

Juan Pablo Duch Correspondente do La Jornada em Moscou.

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