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Foto: Kamala Harris / X

Convenção Democrata: Kamala dá migalha a eleitores que rogam por cessar-fogo em Gaza

Oficialmente candidata à presidência dos EUA, Kamala Harris ignorou os apelos pró-Gaza dentro e fora da Convenção Democrata e só assumiu compromisso com o “direito de Israel de se defender”
David Brooks, Jim Cason
La Jornada
Chicago

Tradução:

Beatriz Cannabrava

Kamala Harris saiu triunfante de Chicago em seu objetivo de consolidar o apoio quase total do Partido Democrata à sua campanha presidencial e com bases entusiásticas, que não só incluem os militantes, mas também várias das figuras políticas e culturais mais reconhecidas do seu país. A por ora vice-presidenta foi batizada como “a guerreira feliz”, que oferece uma voz mais jovem e uma visão “do possível” se for eleita, em contraste com a mensagem sombria e sinistra de seu opositor Donald Trump.

Além de sua mensagem, sua candidatura por definição é histórica: a primeira mulher negra a se candidatar à Casa Branca e que, depois desta convenção e da mudança positiva nas tendências eleitorais até agora, possivelmente será a primeira presidente.

Na quarta e última noite da Convenção Nacional Democrata, ocorrida na quinta-feira (22), os oradores, vídeos e relatos foram dedicados à história de uma filha de migrantes – pai jamaicano e mãe indiana – criada na Califórnia e no Canadá, que trabalhou em um McDonald’s para pagar seus estudos universitários em Direito, chegou a ser promotora em São Francisco e depois procuradora-geral da Califórnia, tornou-se madrasta dos filhos de seu marido, Doug Emhoff, depois foi eleita senadora federal para chegar a ser a primeira mulher e pessoa de ascendência africana a ser vice-presidenta.

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“Nesta eleição, nossa nação tem uma oportunidade preciosa e fugaz de superar a amargura, o cinismo e as batalhas divisórias do passado”, explicou Harris. “Não como membros de um partido ou facção, mas como estadunidenses”.

Falando ante a arena do United Center, onde joga a famosa equipe de basquete Bulls, Harris declarou: “Serei uma presidente que nos unirá em torno de nossas aspirações mais elevadas. Uma presidente que lidera e ouve, que é realista, prática, que tem bom senso e que sempre lutará pelo povo estadunidense. Desde os tribunais até a Casa Branca, esse tem sido o trabalho da minha vida”.

Ante os coros de “Ka-ma-la!”, a vice-presidenta retomou seu roteiro recém estreado há apenas um mês, quando foi proclamada candidata, mas já bem ensaiado, recordando a todos sua experiência como uma promotora firme, mas sem abandonar a compaixão, que sabe como enfrentar criminosos, homens que abusam de mulheres, empresários que roubam – referências óbvias ao seu oponente, Donald Trump. E repetindo as frases que se tornaram consignas da campanha: “Quando lutamos, ganhamos”.

Como tem sido ao longo desta convenção, as propostas políticas ficaram sem grande detalhe e abordaram desde a defesa do direito ao aborto, a assistência para moradia e o apoio aos direitos sindicais até reduções de impostos para a classe média. Essa estratégia é proposital, dizem analistas e assessores aqui. “Há um cálculo político para permanecer deliberadamente ambíguos sobre vários dos temas centrais”, comentou um analista e assessor da candidata em entrevista ao La Jornada.

Perguntado sobre o que Harris fará a curto prazo nos temas de migração e relações com o México, o assessor explicou que provavelmente ela esperará até depois da eleição para decidir como proceder em relação a esses temas. “Com o México, a imigração e o comércio serão temas-chave sobre os quais ela terá que tomar decisões pouco após chegar à Casa Branca”.

Mas resta saber se Harris e seu companheiro de chapa, Tim Walz, podem manter essa ambiguidade durante a disputa. Seu oponente Trump viajou na quinta-feira (22) à fronteira com o México para ressaltar o que acusa serem os fracassos do presidente Joe Biden, e a quem chama de “a czarina da fronteira” Harris, em “controlar essa linha”.

Respondendo a estes ataques, Harris recordou: “enfrentei os cartéis que traficam armas, drogas e seres humanos”. Agregou que ressuscitará o acordo de dois partidos sobre segurança fronteiriça, que enviaria mais agentes da Patrulha de Fronteira e que permitiria ao presidente suspender solicitações de asilo. Mas, ao mesmo tempo, ofereceu, em resposta às demandas dos defensores dos direitos dos migrantes, que impulsionará algum tipo de reforma migratória. “Podemos criar um caminho merecedor à cidadania e assegurar nossa fronteira” ao mesmo tempo.

No âmbito da política exterior, não abandonou a missão aparentemente sagrada dos Estados Unidos. “Como comandante-chefe, eu assegurarei que os Estados Unidos sempre tenham a força de luta mais forte e letal do mundo”, declarou. “Fortaleceremos, não abdicaremos, nossa liderança global”. Os militantes responderam como sempre: “USA, USA”.

Gaza, a maior controvérsia de Kamala

De longe, o tema mais controverso dentro e fora da convenção esta semana é o apoio estadunidense incondicional a Israel em sua guerra em Gaza. Promotores de um cessar-fogo e do fim do envio de armas estadunidenses a Israel alertam que não poderão mobilizar eleitores em apoio à candidata democrata sem algum sinal de que ela buscará pôr fim ao cheque em branco estadunidense para Israel. “Se, ao chegar o dia 6 de novembro, acabarmos perdendo esta eleição, não teremos ninguém mais a culpar senão a nós mesmos pela maneira como decidimos incluir ou excluir certas vozes”, advertiu a deputada federal Ilhan Omar, em entrevista ao noticiário digital Zeteo. Ela condenou em particular o presidente Biden por continuar com o envio de armas a Israel enquanto diz favorecer um cessar-fogo. “É ridículo dizer que vamos trabalhar todos os dias, que estamos trabalhando todos os dias para conseguir um cessar-fogo, e ao mesmo tempo enviar as armas que estão criando esse fogo”.

Ainda na quinta-feira, a pressão sobre a campanha de Harris para tomar uma posição diferente sobre Gaza se intensificou com vários palestino-americanos realizando um protesto físico em frente à arena, e com o sindicato automotivo nacional UAW se juntando ao pedido para que fosse permitido a uma voz palestino-americana falar do púlpito durante a convenção – petição que foi negada pelo partido. O cineasta Michael Moore se juntou à demanda, declarando que, “se quisermos que a guerra em Gaza chegue ao fim, não podemos enterrar nossas cabeças ou ignorar as vozes dos palestino-americanos no Partido Democrata. Se queremos paz, se queremos uma democracia real, e se queremos ganhar esta eleição, o Partido Democrata deve permitir que um orador palestino-americano seja ouvido do púlpito da Convenção Nacional Democrata esta noite (quinta-feira)”.

Nenhuma voz palestino-americana foi convidada ao púlpito, mas Harris dedicou parte de seu discurso ao Oriente Médio. “Sempre estarei comprometida com o direito de Israel de se defender”, declarou. Ela acrescentou que ela e o presidente trabalham incessantemente “porque agora é hora de conseguir um acordo para o regresso dos reféns e um cessar-fogo”. Agregou ainda que “o que ocorreu em Gaza nestes 10 meses é devastador. Tantas vidas inocentes perdidas, a escala do sofrimento parte o coração… O povo palestino deve alcançar seu direito à dignidade, segurança, liberdade e autodeterminação”, disse.

A noite culminou com uma sensação histórica, como também uma esperança urgente: que uma mulher está a caminho de ser a primeira presidente e que nesta eleição o povo poderá frear o avanço do projeto neofascista. Isso talvez mereça um pouco de alegria.

Otimismo com Harris

Depois de quatro dias da Convenção Nacional Democrata que culminou na última quinta-feira (22) com a coroação da filha de imigrantes Kamala Harris, muito mudou com um novo impulso e, pela primeira vez, um panorama eleitoral positivo para os democratas, e as tendências nas pesquisas o demonstram. Harris agora está empatada ou ganhando, uma mudança alcançada em apenas um mês, quando Joe Biden era candidato e estava à beira de uma possível derrota.

Talvez o indicador mais claro disso seja a crescente histeria de Donald Trump expressa em declarações cada vez mais tolas. “Ela foi comunista, é comunista e será comunista”, acusa todos os dias, algo que além de ser falso, parece ser um ataque possivelmente caduco de um político velho que cresceu na Guerra Fria.

A questão é que na convenção em Chicago nasceu um otimismo ausente durante a campanha de Biden e com isso mudou a narrativa nos meios de comunicação e nas ruas sobre a eleição, de repente colocando em xeque as ambições e previsões republicanas. E com apenas 11 semanas antes da eleição em 5 de novembro, isso era essencial para os democratas.

O mosaico das bases e militantes do Partido Democrata é uma expressão visual da diferença entre os dois partidos. Em Chicago, tanto o desfile de oradores quanto os 20 mil participantes na arena sublinharam o chamado à unidade, apesar das diferenças, que foi uma das mensagens retóricas principais para marcar um contraste com os republicanos e sua convenção esmagadoramente branca. Políticos latinos – alguns usando o espanhol -, afro-americanos, asiáticos, gays, muçulmanos, judeus e mais se combinaram com estrelas do mundo do espetáculo e do esporte.

Aliás, poderia-se dizer que os que mais provocaram o júbilo do público foram os não políticos, como o músico Stevie Wonder, as Chicks, Pink e o treinador de basquete Steve Kerr, entre outros. E também se notou na trilha sonora desta festa política, desde rock, country, Motown, R&B, rap, embora não o blues, a música mais identificada com Chicago (talvez porque contrasta um pouco com um dos temas da convenção, que é a felicidade, uma decisão de alguém que não entende o blues).

Houve momentos que ofereciam algumas interrupções cômicas, por exemplo, referências à matriarca do partido, a ex-presidente da câmara baixa Nancy Pelosi, a quem deram o apelido de “a madrinha” – no sentido de “O Padrinho” (“O Poderoso Chefão”, no Brsil) – por seu manejo férreo do poder partidário, incluindo, embora não dito publicamente, seu papel já conhecido em pôr fim à candidatura de Joe Biden e transferi-la a Harris.

No entanto, se algo tinham em comum as duas convenções, era essa estranha obsessão com a família dos candidatos. Diferentemente de outros países, os esposos, filhos e netos dos candidatos de repente fazem parte do enfoque: quem poderia ser o primeiro primeiro-cavalheiro, Doug Emhoff, marido de Harris, ofereceu um discurso que incluiu até como conheceu romanticamente sua esposa. O presidente Biden foi apresentado por sua filha. Os filhos de ambos os candidatos foram captados pelas câmeras, e também participaram em vídeos transmitidos aqui para falar sobre seus pais. Ninguém os elegeu, mas são protagonistas nas disputas eleitorais.

E como era de se esperar, não falta o patriotismo fácil. Em cada convenção se dizia em coro, quando se elogiava este país, “USA, USA”. Cada noite começava com o hino nacional, e o juramento de lealdade, e na versão republicana com expressões marciais. Muito ênfase foi colocado no heroísmo dos que são e foram militares, com alguns dos oradores afirmando que arriscaram suas vidas em lugares como Afeganistão e Iraque “para defender a liberdade” e seu país. Não mencionaram as consequências dessas aventuras bélicas estadunidenses. Aqui se usou repetidamente para criticar a covardia de Trump que evadiu o serviço militar com um pretexto médico.

Em ambas também não se deixava de dizer que este país é o elegido por Deus, cada noite pediam a bênção do ser divino, e essa mescla de religião e política se realizava no início e no final de cada noite por líderes religiosos. Talvez seja a democracia mais religiosa do mundo.

Com tanto patriotismo, odes ao sonho americano, referências a este país como “a nação indispensável” do mundo e, como se disse repetidamente, uma “força do bem”, resultavam um pouco desconcertantes as referências a esta eleição como um momento existencial em que estava em risco o futuro do superpoder. Segundo o que foi dito nesta e na outra convenção, há ameaças por toda parte, dentro e fora do país. Uma vez mais, deixaram a impressão de que é um superpoder muito assustado.

“Aqui não se decide nada, algo que decepciona os novatos entre os delegados, não entendem que uma convenção é nada mais do que um comercial muito longo”, um spot publicitário.

É uma super produção obviamente realizada por profissionais do mundo do espetáculo.

Quase tudo está coreografado, nada fora do controle da campanha presidencial e da cúpula máxima do partido, embora às vezes haja interrupções mínimas e breves como as que expressam dissidência sobre o apoio estadunidense ao genocídio em Gaza.

Há algo de pão e circo, mas ao mesmo tempo, também é a única vez a cada quatro anos que cada partido se reúne a nível nacional, onde se podem expressar de certa maneira diversas correntes, como foi o caso aqui com legisladores e funcionários progressistas e seus aliados em movimentos de direitos e liberdades civis, e onde apesar da prioridade política de mostrar unidade com os candidatos, se registram algumas das lutas internas e externas no país mais poderoso do mundo.

Há níveis dentro da convenção. Há assentos especiais reservados para convidados importantes, doadores e mais, também seções com bebida grátis, por exemplo, a área “Captain Morgan”. Empresas e grupos de interesse poderosos compraram “suítes” com cozinheiros e garçons, e para os mais especiais há festas privadas com entretenimento exclusivo. Apesar da retórica desde o pódio, nem todos aqui são iguais.

“Na África, todos morrem de rir ao ver os Estados Unidos”, comenta um taxista de Uganda em Chicago ao conversar sobre o dinheiro que domina a eleição, a retórica falsa e, sobretudo, Donald Trump que, segundo ele, aplicou o modelo autoritário de vários líderes da África.

A terceiro e penúltima noite da Convenção Democrata

Foi a noite do governador Tim Walz, o recém-coroado candidato à vice-presidência, no terceiro dia da Convenção Nacional Democrata, que oscilou entre a nostalgia representada pelo ex-presidente Bill Clinton e visões de um futuro multiétnico e cultural que de certa maneira simboliza a candidata presidencial Kamala Harris.

Direitos LGTBQ+, direitos das mulheres e outros direitos e liberdades civis foram alguns dos principais temas, todos acompanhados por um dos slogans da campanha de Harris: “não retrocederemos”. Uma e outra vez, abordou-se a ameaça a todas as liberdades civis que Donald Trump representa, e a urgência de frear sua agenda ultradireitista.

Essas convenções são principalmente dedicadas a contar as histórias da candidata presidencial, e seu vice, o candidato à vice-presidência Walz, o fez de maneira simples para alcançar os eleitores. Foi traçada a trajetória de vida de Walz, de como ele cresceu em uma cidade rural, juntou-se às forças armadas, depois trabalhou como professor de Ciências Sociais em uma escola pública e treinador de futebol americano antes de ser eleito para a câmara baixa por um distrito conservador para chegar a ser o governador do estado de Minnesota.

“Eu me apaixonei pelo ensino”, declarou Walz ao contar sua história, e de quando decidiu ser um político, sem experiência, mas que conseguiu vencer. Advertiu: “nunca subestime um professor da educação pública”. Sublinhou que suas prioridades nesta campanha incluem a proteção dos sindicatos, acesso à saúde, defender o direito ao aborto e impor controles sobre armas de assalto. “Kamala Harris é forte, Kamala Harris tem experiência, e Kamala Harris está pronta. Nossa tarefa, para todos aqui e os que estão assistindo, é entrar nas trincheiras e começar a trabalhar”, enfatizou.

A meta, disse ele, é “construir um país onde os trabalhadores vêm em primeiro lugar, onde saúde e moradia são direitos humanos e onde o governo fica fora do seu quarto”. Sua biografia de gente comum, sua retórica simples, e sua defesa da “decência” são parte do que o torna um político eficaz neste momento – e isso acendeu a convenção.

Pouco antes de Walz, o ex-presidente Clinton declarou: “se votarem por essa equipe, se conseguirem que sejam eleitos, deixarão entrar um ar fresco, e vocês estarão orgulhosos pelo resto de suas vidas, seus filhos estarão orgulhosos, seus netos estarão orgulhosos”. Acrescentou: “escutem isso de um homem que uma vez foi chamado de ‘o homem da Esperança [Hope, o nome da cidade onde foi criado]’. Precisamos de Kamala Harris como a presidente da alegria”.

Esta quarta-feira incluiu uma sessão sobre migração, começando com a deputada Veronica Escobar de El Paso, que assegurou que Donald Trump não conhece a vida na fronteira. Kamala Harris apareceu em vídeo para repetir sua história de como perseguiu narcotraficantes, fechou túneis na fronteira e como promoveu uma legislação bipartidária para a fronteira negociada entre democratas e republicanos, mas foi freada por ordens de Trump à bancada republicana.

Entre os oradores, também desfilaram governadores de Michigan e Pensilvânia, entre outros considerados cruciais porque definirão o resultado final da eleição nacional. Mas também se apresentaram dissidentes republicanos na convenção, incluindo a ex-porta-voz de Trump, Stephanie Grisham, e outros políticos que agora apoiam Harris, desencantados com as políticas de Trump.

A grande estrela surpresa foi Oprah Winfrey, uma das celebridades afro-americanas mais populares e influentes deste país. “Temos que optar pelo senso comum sobre o absurdo”, declarou, ao se referir à decisão entre Harris e Trump.

De fato, foi um contraste notável com a Convenção Republicana, onde não se convidou George W. Bush nem nenhum membro de seu governo (todos os quais se recusam a endossar Trump em público), enquanto aqui destacou-se a presença de dois ex-presidentes – Bill Clinton na quarta, Barack Obama na terça – além de uma mensagem do terceiro, Jimmy Carter, que, aos 100 anos, diz que quer viver até a eleição para votar em Harris (e contra Trump).

Durante esses três dias, o Partido Democrata conseguiu criar uma festa para os delegados em um evento onde todos já sabiam qual seria o resultado. Sem dúvida, foi o lendário músico Stevie Wonder quem foi uma das estrelas mais brilhantes da festa – ofereceu um discurso cheio de lirismo e culminou com sua canção Higher Ground. Outros músicos incluíram John Legend e a estrela country Maren Morris, que ofereceram seus ritmos ao público. Mas talvez o uso mais imaginativo da música tenha sido a apresentação das delegações estaduais com músicas relacionadas a cada estado. Assim, Michigan se apresentou com uma música de Eminem, Califórnia com uma de Tupac Shakur, e a mais aplaudida foi a do rapper Lil Jon ao vivo ao introduzir seu estado, Geórgia.

Mas nem todos compartilhavam da ode à alegria. Delegados que exigem que Harris apoie um cessar-fogo imediato em Gaza e suspenda o envio de armas a Israel obrigaram o registro de seu descontentamento ao não concederem seus votos a favor da nomeação da candidata em protesto simbólico, e a cada dia realizam sessões com a imprensa onde, por exemplo, médicos relatam as consequências das bombas estadunidenses que Israel joga sobre Gaza todos os dias.

Pequenos grupos de ativistas como o Código Rosa conseguiram interromper brevemente o programa e outros atos paralelos a esta convenção, deixando cair faixas ou entoando slogans. “Parem de matar mulheres. Parem de matar crianças”, gritaram alguns ativistas em um evento de campanha com Walz, enquanto outros interromperam uma entrevista ao vivo da ex-presidente da câmara baixa Nancy Pelosi, realizada por Stephen Colbert. Nos hotéis onde pernoitam os delegados e outros convidados, vários ativistas circulavam com camisetas laranja que diziam “Israel mata crianças. Impostos estadunidenses pagam por isso”. Em um parque a poucas quadras do perímetro de segurança ao redor da arena onde se realiza a convenção, bandeiras palestinas tremulavam com centenas de manifestantes garantindo que seus gritos de protesto fossem ouvidos nos arredores deste espetáculo político.

De fato, a oposição dentro e fora do partido obrigou que o tema da Palestina fosse abordado dentro da convenção, e a cada noite – embora nem sempre em horário de pico – pelo menos um orador o faz. Por exemplo, nesta quarta-feira coube ao procurador-geral de Minnesota, Keith Ellison, afirmar que Harris e Walz “estão ouvindo, estão de acordo conosco” sobre a urgência de um cessar-fogo.

Poucos minutos depois, os pais de um cidadão estadunidense refém do Hamas em Gaza contaram seu sofrimento, diante de um coro de “que os tragam para casa”. Mas esta ninguém contou o sofrimento dos pais dos milhares de crianças mortas em Gaza.

La Jornada, especial para Diálogos do Sul – Direitos reservados.


As opiniões expressas neste artigo não refletem, necessariamente, a opinião da Diálogos do Sul do Global.

David Brooks Correspondente do La Jornada nos EUA desde 1992, é autor de vários trabalhos acadêmicos e em 1988 fundou o Programa Diálogos México-EUA, que promoveu um intercâmbio bilateral entre setores sociais nacionais desses países sobre integração econômica. Foi também pesquisador sênior e membro fundador do Centro Latino-americano de Estudos Estratégicos (CLEE), na Cidade do México.
Jim Cason Correspondente do La Jornada e membro do Friends Committee On National Legislation nos EUA, trabalhou por mais de 30 anos pela mudança social como ativista e jornalista. Foi ainda editor sênior da AllAfrica.com, o maior distribuidor de notícias e informações sobre a África no mundo.

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