Quem quiser saber se há “soldados norte-coreanos” no território da Rússia, “deve perguntar a Pyongyang, já que são suas forças armadas”, respondeu nesta quarta-feira (23) a porta-voz da chancelaria russa, Maria Zakharova, após os insistentes rumores que, no começo desta semana, surgiram em Kiev, seguiram em Seul e finalmente foram repercutidos em Washington.
“Na realidade, não se entende por que a Coreia do Sul está fazendo o jogo do regime de Kiev. (…) A cooperação da Rússia com a República Popular Democrática da Coreia no âmbito militar, como em outras áreas, em primeiro lugar, está de acordo com o direito internacional e não o viola, e em segundo lugar, não causa nenhum mal, dano ou prejuízo à Coreia do Sul”, afirmou a porta-voz em seu encontro semanal com os repórteres da fonte.
A diplomata instou às autoridades de Seul a “não se deixarem levar pela histeria antirrussa” e refletirem sobre as consequências que teria seu envolvimento direto no conflito ucraniano: “a Rússia responderá com firmeza a qualquer ameaça à segurança do país e de seus cidadãos, onde quer que se encontrem”, advertiu. E expressou a confiança de que Seul demonstre “prudência e bom senso”.
Horas antes, em Roma, o secretário de Defesa dos Estados Unidos, Lloyd Austin, assinalou pela primeira vez que Washington “tinha evidências de que há tropas da RPDC (sigla do nome oficial da Coreia do Norte) na Rússia”, mas reconheceu que ainda não sabia com que propósito. “O que estão fazendo exatamente? Isso ainda precisa ser esclarecido”. Ele acrescentou: “Seria muito, muito grave se os norte-coreanos estivessem recebendo treinamento para combater na Ucrânia ao lado da Rússia”.
Bielorrússia
O presidente da Bielorrússia, Aleksandr Lukashenko, desmentiu essa possibilidade a partir de Kazan, onde participou da Cúpula do BRICS, ao dizer à BBC de Londres: “Eu não acredito (que eles vão enviar soldados norte-coreanos para a Ucrânia), são puras especulações, nunca se falou disso nem houve negociações. Falo por Putin, conheço seu caráter. A Rússia tem população suficiente para combater”.
O mandatário bielorrusso questionou: “Putin precisa que a Otan (Organização do Tratado do Atlântico Norte) tenha um pretexto para enviar tropas à Ucrânia? Você diz: ‘soldados norte-coreanos’. Onde está a Coreia e onde está a Bielorrússia? Putin nunca me pediu para nos envolvermos nessa confusão. Jamais”.
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No outro extremo, de acordo com agências de notícias, os serviços de inteligência de Seul continuam a soar o alarme e asseguram que Moscou e Pyongyang firmaram um protocolo secreto que permite o envio de tropas mediante solicitação. Afirmam que já estão sendo treinados na Rússia “pelo menos 3 mil soldados norte-coreanos, de um total de 10 mil que poderiam se juntar às frentes de combate na Ucrânia antes de dezembro”.
O governo da Ucrânia, indo mais longe que ninguém, afirmou na quarta-feira (23) que já há militares norte-coreanos em seu país, ao divulgar na Internet, em coreano, a seguinte mensagem: “Rendam-se, vocês não precisam morrer sem sentido em terra alheia. A Ucrânia oferece asilo, dará comida a vocês, nada lhes faltará. Milhares de soldados russos já escolheram o caminho correto e agora esperam o fim da guerra em condições dignas”.
Independentemente do que possa ser verdadeiro ou falso em relação à presença de militares norte-coreanos na Rússia, os especialistas que acompanham a evolução da guerra no país eslavo questionam o que um número tão pequeno de soldados poderia contribuir, considerando que eles não falam o idioma russo, desconhecem a geografia dos combates e não estão acostumados ao clima severo dessas latitudes, entre outros aspectos que, de acordo com a opinião unânime, dariam mais problemas ao Kremlin do que os que ele gostaria de solucionar com tropas estrangeiras.
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