Foto: Mary Abq / Flickr

Grande mídia omite ligação entre sanções dos EUA e crise energética em Cuba

Silenciar a guerra econômica sofrida por Cuba é a única forma de justificá-la e dar a entender que apagões são consequência de “65 anos de gestão comunista”

José Manzaneda

Havana

28 de outubro de 2024
às 17:57

Tradução:

Ana Corbisier

O Departamento do Tesouro dos EUA persegue e sanciona as empresas de navegação que levam combustível às centrais termelétricas de Cuba (1).

Persegue e sanciona qualquer banco internacional que ouse realizar transferências de instituições cubanas ou outorgar créditos para o pagamento de abastecimentos (2). As sanções dos EUA acabaram, em cinco anos, com 90% da produção de petróleo da Venezuela, antes principal fornecedor de combustível para Cuba.

Além disso, a Casa Branca conseguiu impactar todas e cada uma das fontes de ingresso de divisas de Cuba: o envio de remessas da emigração cubana esteve proibido durante mais de três anos (3); o turismo europeu a Cuba caiu por penalizações de vistos, enquanto o estadunidense continua fechado (4); e a aplicação integral da Lei Helms-Burton cortou pela raiz o fluxo de investimento estrangeiro para Cuba (5).

Acrescentemos a tudo isto o encarecimento de todas as importações cubanas pelo tradicional embargo comercial dos EUA; as penalizações e pressões a empresas e países que comerciem com a Ilha; ou a impossibilidade de que Cuba tenha acesso a créditos para o desenvolvimento, para modernizar, por exemplo, seu sistema elétrico, devido ao voto preferencial dos EUA no Banco Mundial e no Banco Interamericano de Desenvolvimento (6).

Mídia corporativa esconde motivos

A crise elétrica que sofre Cuba é consequência da soma destes elementos. Mas não encontrarão nem uma única menção a eles na imprensa corporativa internacional. Uma parte desta imprensa nos descreve a situação cubana tal como é, sem dúvida (7). Uma realidade dramática, limite, insustentável. Mas, e quanto às causas da política criminosa que levou a esta situação (8)? Nem uma sílaba (9).

Outra parte da mídia toma partido… para avalizar o crime. É o caso do diário “El País”, cuja especialista no tema Cuba é Carla Gloria Colomé que, antes, trabalhou a soldo do Governo dos EUA em El Estornudo (10) (11). Fala-nos com suficiência de “décadas de falta de investimento, de um “sistema elétrico obsoleto” que “depende ainda dos combustíveis fósseis”, como se isto fosse uma decisão burocrática ou caprichosa de Havana (12). Tudo para escamotear a guerra econômica imposta pelo Governo que pagou seu salário durante anos.

Apagão em Cuba: bloqueio dos EUA é principal responsável por colapso do sistema elétrico

Outro meio de comunicação espanhol, El Confidencial, menciona certas razões da crise (13). Uma, o petróleo venezuelano. “Caracas já não é capaz de enviar a Havana nem 50%” do que lhe enviava, nos diz. Mas, por que não explica que já não pode fazê-lo porque o bloqueio dos EUA acabou com 90% de sua produção e de seus ingressos (14)? Duas, o turismo. “O regime cubano perdeu grande parte de sua liquidez financeira devido à decadência do turismo, uma de suas principais fontes de ingressos”. Mas, por que cala sobre uma das razões fundamentais, a penalização dos EUA aos turistas europeus que visitam a Ilha?

Silenciar a guerra econômica que sofre Cuba é a única forma de justificá-la, e assim endossar suas consequências a “65 anos de gestão comunista” ou à “centralização econômica” (curiosamente, quando esta é menor do que nunca na história, depois de um processo de abertura ao setor privado) (15).

E, em tudo isso, há meios de comunicação que já esboçam a seguinte linha de ataque: a suposta repressão. A advertência do presidente Miguel Díaz-Canel de que não vai permitir “fatos de vandalismo”, aproveitando o apagão, caso ocorresse em outro país, seria narrada como a atuação normal de um Estado em defesa das propriedades públicas e privadas.

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Mas, sendo em Cuba, a coisa muda: nos dizem que “O regime (…) ameaçou aumentar a repressão contra aqueles que protestem” (16) ou que “o Governo adverte que não tolerará protestos” (17).

O povo cubano sofre uma guerra impiedosa, com o aval dos meios de comunicação internacionais. Uma guerra que jamais alcançara semelhante intensidade. Por isso, é necessário ativar, mais do que nunca, a solidariedade do mundo inteiro. Para parar os criminosos… e seus órgãos de propaganda (18).