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Foto: Reprodução / X

Bolívia enfrenta colapso econômico; única solução viável é antecipar eleições, diz ex-ministra

Luis Arce ainda tem um ano de gestão, mas quase ninguém na Bolívia acredita que possa concluir seu governo, porque os setores sociais rebelaram-se frente à situação atual e todos os dias há manifestações sociais
Aldo Anfossi
La Jornada
Santiago

Tradução:

Ana Corbisier

A descrição que faz da Bolívia a economista, catedrática e dirigente política Ana Teresa Morales Olivera, militante da ala evista do Movimento ao Socialismo (MAS), é verdadeiramente alarmante e denota um quê de resignação ante o que se percebe como inevitável.

Luis Arce ainda tem um ano de gestão, mas quase ninguém acredita que possa concluir seu governo, porque os setores sociais rebelaram-se frente à situação atual e todos os dias há manifestações sociais”, afirma aquela que foi ministra de Desenvolvimento Produtivo entre 2011 e 2015, durante o segundo governo de Evo Morales.

O severo vaticínio evidencia o desprezo e a ruptura total, sem possibilidade de reconciliação, entre ambos os grupos do MAS.

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“Não há dólares porque o Banco Central foi esvaziado com atos de corrupção; não podem pagar os combustíveis importados e estamos paralisados. O país colapsou, o governo começou a imprimir notas de maneira inorgânica, está começando um processo de inflação, não há dinheiro para importar combustíveis, medicamentos, peças de reposição ou insumos agrícolas”, descreve Olivera em entrevista ao La Jornada, direto de La Paz.

Confira a entrevista

Aldo Anfossi | A 10 meses das eleições de 2025, o país suportará um ambiente de piora das condições?

Ana Teresa Morales Olivera | Todo o país está preocupado porque estamos em uma situação de colapso econômico. O presidente não oferece saídas, convocou reuniões, mas os setores já não participam, porque os compromissos não são cumpridos e é muito difícil que consiga acordos. O protesto dos empresários é totalmente consistente, não há dólares para as importações, nem de insumos, nem de maquinário, nem de matérias-primas, e tampouco há combustível para as colheitas.

A senhora apoia a redução do governo de Arce?

Não deveria ser assim, não é ideal que os presidentes não terminem seus mandatos constitucionais.

Como seria exatamente uma redução do mandato?

Significaria que a Assembleia Legislativa faria uma lei antecipando as eleições. Não é o que qualquer pessoa democrática e partidária de um estado de direito gostaria; no entanto, a situação é tão grave que uma antecipação das eleições cada vez parece mais viável devido à falta de reação do governo. É inacreditável que Arce não tenha enfrentado a situação, o que o torna responsável pela possibilidade de as rebeliões populares superarem as chances do governo e ter que renunciar de maneira antecipada, porque é a única maneira de adiantar eleições.

Alguma reflexão acerca da situação judicial do ex-presidente Morales?

Iniciaram uma perseguição jurídica com vários temas. O mais conhecido foi uma suposta tentativa de estupro, um caso que o governo de fato de Jeanine Áñez iniciou e que havia sido encerrado por falta de provas. Voltaram com isso e tentam dar algum sentido, ainda que ninguém tenha denunciado Evo Morales. Foi armado pela procuradoria de ofício e tampouco há testemunhas, não há condições básicas para um processo. Tentaram uma ordem de apreensão que tiveram que abandonar porque outros juízes a consideraram ilegal e tentarão seguramente emitir outra ordem, ou a opção B, que já tentaram: que franco-atiradores atentem contra Evo Morales.

Qual sua opinião sobre tanto Arce como Morales renunciarem à aspiração de governar novamente? Isso poderia pacificar o MAS e unificá-lo em torno de uma candidatura comum?

Este caminho não é viável; mais de um milhão de militantes tomaram a decisão de se negar a aceitar que Evo Morales não seja candidato, consideram que ele é o único capaz de reinstalar o processo de mudança. Luis Arce tem uma popularidade de 5 a 10% e 75% de rejeição, sabe que não pode ser candidato porque está a ponto de não poder terminar seu mandato, mas está obcecado e empenhado: se não for ele, o MAS tem que desaparecer.

A ex-ministra Ana Teresa Morales Olivera (Foto: Reprodução / YouTube)

Suponhamos que chegue a data de inscrição das candidaturas e não permitam que Evo se inscreva.

Pode acontecer, e seguramente é a intenção de Arce, mas a capacidade de mobilização das organizações sociais e do MAS é enorme. Qualquer governo que se instale inabilitando o maior partido da história da Bolívia, não vai poder ser um governo suportável e não vai ser fácil sua governabilidade;, praticamente vai ser impossível, isso a oposição reconhece.

La Jornada, especial para Diálogos do Sul Global – Direitos reservados.


As opiniões expressas neste artigo não refletem, necessariamente, a opinião da Diálogos do Sul do Global.

Aldo Anfossi

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