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ToggleUma rápida análise da política estadunidense nos permite assegurar que estamos novamente diante do que pode ser chamado de “a hora dos falcões”, ou seja, o momento em que a crise nos EUA se agrava de tal modo que para enfrentá-la emergem as propostas — e os homens — mais radicais e extremistas. Donald Trump e seu discurso confirmam essa ideia. Donald Trump já é conhecido.
Sem dúvida, ele não mudou. O que mudou hoje foi o cenário político internacional e a situação vivida nos Estados Unidos, um país assolado pela crise, violência e outros problemas colaterais. Hoje, o estadunidense médio sente-se inseguro porque percebe que o terreno sob seus pés está instável e porque não vê uma saída diante dos desafios que tem pela frente.
Quais são os grandes problemas que corroem a estrutura de dominação estadunidense neste momento?
No plano econômico, e como consequência disso, é possível identificar a queda na produção interna. Nos últimos anos, grandes empresas migraram. Optaram por produzir fora das fronteiras dos Estados Unidos em busca de mão de obra barata. Contudo, isso gerou repercussões perigosas dentro do país: o emprego diminuiu, postos de trabalho foram perdidos, e a capacidade de consumo da população enfraqueceu. A pobreza aumentou, e suas manifestações tornaram-se mais evidentes.
Imigração e conflitos
A imigração tornou-se uma fonte de conflito social agudo. A população africana e latino-americana cresceu substancialmente. Embora os migrantes, em geral, desempenhem funções e tarefas que os estadunidenses não costumam ocupar, ainda assim acabam invadindo mercados tradicionalmente “fechados”.
Isso impacta o emprego dos próprios cidadãos estadunidenses, gerando apreensão e inquietação. Além disso, há outros problemas, como a habitação, que está cada vez mais escassa e cara, e a saúde, que é extremamente custosa. Quem não tem seguro de saúde simplesmente não pode se dar ao luxo de adoecer.
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Hoje, nos Estados Unidos, registra-se um dado impressionante: 60 milhões de pobres, o que equivale a quase o dobro da população do Peru, vivendo em condições de abandono social. Muitos dormem em veículos abandonados nas ruas ou em barracas erguidas nas calçadas de algumas avenidas.
E isso acontece até mesmo em Hollywood, que antes era um centro indiscutível de prosperidade e riqueza. Dessa forma, emergem sinais evidentes de pobreza, e até de pobreza extrema, em uma sociedade tradicionalmente próspera. Nela, o descontentamento cresce e é visível à flor da pele. Hoje, nos Estados Unidos, a miséria não é exclusividade de negros ou imigrantes.
Desafios ao imperialismo
Nesse contexto, que é relativamente novo para os estadunidenses, os Estados Unidos enfrentam desafios decorrentes de sua política imperialista. Gasta-se somas fabulosas em guerras. Financia-se operações militares de governos contestados, como Ucrânia e Israel. Mantêm-se mais de 900 bases militares no exterior, com cerca de 200 mil soldados espalhados em diversos países.
Incentivam-se conflitos em diferentes regiões e, embora se produza uma enorme quantidade de armas para comercialização, a economia de guerra resultante dessa prática não resolve as dificuldades financeiras internas. Como no passado, hoje a economia de guerra é um paliativo, mas não uma cura para feridas sociais profundas.
Nesse cenário de crise e degradação, emergem os falcões. Eles pregam a “mão dura” e oferecem “ajustes” em todos os aspectos. Propõem “sacrifícios” — que não serão feitos por eles — e normas de “austeridade” que serão impostas à classe média e aos mais pobres. Internamente, exibirão essa política; externamente, mostrarão os dentes. Não serão apenas falcões, mas também hienas.
Marco Rubio como Secretário de Estado, Tom Horman em Migração, Peter Hegseth em Finanças e John Ratcliffe na CIA compõem a versão americana do “bando dos quatro”, que buscarão impor suas agendas desde as altas esferas do poder nos próximos quatro anos. Seus antecedentes sinistros os tornam temíveis em cada uma das áreas que abordarão.
Política externa dos republicanos
Quais serão suas principais orientações em política externa? Nos Estados Unidos, costuma-se dizer que os republicanos não iniciam guerras. Elas são feitas pelos democratas. Os republicanos negociam a paz. Essa afirmação, baseada em políticas do passado, pode ser expressa hoje, embora de forma peculiar.
É possível que a Casa Branca deixe Zelensky “pendurado na brocha” e retire o apoio. Também é possível que o neonazista ucraniano saiba disso. Por essa razão, ele já falou de “paz” como sua proposta para 2025. Isso pode desativar o discurso bélico da União Europeia, mas não afastará o perigo de uma guerra nuclear.
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Por ora, prevendo o que está por vir, Biden aperta os parafusos, e a Otan dá carta-branca a Kiev para intensificar o conflito até o limite, com a esperança de conter o retrocesso. Entretanto, a principal ofensiva de Trump se concentrará no Oriente Médio e na América Latina.
O ódio ao Irã e ao povo palestino levará Washington a alinhar-se com Israel. Porém, seus ataques mirarão perigosamente contra Cuba, Venezuela e Nicarágua em nosso continente.
Os falcões sentem que chegou sua hora. Os povos devem se preparar.