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Distribuição de água no Haiti em 2008 (Imagem ilustrativa: Logan Abassi / ONU)

Plano de ajuda ao Haiti recebe apenas 42% da ajuda financeira necessária

Em uma jornada que também comemorava o Dia das Forças Armadas Haitianas, destacou-se o desejo de construir um Exército “moderno” que ajude a recuperar o país
Victoria Korn
Estratégia.la
Caracas

Tradução:

Ana Corbisier

Em 18 de novembro, e em meio à crescente crise de violência, o Haiti inaugurou uma nova base militar em Vertières, com capacidade para abrigar cerca de 2.500 soldados. A base foi qualificada pelo presidente do Conselho Presidencial de Transição (CPT), Leslie Voltaire, como um “projeto estruturante”, previsto desde a posse do organismo em abril passado.

Durante a cerimônia, foi realizada a entrega oficial da base militar ao Alto Estado-Maior das Forças Armadas Haitianas. O presidente do CPT aproveitou para informar que, nos próximos meses, 2.500 novos recrutas receberão sua formação militar inicial nessa base, que também possui espaço para helicópteros.

A inauguração da nova base militar ocorre uma semana depois de as gangues armadas da coalizão Vivre Ensemble (Viver Juntos), lideradas pelo ex-policial Jimmy Cherizier, conhecido como “Barbecue”, anunciarem dias de terror na área metropolitana de Porto Príncipe.

Houve ainda ataques a dois aviões comerciais norte-americanos, o que levou ao fechamento do aeroporto internacional Toussaint Louverture, o principal do país, e à suspensão de voos por várias companhias. As Nações Unidas suspenderam temporariamente a entrega de ajuda humanitária devido à impossibilidade de acesso ao porto e ao aeroporto da capital, diante do grave agravamento da segurança.

Nos atos de celebração do 221º aniversário da Batalha de Vertières, que conduziu à independência do Haiti, Voltaire inaugurou esse campo das Forças Armadas, descrevendo-o como “um espaço emblemático” para a defesa nacional. “Os jovens haitianos aprenderão a servir ao seu país até o sacrifício, para que este país permaneça, para que sua dignidade seja preservada e para que a bandeira azul e vermelha continue tremulando”, afirmou.

A crise cortou cadeias de abastecimento fundamentais e deixou a cidade completamente isolada. Em Porto Príncipe, mais de 20 mil pessoas sofreram deslocamentos em apenas quatro dias, incluindo mais de 17 mil que estavam em 15 locais de refúgio, apesar do aumento da violência entre grupos criminosos.

“Um novo exército”

Em uma jornada que também comemorava o Dia das Forças Armadas Haitianas, destacou-se o desejo de construir um Exército “moderno” que ajude a recuperar o país e que, conforme pontuou Voltaire, “nos conduzirá à nossa segunda independência nacional”.

“Esse novo Exército, no qual estamos trabalhando e que o Haiti necessita imperiosamente nesta perigosa encruzilhada de sua história, deve ser fortalecido para desenvolver técnicas de guerrilha urbana e a capacidade de vigiar e defender as fronteiras marítimas, terrestres e aéreas do país”, assim como para responder de forma rápida e adequada a catástrofes naturais, afirmou Voltaire.

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Segundo o presidente interino do CPT, “o Haiti está mais decidido do que nunca a fortalecer suas instituições, seu Exército e sua Polícia para lutar com firmeza contra os coveiros de nossa pátria e seus partidários e cúmplices nacionais e estrangeiros”.

“A situação atual é como uma bomba social que pode explodir a qualquer momento e colocar em risco a existência do Estado se não agirmos com patriotismo, rapidez, determinação e, sobretudo, unidade (…). São tempos graves”, alertou Voltaire.

A bomba social segue ativada

A Organização Internacional para as Migrações (OIM) pediu um aumento urgente de recursos e apoio para as operações humanitárias no Haiti. O plano de resposta das Nações Unidas para novembro, estimado em 674 milhões de dólares, continua financiado em apenas 42%, deixando milhões de haitianos sem a ajuda de que tanto precisam.

A crise cortou cadeias de abastecimento fundamentais e deixou a cidade completamente isolada. Muitas dessas pessoas sofreram múltiplos deslocamentos e foram forçadas repetidamente a fugir da violência, abandonando o pouco que conseguiram reconstruir. Desde agosto de 2023, não se registrava um nível tão alto de deslocamento.

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A restrição do tráfego aéreo após o ataque a três aeronaves comerciais na área de Porto Príncipe limitou o acesso ao principal porto marítimo do país. Além disso, as rotas perigosas controladas por grupos armados deixaram a região metropolitana em um estado de quase total paralisia, intensificando o sofrimento da população, que já vivia em situação de vulnerabilidade.

As gangues criminosas da capital continuam crescendo, assumindo o controle de mais comunidades e isolando-as ainda mais. Muitas delas agora uniram forças e estabeleceram alianças para combater os esforços da Polícia Nacional, que enfrenta a escassez de recursos, trabalha sob pressão considerável e enfrenta grandes desafios para controlar a violência crescente.

Mais de quatro mil mortos

A violência associada aos conflitos entre gangues causou quase 4 mil mortes em 2024, segundo dados da entidade haitiana de Direitos Humanos. “O isolamento que afeta a capital, Porto Príncipe, está agravando uma situação humanitária que já era muito grave”, afirmou Grégoire Goodstein, chefe da missão da OIM no Haiti.

Entre julho e setembro deste ano, pelo menos 1.223 pessoas morreram e 522 ficaram feridas no Haiti devido à violência e à luta contra as gangues, segundo o Escritório Integrado das Nações Unidas no país caribenho (BINUH). Somam-se a isso as 3.900 vítimas, entre mortos e feridos, no primeiro semestre do ano, após 2023 ter encerrado com cerca de 8 mil vítimas.

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As opiniões expressas neste artigo não refletem, necessariamente, a opinião da Diálogos do Sul do Global.

Victoria Korn

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