Héctor Llaitul Carrillanca, um dos principais dirigentes da organização mapuche Coordenadoria Arauco Malleco (CAM), foi detido pela polícia chilena na tarde de quarta-feira (24), na cidade de Cañete, a 540 quilômetros a sudoeste de Santiago, em cumprimento de uma ordem do Ministério Público que o investiga por acusações de terrorismo.
A detenção de Llaitul foi emitida pela Promotoria Regional de Temuco e é sustentada por uma denúncia que data do ano de 2020, efetuada pelo governo do ex-presidente Sebastián Piñera, responsabilizando-o por delitos de atentado à autoridade, usurpação de terras e furto de madeira.
O líder da CAM foi detido quando se encontrava no interior de um restaurante. Testemunhas disseram que não ofereceu resistência aos agentes da Polícia de Investigações que entraram para detê-lo e levá-lo a um descampado, onde o subiram a um helicóptero que o levou ao aeroporto de Temuco, capital regional distante 130 quilômetros de Luma, e daí ao quartel policial.
Depois das 16 horas, a ministra do Interior, Izkia Siches, compareceu para dizer que a prisão corrobora que “em nosso país o Estado de direito funciona e que ninguém está acima da lei; os trabalhos do Ministério Público e das polícias renderam frutos e hoje está nas mãos do Poder Judiciário seguir com o processo em curso”.
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No fim da tarde, a CAM divulgou uma declaração na qual afirma que a detenção de Llaitul “é um ponto de inflexão para o movimento mapuche autonomista revolucionário que contrapõe vigorosamente a confrontação com este Estado colonial e sua política de integração forçada”. Pediu a outras organizações e comunidades mapuche para “começarem novos processos de recuperação contra o grande capital, através de um verdadeiro controle territorial”, e apelou à sabotagem contra a indústria florestal, hidrelétrica, mineira e salmoneira.
A prisão de Llaitul se parece à crônica de uma detenção anunciada. Possuidor de uma longuíssima trajetória impulsionando a autonomia territorial mapuche, nos últimos meses fez reiterados anúncios – que se cumpriram totalmente – de que a CAM incrementaria o boicote contra seu objetivo principal, as empresas florestais instaladas no Wallmapu – o país ancestral dos mapuche –, e que apurariam a ocupação de prédios explorados pelos mesmos.
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Além disso, foi divulgado um vídeo em que Llaitul reconhece que “a madeira que nós recuperamos é para ter recursos para gerar os insumos para reconstruir o mundo mapuche. E para ter os ferros, tiros e implementos necessários para defender as comunidades e os processos que são levados adiante”.
Essa afirmação fez com que o governo de Gabriel Boric, fortemente pressionado pela oposição direitista e por alguns aliados, ampliasse as denúncias penais existentes contra Llaitul.
Héctor Llaitul Carrillanca tem 25 anos de trajetória na luta em defesa do território Mapuche
A CAM é uma organização político/militar indigenista que se define como autonomista e anticapitalista. Tem 25 anos de trajetória, e se deu a conhecer em 1997 quando reivindicou a queima de três caminhões. Desde então, protagonizou centenas de ações que impulsionaram a politização do mundo mapuche em torno às suas origens culturais e territoriais, conseguindo viabilizar sua causa.
Pedro Cayuqueo, jornalista e escritor de ascendência mapuche, disse ao La Jornada que “isto vai ser lido como a continuidade das estratégias de repressão que, no caso mapuche, são de longa data.
“Governos de distintos signos ideológicos têm aplicado a mesma fórmula há duas décadas para tentar controlar o movimento reivindicativo mapuche. Essa estratégia repressiva tem significado violações aos direitos humanos, prisão política para centenas de militantes da causa mapuche, particularmente jovens, e alguns deles morreram vítimas da violência estatal. Essa será a leitura dos movimentos mais radicais”.
A respeito de uma saída negociada ao conflito (um diálogo político e diplomático de alto nível), Cayuqueo aponta que isso “não existe” no horizonte mapuche. Os sinais são de continuidade de políticos que descartaram sempre o diálogo como ferramenta de resolução pacífica de conflitos”.
O jornalista também observa que a conjuntura está cruzada pelo plebiscito constituinte de 4 de setembro, o que impediu Boric de “tomar maior protagonismo nos temas indígenas e tentar ser audaz”.
Cayuqueo diz ainda que “é de se esperar” que o presidente “tenha a capacidade e inteligência para apresentar um plano político de abordagem deste tema. A experiência diz que, para os conflitos indígenas relacionados com reivindicação de terra, cultura, língua, entidade e reparação de danos históricos, a melhor possibilidade de solução é um arranjo que passa por conversação e diplomacia, além do reconhecimento dos líderes e de suas organizações como interlocutores válidos”.
“Não pode ser só a perseguição penal a resposta diante de uma emergência indígena que está muito presente no Chile e que tem ampla experiência na América Latina, particularmente no México”, acrescenta Cayuqueo.
Aldo Anfossi | La Jornada
Tradução: Beatriz Cannabrava
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