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Entre a verdade e o oficial: EUA distorcem informações sobre operações militares

Durante coletivas de imprensa, jornalistas que contestam membros do governo sobre falta de provas tem seu patriotismo questionado
David Brooks
La Jornada
Nova York

Tradução:

“Todo governo mente”. Essas três palavras, afirmou o lendário jornalista I.F. Stone, são as únicas que todo repórter necessita saber. E todos sabem que a primeira vítima das guerras é a verdade. 

Em um intercâmbio fenomenal entre Matt Lee, veterano repórter da AP em Washington, e o porta-voz do Departamento de Estado, Ned Price, na quinta-feira passada, foi muito revelador.

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Price iniciou sua entrevista coletiva diária declarando que segundo informação de inteligência, a Rússia está contemplando produzir um vídeo de propaganda falsa para justificar a invasão da Ucrânia, entre outras “ações” de desinformação.

Lee lhe pergunta sobre que evidência têm estas “ações” russas já que uma declaração oficial não é mesmo que provas. Price lhe responde. “O que você gostaria, Matt?”. “Eu gostaria de ver alguma comprovação … de que os russos estão fazendo isto”, é a resposta. 

Daí em diante se esquentaram um pouco mais: Price diz ao jornalista que se recorde de que quando se desclassifica inteligência, se faz assim, e o jornalista lhe responde que “eu lembro de armas de destruição em massa no Iraque… e recordo que Cabul não ia cair, lembro de muitas coisas…” e insistiu… “pensar que você pode sair e dizer isso e esperar que lhe acreditemos sem que demonstre nem um pedaço de evidência de que é verdade… você só deu uma declaração… não há fatos”. 

Price responde que “lamento que você esteja duvidando da informação que está de posse do governo dos Estados Unidos”, e pouco depois concluiu: “se você duvida da credibilidade do governo dos Estados Unidos… e quer buscar consolo na informação que os russos estão difundindo…isso você pode fazer”.

Durante coletivas de imprensa, jornalistas que contestam membros do governo sobre falta de provas tem seu patriotismo questionado

The White House / Flickr
Funcionários se defendem ao questionar o patriotismo dos que se atrevem a questioná-los como jornalistas que cumprem seu trabalho

Estado Islâmico na Síria

Nesse mesmo dia, na entrevista coletiva a algumas quadras dali, a porta-voz da Casa Branca, Jen Psaki, ao se referir à missão militar estadunidense para assassinar um líder do Estado Islâmico na Síria, frustrou-se com os jornalistas que “são céticos da avaliação dos militares estadunidenses” e perguntou se é que pensam que o governo “não está dando informação precisa, e o Estado Islâmico sim, está dando informação precisa?” 

“A missão foi exitosa. Não houve baixas estadunidenses”, declarou o porta-voz do Pentágono, John Kirby, sobre essa mesma missão na qual, segundo a versão oficial, o líder do Estado Islâmico morreu ao fazer explodir uma bomba suicida junto à sua esposa e dois menores.

O porta-voz não mencionou que informações iniciais de equipes de resgate na zona falam pelo menos de 13 civis mortos, incluindo 6 crianças e quatro mulheres. 

Parece que os funcionários se defendem ao questionar o patriotismo dos que se atrevem a questioná-los como jornalistas que cumprem seu trabalho. 

Alguns recordaram que no final de agosto, um ataque estadunidense por drones em Cabul, nos dias da retirada militar estadunidense, foi qualificado pelo Pentágono como um grande sucesso que havia conseguido frear um atentado “terrorista”, mas depois de investigações intensas de jornalistas, esse mesmo incidente foi declarado pelo próprio alto mando militar como um “erro horrível” e se desculpou por haver matado 10 civis, entre eles sete crianças.

Depois de uma guerra que explodiu com informação fabricada, como a do Iraque, com o suposta evidência irrefutável da “inteligência” sobre a presença das famosas e inexistentes armas de destruição em massa, as mentiras oficiais sobre tortura e baixas civis, junto com todas as revelações de crimes das guerra no Iraque e no Afeganistão revelados por Wikileaks ao publicar informação oficial ocultada ao público (classificada, como dizem) – tudo isso só nos últimos 20 anos – sem incluir as grandes mentiras oficiais durante o Vietnã, as operações clandestinas contra vários países da América Latina, Oriente Médio, África, entre tantos mais, que os governantes continuem pensando que sua palavra é suficiente, ainda não entendem que existe memória e também alguns repórteres que estão certos que cumprir com seu trabalho implica questionar tudo o que é “oficial”.

Playing for Change.  All Along the Watchtower.

David Brooks, Correspondente de La Jornada en Nova York
Tradução: Beatriz Cannabrava


As opiniões expressas nesse artigo não refletem, necessariamente, a opinião da Diálogos do Sul

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David Brooks Correspondente do La Jornada nos EUA desde 1992, é autor de vários trabalhos acadêmicos e em 1988 fundou o Programa Diálogos México-EUA, que promoveu um intercâmbio bilateral entre setores sociais nacionais desses países sobre integração econômica. Foi também pesquisador sênior e membro fundador do Centro Latino-americano de Estudos Estratégicos (CLEE), na Cidade do México.

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