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ToggleNa selva geopolítica há, como em qualquer fauna, todo tipo de animal. Entre eles se destacam e mandam os leões: EUA, China e Rússia entre os principais. Depois, há jaguares, também muito fortes, mas menos que os leões: Japão, Alemanha, Inglaterra, França. Índia e outros são fortes, mas menos perigosos.
Nesse contexto eu localizo a política. Chamou a minha atenção que um católico decente como Joe Biden, em meses passados, partiu contra Putin, utilizando adjetivos realmente agressivos, quase insultantes, querendo arrastar a Europa.
O líder russo respondeu de forma mensurada com mais diplomacia e tato; uma lição. Depois, em uma cúpula de potências na Europa, eu os vi sorridentes, estreitando-se as mãos. Vivemos uma “guerra morna” entre esses leões.
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Joe Biden e Vladimir Putin em Geneva, em 16 de junho de 2021
As lições de Torrijos
O ex-presidente do Panamá Omar Torrijos (1968 a 1981), militar que não era doutor, nos legou umas lições que vale a pena refrescar.
Nesse zoológico humano nós somos simples coelhos. O general aprendeu as lições famosas do coelho das histórias em quadrinhos que brincava com os leões e tigres à base de pura astúcia.
Antes de sua obra máxima — os Novos Tratados — ele se pôs a brincar com o leão da Metro de diferentes maneiras, enquanto exigia os novos pactos e o fim do enclave no Canal do Panamá.
Uma forma — depois que Nixon nos enganara prometendo o enviado Lakas que chegou eufórico acreditando nele — foi visitar quase todos os mandatários continentais nessa primeira fase de “internacionalizar nossa causa”.
Mas incomodou ainda mais o leão: visitou o líder líbio Muammar al-Gaddafi, então apoiado por europeus como José María Aznar, mas tachado por Washington e, como se fosse pouco, foi a Cuba e se retratou com Fidel Castro e uma multidão. Após ver o árabe foi até o ex-Primeiro-ministro de Israel Menachem Begin e cearam sorridentes. Depois trouxe Josip Broz Tito, que Washington odiava.
Enfim, quando se puseram duros e fizeram manobras militares em nossas ribeiras, com tanques e armamentos, ordenou que três mil fardados nossos em poucas horas montassem a “Operação: Ai, que medo!” Provocação ao cubo. Mas, nos dizia: “podemos brincar com a corrente, mas não com o leão”.
Interesses panamenhos
Em outros sentidos, no cerro Punta, diante de agricultores disse certa vez: “Se eu lhes consigo uma semente de batata de Arkansas que pegue bem e renda por hectare, eu vou lhes trazer. Mas, se os campos russos nos mandam alguma que renda mais: por que não a aceitar? A mensagem era: “o melhor para os interesses panamenhos e ponto final; não é desse modo que jogam as potências?”
Estas linhas estão inspiradas hoje pela atitude do jovem presidente de El Salvador.
Nayib Bukele, após aceitar ser parte de uma ajuda milionária dos EUA, como parte do “triângulo norte” — onde habilmente se colou Costa Rica — aceitou um convite oficial da China e obteve bons dividendos.
Doações gigantescas
Uma dúzia de doações gigantescas não reembolsáveis: um novo estádio, moderno e com grande capacidade. Construção de uma nova Biblioteca Nacional, de vidro e vários pisos.
Uma usina nova que extrairá e tornará potável a água do lago Ilopango, em El Salvador, solucionando o déficit de água da capital.
O sistema de distribuição de água potável e saneamento de águas servidas no setor turístico das praias. O circuito de ruas de pedestres, calçadas, parques, beira-mar e cabeamento elétrico subterrâneo ao longo das praias turísticas.
A recuperação do Sítio Arqueológico “Joya de Cerén”. A restauração total do porto de La Libertad para ser um atrativo turístico internacional com restaurantes e lojas.
Além disso, uma dúzia de convênios em setores de agricultura, turismo, além de outros rubros. Coelho hábil e criativo que aceitou uma potente injeção intravenosa em crise pós pandêmica desse leão asiático, sem brigar com o da Metro.
Panamá “yes, sir”
Por aqui, continuamos recebendo delegados de Washington aos quais dizemos “Yes, Sir”, sem receber ajudas reais nem investimentos prometidos (a Boeing foi para a Costa Rica, da mesma forma que as sedes regionais do FMI e do BID) e igualmente farão outras grandes empresas, porque estamos freados.
Altos empresários estrangeiros nos disseram: “nos interessa o Panamá, mas cheira a corrupção, a burocracia complicada e a justiça manchada”. E o leão da Metro nos tem há três anos sem um simples embaixador. Fechamos o caminho aos chineses e ficamos sem nada. Nosso coelho não sabe de artimanhas…
Roberto Días Herrera, colaborador da Diálogos do Sul desde a Cidade do Panamá
Tradução: Beatriz Cannabrava
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