Pesquisar
Pesquisar

Biden lamenta tragédia na Faixa de Gaza sem reconhecer que Washington ajudou a financiar ação bélica do governo de Israel

O presidente reiterou a frase aparentemente obrigatória de que os “Estados Unidos apoiam plenamente o direito de Israel de defender-se”
David Brooks
La Jornada
Nova York

Tradução:

O presidente Joe Biden elogiou o anúncio de cessar-fogo anunciado na sexta-feira por Israel e Hamas e lamentou a perda de vidas no conflito de 11 dias sem reconhecer que Washington ajudou a financiar a ação bélica do governo de Israel e seu sua administração havia aprovado um venda de armamento a Tel Aviv justo antes do conflito que matou mais de 230 palestinos, incluindo 65 crianças, e 12 israelenses, entre esses dois menores. 

Biden declarou que “eu creio que os palestinos e os israelenses merecem viver seguramente e gozar da mesma liberdade, prosperidade e democracia”, mas reiterou a frase aparentemente obrigatória de que “Estados Unidos apoiam plenamente o direito de Israel de defender-se”. Não ofereceu uma declaração paralela para os palestinos. 

Lamento que “estas hostilidades tenham resultado nas mortes trágicas de tantos civis, incluindo crianças”, declarou da Casa Branca, onde não respondeu a perguntas de jornalistas. “Envio minhas condolências sinceras a todos as famílias, israelenses e palestinas, que perderam seres queridos, e minha esperança para uma recuperação plena dos feridos”.  

Não mencionou serem milhares de feridos e dezenas de milhares de deslocados pelo bombardeiro israelense, nem a extensa destruição de infraestrutura básica – incluindo sistemas de água, eletricidade, hospitais e escolas – em meio a uma pandemia na Palestina. 

Biden deu crédito ao Egito por seu papel impulsionador ao acordo pelo cessar-fogo e indicou haver falado com o primeiro-ministro Benjamin Netanyahu nesta quinta-feira – sua sexta chamada a sua contraparte israelense nos últimos 11 dias – a quem assegurou que os Estados Unidos irão repor o necessário para o sistema antimíssil Domo de Ferro de Israel.  

O presidente reiterou a frase aparentemente obrigatória de que os “Estados Unidos apoiam plenamente o direito de Israel de defender-se”

White House
O presidente Joe Biden elogiou o anúncio de cessar-fogo anunciado na sexta-feira por Israel e Hamas.

Ao mesmo tempo, afirmou que os Estados Unidos permanecem “comprometidos” em trabalhar com a Organização das Nações Unidas e outras entidades multilaterais para entregar assistência humanitária e promover o apoio de esforços de reconstrução de Gaza, mas sublinhou que isso será feito com as Autoridades Nacional Palestina e não com o Hamas.  

Embora o presidente tenha defendido sua “diplomacia implacável” para buscar frear as “hostilidades” durante os últimos 11 dias, estava sob cada vez mais pressão e crítica política dentro e fora do seu país, por não assumir uma posição mais firme diante de Israel e por descarrilar até quatro tentativas de formular resoluções no Conselho de Segurança da ONU exigindo a Israel um cessar-fogo imediato. 

Organizações de direitos humanos, políticos estadunidenses – incluindo organizações liberais judaicas – e na comunidade internacional criticaram Biden por não exigir um cessar-fogo imediato a Israel, o país mais beneficiado pela assistência exterior estadunidense nos últimos 70 anos, e que hoje em dia recebe do Washington 3,8 bilhões de dólares e assistência militar a cada ano.

Por certo, justo antes de Israel ter iniciado seu ataque, o governo de Biden havia aprovado a venda de um pacote de armamento militar de 735 milhões de dólares e enviou para aprovação pelo Congresso em 5 de maio; a liderança democrata e republicana a respaldaram, mas ao detonar-se o conflito sua existência nutriu as críticas. 

O senador Bernie Sanders, com legisladores da câmara baixa, incluindo as deputadas Alexandria Ocasio Cortez e Rashida Tlaib (a única legisladora palestina-estadunidense) deploraram essa venda e apresentaram resoluções em suas respectivas câmaras do Congresso para bloqueá-la, na quarta- e quinta-feira. “Em momentos em que bombas feitas nos Estados Unidos estão devastando Gaza, matando mulheres e crianças, não podemos simplesmente aprovar outra venda enorme de armas sem pelo menos um debate legislativo”, afirmou Sanders.

Por outro lado, a deputada federal Ilhan Omar, democrata da ala progressista de seu partido e de uma família de refugiados da Somália, denunciou que AIPAC, a organização mais poderosa do chamado lobby sionista, colocou publicidade no Facebook insinuando que ela é defensora do Hamas. O escritório da deputada exigiu que o Facebook cancele essa publicidade por nutris a desinformação e o ódio anti-muçulmano, e adverte que representa um perigo para a legisladora federal.  “Dado o número de ameaças de morte e violência que a legisladora tem recebido quase diariamente, isto não é só irresponsável – é incitação”, comentou uma porta-voz da deputada a The Nation.


As opiniões expressas nesse artigo não refletem, necessariamente, a opinião da Diálogos do Sul

Assista na Tv Diálogos do Sul

 

Se você chegou até aqui é porque valoriza o conteúdo jornalístico e de qualidade.

A Diálogos do Sul é herdeira virtual da Revista Cadernos do Terceiro Mundo. Como defensores deste legado, todos os nossos conteúdos se pautam pela mesma ética e qualidade de produção jornalística.

Você pode apoiar a revista Diálogos do Sul de diversas formas. Veja como:


As opiniões expressas neste artigo não refletem, necessariamente, a opinião da Diálogos do Sul do Global.

David Brooks Correspondente do La Jornada nos EUA desde 1992, é autor de vários trabalhos acadêmicos e em 1988 fundou o Programa Diálogos México-EUA, que promoveu um intercâmbio bilateral entre setores sociais nacionais desses países sobre integração econômica. Foi também pesquisador sênior e membro fundador do Centro Latino-americano de Estudos Estratégicos (CLEE), na Cidade do México.

LEIA tAMBÉM

Modelo falido polarização geopolítica e omissão de potências condenam G20 ao fracasso (2)
Modelo falido: polarização geopolítica e omissão de potências condenam G20 ao fracasso
Rússia Uso de minas antipessoais e mísseis Atacms é manobra dos EUA para prolongar conflito
Rússia: Uso de minas antipessoais e mísseis Atacms é manobra dos EUA para prolongar conflito
Após escalar conflito na Ucrânia com mísseis de longo alcance, EUA chamam Rússia de “irresponsável”
Após escalar conflito na Ucrânia com mísseis de longo alcance, EUA chamam Rússia de “irresponsável”
Misseis Atacms “Escalada desnecessária” na Ucrânia é uma armadilha do Governo Biden para Trump
Mísseis Atacms: “Escalada desnecessária” na Ucrânia é armadilha do Governo Biden para Trump