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ToggleOs Estados Unidos declararam guerra contra o México em 13 de maio de 1846. Foi sua primeira incursão militar em outro país, sob a acusação de que os mexicanos haviam se atrevido a enfrentar militares estadunidenses, com políticos e meios qualificando os mexicanos como “imbecis” e “criminosos”.
O que não se conta sobre essa guerra é a oposição dentro dos Estados Unidos e entre as tropas à aventura imperial. Essa história vincula as lutas de afro-estadunidenses, latinos e outros contra a histórico racismo sistêmico dentro desde país até hoje, assim como o debate sobre a relação bilateral.
Desde que chegou à presidência, em março de 1845, James Polk — um escravocrata — havia preparado a justificativa de uma guerra com o México, com a finalidade de anexar o Texas e a Califórnia, mas faltava um pretexto.
Este apareceu quando uma patrulha de tropas estadunidenses foi enviada, em abril de 1846, ao território mexicano entre o Rio Nueces e o Rio Bravo e, diante disso, forças mexicanas responderam causando baixas estadunidenses.
Ao receber as notícias do enfrentamento, Polk solicitou ao Congresso uma declaração de guerra, afirmando que o México “invadiu nosso território e derramou sangue estadunidense sobre terra estadunidense”. Em 13 de maio, o Congresso aprovou de maneira esmagadora a declaração de guerra.
A possibilidade de uma guerra com o México já havia sido contemplada desde que o Texas havia se declarado independente, em 1836, com um objetivo evidente, nas palavras do líder dessa rebelião Stephen Austin (cujo nome é a da capital desse estado): “O Texas tem que ser um país com escravos”. O México havia abolido essa prática em 1829.
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Batalha de Cerro Gordo, abril de 1847
O futuro imperial do país estava no centro do debate político entre as cúpulas dos Estados Unidos ao abordar o tema de anexar o Texas, recorda o historiador Greg Grandin em seu livro O fim do mito.
Em 1836, o ex-presidente e então deputado, John Quincy Adams, em um discurso contra uma eventual guerra contra o México pelo Texas, increpou o então presidente da câmara, o mesmo James Polk: “Não é verdade que o senhor, um anglo-saxão, dono de escravos e exterminador de indígenas, odeia o mexicano-espanhol-indígena, emancipador de escravos e abolicionista de escravos?”. E advertiu que, em uma guerra contra o México, “as bandeiras da liberdade serão as bandeiras do México e as bandeiras do senhor, eu fico corado de dizer a palavra, serão as bandeiras da escravidão”.
Polk chegou à presidência em março de 1845 afirmando que o anexo pendente do Texas tornaria “segura” a fronteira e levaria à “paz perpétua”. Pouco mais de um ano depois, declarou a guerra ao México que o general Ulysses S. Grand qualificaria depois como “uma das guerras mais injustas jamais realizadas por uma nação mais forte contra uma mais débil”.
E uma das guerras mais brutais, com violações de mulheres, assassinatos de civis e táticas de terror, incluindo a destruição de igrejas e até panteões por forças estadunidenses encabeçadas por Zachary Taylor, futuro presidente dos Estados Unidos.
Enquanto isso, os meios da cúpula e vários políticos nutriam o apoio à guerra ao qualificar os mexicanos em termos racistas como “degenerados”, “bárbaros” e “imbecis” que seriam derrotados facilmente.
Dissidentes
Entre as vozes que se opunham à guerra destaca-se a do grande intelectual, líder abolicionista e ex-escravo Frederick Douglass que a qualificou como “uma guerra contra a liberdade, contra o negro e contra os interesses dos homens trabalhadores deste país e um meio para estender a maior maldição, a escravidão dos negros”.
Durante a guerra, em 1848, um editorial no jornal editado por Douglass, North Star não apenas aborda o tema da escravidão na guerra, mas o de classe, assinala o historiador Howard Zinn. Nesse editorial, se critica o consenso das cúpulas pela guerra “desgraçada, cruel e desigual contra nossa república irmã” e lamenta que “o México parece ser uma vítima condenada à cobiça e ao amor de domínio dos anglo-saxões”.
O editorial condena também que “os gemidos de homens massacrados, gritos de mulheres violadas e o pranto de crianças órfãs não deveriam provocar piedade de nosso coração nacional, mas servir como a música para inspirar nossos galantes soldados a realizar atos de crueldade, cobiça e sangue…” Conclui com uma exortação: “que a imprensa, o púlpito, a igreja, as pessoas em geral se unam de imediato… clamando pela retirada instantânea de nossas forças do México. Esta poderia não nos salvar, mas é nossa única esperança”.
Zinn conta que também houve motins de soldados contra seus oficiais, com mais de 9 mil desertores. Mas os mais famosos entre estes, por sua rebelião contra a guerra, foram imigrantes irlandeses enviados como carne de canhão à guerra e que se somaram à resistência contra a invasão no Batalhão de São Patrício.
Estes dissidentes distribuíram panfletos convocando imigrantes — alemães, franceses e irlandeses católicos — a se somarem à causa, afirmando que “a nação americana realiza uma guerra muito injusta contra os mexicanos e tomou todos vocês como instrumentos” desse esforço, e instou a que se recusassem estar nas filas “daqueles que proclamam a escravidão como um princípio constitutivo da humanidade”.
Outra voz distinguida na oposição foi a de Henry David Thoreau, que foi encarcerado em julho de 1846 por não pagar seus impostos porque se negava a financiar a guerra “imoral” contra o México. Herman Melville, entre outros também se pronunciaram contra a guerra. Abraham Lincoln, congressista novato, também se opôs, mas afinal de contas seu partido aprovou financiar a guerra.
Suas vozes seguem vigentes 175 anos depois nos grandes debates atuais sobre o racismo sistêmico nos Estados Unidos, a imigração e a relação bilateral México-Estados Unidos.
Tradução: Beatriz Cannabrava
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