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Livre, Lula muda o panorama político brasileiro e pode pôr em xeque imperialismo dos EUA

É preciso dizer para o Comando Sul não interferir no processo eleitoral e mandar seus subordinados de volta aos quartéis. Essa é a questão crucial!
Paulo Cannabrava Filho
Diálogos do Sul Global
São Paulo (SP)

Tradução:

Vale a pena comentar alguns dos muitos aspectos e reações suscitadas pelo discurso do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva. Seu pronunciamento, seguido de entrevista coletiva, foi paradigmático e ficará na história. Vai ter um antes e um depois de Lula.

Quem me conhece sabe que não sou petista e menos ainda lulista por isso, pode estranhar eu estar promovendo Lula. Votei nele em eleições passadas, por opção única. Tenho minhas reservas sobre o seu papel no cenário político desde os anos 1970. Mas isso não vem ao caso. Sou marxista-leninista desde criancinha e isso me impõe análise fria das conjunturas.

O mundo mudou. Lula mudou e eu também mudei. É a lei inexorável da natureza. Vejam, até a Globo teve que mudar.

Por que a Globo mudou?

Chamo aqui a atenção de vocês para um fato escancaradamente evidente, mas pouco observado. A CNN cobriu integralmente as sessões da Suprema Corte e cobriu integralmente o discurso e a coletiva oferecida pelo ex-presidente Lula. A Globo jamais faria isso. 

A rede dos Marinho tem alto nível profissional em vários aspectos, mas politicamente é cavernaria. Vai pro lixo da história por tudo o que patrocinou e gerou de dano para o país. 

Qual é da CNN? Ela é um instrumento do imperialismo. Veio para ajudar a dominação do império. E o que eles têm de sobra é profissionalismo e o saber utilizar os meios. Ela não vai mudar uma linha de seus editoriais, seus comentaristas continuarão a ser furibundos anti-petistas, anti-lulistas, neoliberais e entreguistas. Contudo, ao cobrir a coletiva de Lula, por exemplo, ela está conquistando esse espaço para seu proselitismo principal: a submissão ao império.

É uma concorrente poderosa, está em toda parte do mundo, tem uma audiência global que a Globo nunca vai ter. Tem credibilidade. Após a CNN ter mostrado não era mais possível a Globo esconder.

Efeito Lula

Outro aspecto bastante risível: nas fotos da última reunião do governo, todos aparecem de máscaras para anunciar a compra de vacinas. Não tem como escapar da piada pronta. O efeito Lula fez o Bolsonaro colocar máscara.

E, de fato, o cenário para a coletiva no Sindicato dos Metalúrgicos estava bem montado. Perfeito no que tange ao simbolismo. Ali Lula nasceu para a política, dali foi levado para o cárcere de Curitiba e dali renasceu para o embate político. 

Tem um aspecto do ser humano, principalmente em situação de desespero, que é o apelo ao pai, à mãe, a Deus, seja lá o protetor que for. É natural e os machos oligarcas e burgueses se aproveitaram disso para gerar o patriarcalismo, o machismo e outras formas de dominação. A verdade é que a natureza se impõe e todo líder tem algo de pai. Mao Tsé-TungHo Chi MinhFidel Castro foram paizões.

Depois de tantas mortes, negações, ameaças com armas, síndromes dos golpes, a nação órfã esta ansiosa por um pai, um guia, um mestre que lhe mostre o caminho. Na terça-feira (09) eu citei que até Fernando Henrique Cardoso admitiu que o que falta é um guia, alguém que indique o caminho.

Leia também: Cannabrava | Decisão de Fachin que anulou processos contra Lula acaba com Lava Jato?

Pois bem. Lula se comportou como um pai. Pai generoso que perdoa e aponta caminho. Perfeito. É tudo que esse provo precisava nessa hora de tanto tormento. Uma palavra tranquilizadora, uma esperança. 

Lula mostrou que está preparado, não há dúvida. Falou à nação aquilo que devia ser a voz cotidiana do governo. Difícil alguém escapar à comparação. 

Era isso que estava faltando: protagonismo. Sair da defensiva e assumir a vanguarda, proativa, assertiva. É um recado claro para as esquerdas. Assumir, tirar a bunda da cadeira e assumir o papel patagônico de organizar e educar as massas. Levar a verdade ao povo, francamente, colocar as coisas no lugar.

É preciso dizer para o Comando Sul não interferir no processo eleitoral e mandar seus subordinados de volta aos quartéis. Essa é a questão crucial!

Ricardo Stuckert
Lula durante entrevista coletiva após anulação das condenações da Lava Jato.

Frente ampla ou de esquerda

Lula sabe que uma frente de esquerda não leva à derrota do governo militar de ocupação. A figura de Bolsonaro é eleitoralmente forte. É necessário, portanto, uma frente ampla. 

A frente de esquerda, claro, desde já tem que se organizar e, uma vez a frente ampla no poder, ou seja, uma vez restaurada a democracia, a frente de esquerda haverá de se fortalecer, cimentar suas raízes populares e provocar avanços, mudar a direção.

Militares no governo

A turma de pijama está alvoroçada. São os militares retirados, em suas associações, que durante a campanha de 2018 diziam que se Lula ganhasse haveria golpe. Não precisou golpe porque não deixaram Lula sequer concorrer.

O general Luiz Eduardo Rocha Paiva, ex-comandante da Escola de Comando de Estado-Maior do Exército e o general Eduardo José Barbosa, presidente do clube de reservista, manifestaram sua inconformidade. 

“Lugar de ladão é na cadeia… foi uma bofetada na cara da nação arremessar a Operação Lava Jato na lata de lixo”, vaticinam, revelando o pensamento básico da categoria. Para eles, Lula é uma criatura deplorável. 

Estranho isso. Realmente difícil entender. 

Leia também: A situação é de guerra: urge mobilizar toda a nação para enfrentar o inimigo comum

Lula, respondendo às perguntas dos jornalistas, esclareceu que, desde a democratização, iniciada no governo Sarney, seu governo foi o único que reconheceu e prestigiou os militares, dando aumento de soldo, renovando equipamentos que estavam sucateados, dando condições para a Embraer produzir aviões e foguetes para a FAB, comprando caças, abrindo estaleiros e ofertando um submarino atômico para a Marinha.

A questão militar está sem ser sequer estudada pelas lideranças políticas. Houve um distanciamento difícil de trabalhar. A animosidade de ambas as partes dificulta o entendimento. Mas é preciso trabalhar para superar isso, colocar as forças armadas para cumprirem seu papel constitucional de guardiões da soberania.

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Eu recomendaria a Lula ir para os Estados Unidos, descer em Nova York. Será uma festa. O New York Times já escreveu que Lula é o futuro para o país. É uma voz dos democratas muito importante. Em seguida, desembarcar em Washington. Tenho certeza de que, mesmo sem marcar audiência, o presidente Joe Biden o receberá.

Ter uma conversa séria com o governo estadunidense. Quer sobre o respeito aos direitos humanos e a proteção à floresta amazônica, quer sobre democracia. É preciso dizer para o Comando Sul não interferir no processo eleitoral e mandar seus subordinados de volta aos quartéis. Essa é a questão crucial! Temos um governo militar de ocupação subordinado ao comando sul dos Estados Unidos.


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As opiniões expressas neste artigo não refletem, necessariamente, a opinião da Diálogos do Sul do Global.

Paulo Cannabrava Filho Iniciou a carreira como repórter no jornal O Tempo, em 1957. Quatro anos depois, integrou a primeira equipe de correspondentes da Agência Prensa Latina. Hoje dirige a revista eletrônica Diálogos do Sul, inspirada no projeto Cadernos do Terceiro Mundo.

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