A história dos Estados Unidos, como todas, não se pode entender sem contar as rebeliões. Essa história é sujeita a incessantes tentativas de apagá-la, purificá-la, domá-la – até proclamar feriados oficiais a líderes rebeldes e erigir monumentos que ocultam mais do que revelam – e mantê-la meio sequestrada para que não vá inspirar as novas gerações.
Todos os dias se batalha pela história real e completa do país e cada movimento contemporâneo tem que se dedicar a resgatar seus antecessores. Essa história rebelde é ainda menos conhecida fora deste país, e sem ele é fácil reduzir a visão sobre o que acontece nos Estados Unidos a uma versão de estereótipos demasiado centrada em Washington, Hollywood e Disneylândia.
A luta contra a amnésia histórica não é tão simples, já que não é resultado de censura explícita e além do mais existe vasto material, com alguns aportes excepcionais, gerados por Hollywood e pela televisão (comprovando que uma parte da esquerda estadunidense pode ser encontrada nesse mundo entre roteiristas e diretores). Essa história é apresentada de maneira fragmentada em museus e na academia, como em bibliotecas e por inumeráveis projetos literários. Ainda assim, essa história de rebeliões é capturada e apresentada de tal maneira que não vá provocar, pois, rebelião.
A gente pode visitar os monumentos a Martin Luther King e festejar seu dia oficial, da mesma forma que há avenidas chamadas Cesar Chavez na Califórnia, ver filmes sobre Malcolm X e John Reed, e alguns clássicos baseados nos livros de Steinbeck e mais recentes como a do Julgamento dos 7 de Chicago, como todo tipo de expressões e exposições sobre líderes da luta feminista e LGBTQIA+ – muito menos –, de lutas operárias, ambientalistas, e ainda poucas sobre lutas indígenas. Vale recordar que historiadores rebeldes como Howard Zinn dedicaram sua vida a resgatar a “outra história” deste país, junto com Mike Davis, Eric Foner, Greg Grandin entre outros, junto com jornalistas que fazem presente a história como Studs Terkel e Bill Moyers, e existe um magnífico mosaico de projetos de educação popular como os impulsionados pelo Highlander Center em Tennessee que tornam viva e ressuscitam a história rebelde do país, junto com outros projetos.
HealthNews
A história dos Estados Unidos, como todas, não se pode entender sem contar as rebeliões.
Novos movimentos estão resgatando seus antecessores e fazendo-os presente hoje em dia. A Campanha dos Pobres explicitamente reinicia a última luta do reverendo King na qual ele fundiu as demandas por direitos civis com as de justiça econômica e direitos dos trabalhadores (algo que quase nunca se menciona nos festejos oficiais de sua vida).
A luta indígena Apache em defesa de sua terra sagrada no Arizona contra empresas mineradoras transnacionais, com a dos povos Sioux e outros contra os gasodutos no norte do país; a luta atual para sindicalizar um mega armazém da Amazon no Alabama, cujo dono é o multimilionário mais rico do planeta, a luta de anos para elevar o salário mínimo a 15 dólares impulsionada por trabalhadores de comida rápida e agora em debate no Congresso, as lutas que foram a chave para derrotar o projeto neofascista nas eleições federais, sobretudo as impulsionadas por coalisões e alianças extraordinárias e sem precedentes entre movimentos afro-estadunidenses, latinos e indígenas, como as incessantes lutas pelos direitos dos imigrantes – que usam consignas de lutas anteriores aqui como as das lutas de seu povos de origem – todas são acompanhadas pelo ecos da história de rebeliões nos Estados Unidos.
Mas o resgate da história dos povos é parte do resgate de seu futuro. “Quem controla o passado, controla o futuro. E quem controla o presente, controla o passado”, disse George Orwell. Por isso, nos ecos da história de rebelião que se manifestam hoje, estão as chave do futuro desse país.
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