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Qual a política de Biden para América Latina? Se engana quem acha que virão dias fáceis

Passado comprova que compromissos do futuro presidente estão atrelados às piores alas do imperialismo e que belicismo será marcante em seu governo
André Galindo da Costa
Diálogos do Sul Global
São Paulo (SP)

Tradução:

A vitória de Joe Biden como presidente dos Estados Unidos foi recebida com comemoração por diversos setores da esquerda brasileira. A nocividade de Biden pode ser questionada a partir de vários aspectos. 

Uma análise mais apurada de seu passado comprova que seus compromissos estão atrelados às piores alas do imperialismo estadunidense e que o belicismo deverá ser um elemento marcante de seu governo.

Desse modo, a política externa de Biden para a América Latina e para o mundo não deverá ser nem um pouco agradável.

A candidatura de Biden contou com uma verdadeira manipulação de cobertura. Sua vice-presidente, Kamala Harris, foi bastante utilizada por ser mulher e afrodescendente e o importante intelectual de esquerda Noam Chomsky chegou a afirmar que Biden era um mal menor. 

Imperialistas humanitários

No entanto, Biden esconde em sua biografia mais envolvimentos com guerras do que se pode imaginar. Ele pertence à ala do imperialismo estadunidense conhecida como “imperialistas humanitários”. 

Esse setor tem como membros de maior destaque figuras como Hillary Clinton, Barack Obama e Bill Gates. Os imperialistas humanitários apresentam-se como defensores de pautas raciais, ambientais e de gênero. 

Porém, possuem compromissos com o expansionismo estrangeiro estadunidense por meio de revoluções coloridas, golpes de estado e guerras quentes. 

Passado comprova que compromissos do futuro presidente estão atrelados às piores alas do imperialismo e que belicismo será marcante em seu governo

Montagem Diálogos do Sul
Diálogos do Sul inicia nesta quarta-feira (18) uma série sobre as perspectivas de um governo Joe Biden para a América Latina

Para piorar, Biden recebeu amplo apoio nas eleições de diversos representantes da ala imperialista de neoconservadores (neocons), como Colin Powell e a família Bush. Essa ampla aliança entre esses dois setores forma o que hoje fica conhecido como Partido da Guerra.

Senhor das guerras

Biden foi apresentado como representante das minorias e valores democráticos. Porém, como vice-presidente de Barack Obama por oito anos (2009 – 2017), esteve imbricado com guerras, golpes de Estado e as políticas imperialistas. 

No Senado, Biden era considerado o maior especialista em relações internacionais e presidiu a Comissão de Relações Exteriores do Senado três vezes, entre 2001 e 2009, exercendo importante papel nas invasões do Afeganistão e Iraque. 

Após o 11 de Setembro, Biden ajudou a redigir o decreto de vigilância e restrição de direitos civis conhecido como USA Patriot Act.

No governo Bush, os republicanos estiveram envolvidos com o “Projeto para o Novo Século Americano”, think tank que defende que os Estados Unidos exerceram uma hegemonia política, econômica e cultural no mundo ao longo do século 20 e que essa condição deve se estender ao século 21. 

A “Operação Liberdade do Iraque”, em 2003, foi considerada a primeira ação para a supremacia estadunidense no século 21. Barack Obama, derrubando as expectativas da esquerda, não apenas deu continuidade a essa doutrina, como também a aprofundou. 

Biden, como seu vice, foi uma figura muito importante para a política externa bélica de Obama, que contou com a kill list e sete ataques aéreos ou invasões: Afeganistão, Iêmen, Iraque, Líbia, Paquistão, Síria e Somália. 

Além das guerras quentes, no governo de Barack Obama aconteceram diversas ações clandestinas, em uma verdadeira guerra híbrida. Foram realizadas operações psicológicas, revoluções coloridas e interceptações telefônicas contra chefes de Estado. 

Nos anos Obama, foram arquitetados golpes de Estado em países da América Latina: Honduras (2009), Paraguai (2012) e Brasil (2016). Houve também uma tentativa sistêmica de golpe contra a Venezuela no período.

Cabe destacar que o responsável pela política para a América Latina na época foi Joe Biden que, inclusive, telefonou para Lula quando do anúncio da descoberta do pré-sal para tentar coagi-lo a destinar o petróleo a companhias estadunidenses.

Gabinete

Participam da organização do futuro gabinete de Biden tanto membros do Partido Democrata como do Partido Republicano. O que essas pessoas têm em comum? Todos tiveram participação importante nas principais guerras que os Estados Unidos realizaram nos últimos 30 anos.

Entre eles, estão os neocons Bill Kristol e Robert Kagan e o imperialista humanitário Tony Blinken. Wesley Clark, comandante das forças da OTAN na Guerra do Kosovo, foi um dos maiores entusiastas do governo Biden. 

Com isso tudo, parece que o que marcará o governo Biden será o retorno dos Estados Unidos às guerras pelo mundo. Os lugares preferenciais para as investidas do imperialismo deverão ser: Líbano, Síria, Iraque, Irã, Iêmen, Bielorrússia, Rússia, China e Venezuela. 

Além de guerras quentes, deverá se intensificar as agendas de golpes de Estado pelo mundo. Diferente do que parte da esquerda brasileira acreditou, o governo Biden não deverá ser tão humanitário e pacífico.

* André Galindo da Costa é doutor em  Ciências pelo Programa de Integração da América Latina PROLAM, da Universidade de São Paulo (USP).


As opiniões expressas nesse artigo não refletem, necessariamente, a opinião da Diálogos do Sul

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