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Movimento indepentista de Porto Rico perde forças pela anexação aos Estados Unidos

Se agora haverá discussão no Congresso norte-americano será pelo abrupto crescimento eleitoral independentista, não por este diluído plebiscito
Nils Castro
Diálogos do Sul Global
São Paulo (SP)

Tradução:

Especula-se sobre o valor do plebiscito segundo o qual em 3 de novembro, junto com as eleições norte-americanas, o povo de Porto Rico haveria votado por sua anexação aos Estados Unidos. Pelo contrário, nesse dia os porto-riquenhos voltaram a demonstrar que o status colonial da Ilha está em crise. 

Na realidade, nessa data votou-se para eleger governador, assim como senadores e deputados ao Congresso local. A isto, o governo anexionista local agregou um chamado plebiscito perguntando se os eleitores desejam ou não ser um estado, ou seja, anexar-se. Um evento cosmético, já que o Congresso norte-americano – o órgão facultado para decidir sobre a situação de Porto Rico – não o considerou vinculante. 

O substantivo do dia foi a eleição de autoridades e legisladores, e seus resultados fazem transparecer o verdadeiro estado de coisas. O tradicional bipartidarismo porto-riquense está afundando. O anexionista Partido Novo Popular (PNP) pode eleger por poucos votos o novo governador Pierluisi, e o Partido Popular Democrático -o do regime do Estado Livre Associado – conseguiu ter uma maioria de um em ambas as câmaras. Mas os dois tiveram suas piores votações (o ganhador obteve 20% menos sufrágios que na eleição anterior), ante a ascensão dos independentistas. 

Após décadas de enfrentamento, de perseguições políticas, clientelismo oficial e imposições coloniais, o Partido Independentista Portorriquenho (PIP) saltou de sua tradicional 5% aos 14%. Junto a ele, dois novos partidos afins, somaram outros 20%. Em total, um inédito 34% de votação independentista. Como se sabe, na Ilha a legislação colonialista proíbe aliar-se aos partidos com registro, sob pena de perder o registro, o que impede às organizações afins compartilhar candidaturas. 

Se agora haverá discussão no Congresso norte-americano será pelo abrupto crescimento eleitoral independentista, não por este diluído plebiscito

Agência Brasil
Porto-riquenhos voltaram a demonstrar que o status colonial da Ilha está em crise.

Quanto ao plebiscito, que desta vez teve um papel marginal, a votação não foi por ser um estado, mas contra o Estado Livre Associado (ELA) sua única alternativa. Só se confirma que o ELA já está esgotado, sistema político da inoperância, da corrupção e da crise. Antes oferecia a ficção de uma alternativa “branda”, sem a vergonha da anexação nem os imponderáveis da independência, à qual por décadas lhe tirou eleitores. 

O que aconteceu destapa duas coisas que agora pesarão: uma, que a transformação em estado ganhou por uma margem exígua; demasiado pobre para justificar uma discussão em Washington ou ser considerado algo de peso em Porto Rico. Se agora haverá discussão no Congresso norte-americano será pelo abrupto crescimento eleitoral independentista, não por este diluído plebiscito.

A outra, que o PIP teve a maior votação de sua história e reelegeu seus senadores e deputados. Seus líderes históricos estão mais que satisfeitos, particularmente pelo bom desempenho de seus principais relevos, Juan Dalmau, novo secretário geral e senador reeleito -que foi seu candidato a governador – e María de Lourdes Santiago, vice-presidenta do partido e também senadora reeleita.

*Analista político e escritor panamenho. Colaborador de Diálogos do Sul


As opiniões expressas neste artigo não refletem, necessariamente, a opinião da Diálogos do Sul do Global.

Nils Castro Fundador do Partido Democrático Revolucionário, fundado para dar prosseguimento ao torrijismo, ou seja, a obra de libertação nacional. Foi embaixador de Panamá no México e representou o governo em múltiplas oportunidades. É colaborador da Diálogos do Sul Global.

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