O triunfo nas eleições presidenciais dos Estados Unidos do candidato democrata, Joe Biden, é – para o Kremlin– uma péssima notícia, mas na realidade não pior do que Donald Trump permanecer outros quatro anos como inquilino da Casa Branca, já improvável possibilidade que só o candidato derrotado republicano acredita que vai se tornar realidade quando as instâncias legais concluam que houve fraude como argumenta em seu desespero por conservar o poder.
Porque além da suposta química que, segundo alguns meios, há entre o presidente Vladimir Putin e seu ainda colega estadunidense, o certo é que Trump – aparte de dar piscadas ao seu homólogo russo e de dizer que seria bom melhorar relações com Moscou – nunca teve a intenção de conseguir o “grande pacto” com a Rússia que insinuou ao assumir a presidência dos Estados Unidos.
Putin, distanciado dos outros mandatários do G-7 de países mais poderosos do mundo, deixou correr a versão jornalística de que a simpatia era recíproca, embora logo tenha compreendido que o “pacto” que tinha em mente Trump era inaceitável, pois em essência buscava tudo para os Estados Unidos e para a Rússia, nada.
A relação bilateral entre Rússia e EUA se deteriorou nos quatro anos Trump como não havia sucedido desde a chamada Guerra Fria, quando Moscou e Washington estiveram à beira de uma hecatombe nuclear, em 1962, durante a crise dos mísseis em Cuba.
O presidente número 46 dos Estados Unidos, como a partir de 20 de janeiro seguinte será proclamado Biden, herda de Trump uma grossa pasta de problemas com a Rússia, cujo mais recente episódio de enfrentamento são as manobras estadunidenses para impedir que se termine de construir o gasoduto russo Fluxo do Norte-2.
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Tudo indica que Biden promoverá novas sanções, sobretudo no âmbito financeiro, que manterão a pressão de Washington sobre Moscou.
Tudo indica que Biden –que considera que a Rússia é “a maior ameaça para a segurança dos Estados Unidos”, e o voltou a afirmar em uma entrevista de televisão em outubro – promoverá novas sanções, sobretudo no âmbito financeiro, que manterão a pressão de Washington sobre Moscou, uma constante desde que Putin despacha no Kremlin, a quem desde o senado ou a vice-presidência dos EUA, em tempos de Barack Obama, tem dedicado comentários pouco gratos que não sentaram bem em Moscou.
Nas duas décadas de governo de Putin, Biden tem desempenhado um papel relevante nas iniciativas contra a Rússia, desde suas duras críticas em 2001 como presidente do comitê de relações exteriores do Senado pela situação das minorias étnicas após o colapso da União Soviética e, em particular, a guerra de Chechênia, até as sanções contra cidadãos e empresas russas promovidas ou respaldadas pelo partido democrata, sobretudo depois da anexação da Criméia em 2014.
Embora Biden tenha visitado pela primeira vez a União Soviética em 1973, seis anos depois encabeçou a delegação senatorial que veio a Moscou sondar a disposição soviética de subscrever o Tratado Salt-II ( de limitação de armamento estratégico), que nesse mesmo ano firmaram em Viena o líder soviético, Leonid Brezhnev, e o presidente dos EUA, Jimmy Carter.
Por ironia do destino, quarenta anos mais tarde, apenas duas semanas depois de instalar-se na Casa Branca, Biden terá que decidir o que fazer com o START-III, um dos últimos Tratados de redução de armamento nuclear ainda vigente e que vence em 5 de fevereiro próximo, toda vez que Moscou rechaçou o ultimato apresentado pela Administração Trump para negociar sua prorrogação em condições que qualifica de inadmissíveis.
As opiniões expressas nesse artigo não refletem, necessariamente, a opinião da Diálogos do Sul
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