Corrupto, traficante de influências, mentiras sobre enganos sobre falsidades, incompetente, neofascista, xenofóbico, o que deu a ordem para separar famílias imigrantes à força e enjaular crianças imigrantes, violador e assediador sexual, recusador da ciência, racista, inimigo da imprensa, repressor e macartista, anti-mexicano e construtor de muros, gangster e valentão, delinquente de suas obrigações fiscais e de serviço militar, são só algumas das palavras que todos tivemos que reportar de maneira objetiva e com ampla evidência uma e outra vez ao longo dos últimos quatro anos.
Concluirá seu primeiro prazo na Casa Branca com mais de 220 mil estadunidenses falecidos (dado atual) – mais de quatro vezes os mortos no Vietnã – em grande medida por seu manejo da pandemia e com uma perda neta de empregos (uns 3,9 milhões e seguimos contando) entre outros desastres e como um presidente que foi “impeached”.
“Donald Trump não pode resolver os problemas mais urgente da nação porque ele é o problema mais urgente da nação”, declara a junta editorial do New York Times, a qual adverte que a reeleição de Trump “representa a maior ameaça à democracia estadunidense desde a Segunda Guerra Mundial”.
Associated Press
O futuro do experimento estadunidense está em jogo nesta eleição.
Mas apesar de tudo isso também temos de reportar que, quatro anos depois, este sujeito goza de mais de 40% de aprovação nas pesquisas. O que fazer com isso?
Ao mesmo tempo, o senador socialista democrático Bernie Sanders, como candidato presidencial este ano foi o político nacional mais popular do país, e sua candidatura foi uma grave ameaça à cúpula do Partido Democrata, que se dedicou a descarrilá-la. Mas ele e seus milhões de seguidores são expressões de algo novo que continua – vale recordar que hoje em dia segundo as pesquisas, uma maioria dos jovens dos Estados Unidos favorecem o socialismo e que 40% de todos os estadunidenses expressaram preferir viver em país socialista sobre um capitalista. O que fazer com isso?
De fato, Trump declarou na semana passada que a eleição é uma decisão “entre um pesadelo socialista e o sonho americano”, embora para “socialistas como Sanders, essa eleição é “entre Trump e a democracia”.
Talvez a notícia mais importante desta conjuntura política não seja a contenda entre Trump e seu opositor democrata Joe Biden e a pugna entre republicanos e democratas que impera nos meios, mas sim o surgimento de um massivo embora fragmentado movimento social conformado por diversas correntes que de repente se encontram nas ruas e no ciberespaço que incluem – às vezes juntos, às vezes por separado – a ampla coalisão sob a etiqueta de Black Lives Matter (sua parte mais politicamente dinâmica é o Movement for Black Lives, uma rede de 150 organizações) e seus aliados multirraciais e intergeracionais, junto com velhas e novas expressões latinas, professores rebeldes, enfermeiras heroicas, comissárias de bordo que elegeram uma socialista como sua líder nacional, imigrantes que salvam e reconstroem este país todos os dias, ambientalistas sobretudo os jovens que amanheceram com Greta, estudantes contra a violência das armas, sem falar dos diversos movimentos encabeçados por mulheres e pela comunidade gay que, em seu conjunto, está sacudindo este país e que oferece a promessa de consolidar-se em um grande movimento progressista que se requer para resgatar este pais de si mesmo.
Dizem que o futuro do experimento estadunidense está em jogo nesta eleição. Por ora, há uma grande batalha entre defender os mecanismos já deteriorados da eleição, com uma multitude de iniciativas, coalisões e redes preparando-se – tardiamente – para defender a expressão da vontade popular, porque nem isso está garantido nesta crise democrática.
Mas aqui, mais que uma eleição, este é um momento de decisão sobre e entre o futuro e o passado dos Estados Unidos, com implicações planetárias.
As opiniões expressas nesse artigo não refletem, necessariamente, a opinião da Diálogos do Sul
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