Há quase 4.000 anos A.C. o povo Sumério da Mesopotâmia inventou a escrita e é possível imaginar que os escribas ensinariam sua arte executando desenho por desenho e pronunciando seu som correspondente. Ou seja, cada sinal (grafema) com seu som (fonema).
Resulta natural acreditar que é mais fácil aprender letra por letra, assim o ensino se inicia com as vogais, que vão se unindo a consoantes para formar sílabas e depois palavras.
Este modo de ensinar a ler a escrever se chama Método Grafo-fônico ou Fonético, e está baseado na suposição que é mais fácil aprender da parte ao todo. Segundo a psicologia moderna, esta é uma maneira mecânica de aprender, porque a memória ativa das crianças ainda está em desenvolvimento e começar lendo uma letra ou uma sílaba dificulta a aprendizagem, em vez de facilitá-la.
Instituto Alfa e Beto
Alguns teóricos opinam que não se deve culpar a visão nem a audição pelos problemas com a leitura.
Faz tempo que os psicólogos descobriram que os seres humanos percebem totalidades ou conjuntos, que são de fácil assimilação e ajudam a comparação, a diferenciação e a análise, ou seja, a reflexão, que é a atividade cognitiva fundamental. Se uma criança olha uma página onde aparece uma flor, verá desde o primeiro momento a flor como uma totalidade. O cérebro não funciona percebendo primeiro uma pétala, depois outra, até juntá-las e por fim reconhecer a flor.
Ofereço minha experiência com uma síntese do Método Global:
Na primeira fase se conversa com as crianças sobre seus gostos, jogos, família; ensinam-se canções, poemas; relatam-se contos sobre animais, fadas e assuntos cotidianos. O ensino da leitura e da escrita através do Método Global valoriza a experiência adquirida durante os primeiros anos de vida. Além disso, dá grande importância à expressão oral, porque a criança que não fala bem terá dificuldade para aprender a ler.
Alguns teóricos opinam que não se deve culpar a visão nem a audição pelos problemas com a leitura, pois sua origem está nas capacidades cognitivas e principalmente nas competências linguísticas adquiridas em casa.
Na segunda fase, se poderia desenvolver uma aula assim: se pede às crianças que tragam uma foto da mamãe e a mostrem; diante da pergunta “quem é esta?”, o aludido dirá “minha mãe”. Se pedirá que a mostre aos seus companheiros e diga “Esta é minha mãe”. Se continuará fazendo perguntas sobre o tema até que entre todos elaborem três ou quatro orações curtas. Esta técnica se baseia em um argumento psicológico: se aprende melhor quando o tema nos interessa, porque a criança poderá encontrar ou criar significado, enquanto o que não tiver significado será difícil de aprender.
Na terceira fase, a professora escreve na lousa o “Cartaz de leitura” com as frases elaboradas na fase oral. Esta é minha mãe, Minha mãe é bonita e Eu amo minha mãe. Serão lidas repetidamente na lâmina que a professora terá preparado, e pouco a pouco irão reconhecendo as palavras individuais. Se continuará com a cópia das frases do cartaz, assim começa a escrita, que requer boa visão e coordenação motora. Mais adiante, quando a dominem, serão feitos ditados para avaliar a aprendizagem. Esta fase se baseia no pressuposto aprender do todo à parte.
Graças ao desenvolvimento da linguagem, surgiram no ser humano novos fenômenos tão fundamentais como a reflexão e a consciência. As palavras não são coisas mas sim atividades cerebrais que denotam objetos reais ou imaginários, estados de ânimo, sentimentos etc.
A acepção última da palavras ler, é compreender. Ler de maneira compreensiva facilitará o aproveitamento escolar posterior; eis aí a grande importância de um bom ensino da leitura e da escrita.
Senhora ministra: me preocupa que os resultados da prova Pisa tenham empurrado o Ministério da Educação ao uso do muito antigo Método Fonético, há muito tempo superado por diversas opções pedagógicas.
*Doutora em Educação e Mediação Pedagógica
Colaboradora de Diálogos do Sul da Cidade do Panamá
As opiniões expressas nesse artigo não refletem, necessariamente, a opinião da Diálogos do Sul
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